Desde outubro de 2015, Joanir Ricardo Wildner, 43 anos, se dedica à criação de coelhos com a finalidade comercial, mais especificamente voltada ao abate. Em Vila Arroio Bonito, no interior de Mato Leitão, ele tem um galpão com capacidade para abrigar 120 matrizes em fase de reprodução e 1,4 mil animais destinados à engorda. Hoje, no entanto, o plantel é formado por 180 coelhos.
Entretanto, essa atividade faz parte da vida de Wildner há mais de uma década. Isso porque, durante o período em que o mato-leitoense viveu em Manaus, também investiu no segmento por quase sete anos. Na capital do Amazonas, o foco era a criação de coelhos de 14 raças voltados ao mercado pet.
“Lá eu tive três galpões e cheguei a ter cinco mil animais”, relata. Além da comercialização dos coelhos, na região Norte do país, ele tinha parcerias com uma universidade federal e outra estadual e com um colégio agrícola com foco pedagógico.
Para Wildner, a cunicultura é uma atividade rentável, desde que haja o mínimo de organização do setor. “Isso significa dizer que é necessário fazer um bom plano de negócio, no qual vai se prospectar toda a cadeia, a começar pela venda da carne e seus subprodutos”, comenta.
Ele comercializava lotes, que variavam entre 280 e 350 animais, para um frigorífico de Lajeado, no Vale do Taquari. No entanto, no fim do ano passado, o estabelecimento encerrou as atividades e o cunicultor precisou encontrar uma alternativa para seguir com a criação. Como solução temporária para essa situação, ele passou a vender, em menor quantidade, coelhos para criadores da região serrana do estado, que, de lá, encaminham os animais para frigoríficos.
Até agora, o morador de Mato Leitão já enviou três lotes que tinham de 60 a 70 coelhos cada. A expectativa de Wildner é que até o fim do ano seja possível encontrar frigoríficos autorizados a fazer o abate na região e, assim, retomar as vendas diretas para esses locais. “A criação de coelhos é uma atividade de risco por ainda não existir uma organização. Ela demanda muito interesse e dedicação”, ressalta.
Aperfeiçoamento da criação de coelhos
Atualmente, além de vender animais para criadores da Serra como forma de manter o negócio, Wildner, que é graduado em Administração e pós-graduado em Gestão de Pessoas, tem se preparado para quando acontecer o retorno da venda de animais para frigoríficos. Isso tem sido feito por meio de investimentos em melhoramento genético, com o objetivo buscar um animal com características como a precocidade – atingir o peso ideal de abate no menor tempo -, prolificidade – boas mães e ninhadas grandes, que variam entre sete e nove filhotes -, boa conversão, que é a relação entre o alimento consumido e o ganho de peso, e a busca por uma carcaça carnuda, mesmo com pouca idade.
Ele também tem buscado encontrar uma ração adequada, que supra as necessidades alimentares dos animais. “Uma das maiores dificuldades da criação de coelho é a alimentação. Com a falta de grãos e o aumento dos preços, a matéria-prima usada nas rações de coelho perdeu muito em qualidade”, avalia.
A consolidação desse alimento é importante, principalmente, porque a ração é a base da dieta dos coelhos, e o complemento é feito com feno de azevém, o azevém, o rami e a alfafa. “O ideal é encontrar uma ração de qualidade, para que a alimentação tenha apenas 20% de complementação com verdes”, acrescenta Wildner.
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Durante o dia, Joanir Ricardo Wildner trabalha como gerente industrial. À noite, diariamente, ele se dedica, entre uma hora e uma hora meia, aos cuidados com os coelhos, que são feitos apenas por ele. Esse tempo é destinado à alimentação e inspeção dos animais. “Meu hobby é ler e pesquisar sobre a criação de coelhos”, comenta.
De acordo com ele, o alimento é oferecido aos coelhos uma vez ao dia, à noite, mas o ideal seria dividir esse volume em três refeições diárias. Wildner ainda explica que existem três pilares essenciais para a criação de coelhos. São eles: fator genético, alimentação e manejo, que envolve o conhecimento e o cuidado com os animais.
Ele ainda menciona que a água é um dos principais vetores de transmissão de doenças para os coelhos. Por isso, é essencial que ela tenha qualidade. Além disso, para evitar a transmissão de doença, uma vez por semana, o criador de coelhos faz a esterilização das gaiolas com uma ‘vassoura de fogo’ (equipamento que, ligado a um botijão de gás, funciona como maçarico).
Ainda, segundo o cunicultor, é importante evitar que os coelhos se sintam estressados, porque isso prejudica a qualidade do plantel, impedindo o desenvolvimento deles. Um ponto importante nesse sentido é evitar que outras espécies de animais entrem no galpão onde eles são criados.
As raças que integram o plantel do criador de coelhos são Nova Zelândia, Chinchila, Califórnia – esses três com peso que pode chegar de seis a sete quilos – e o Gigante de Flanders, animal que pesa, normalmente, entre seis e sete quilos.
Consumo da carne de coelho
De acordo com o cunicultor, o Rio Grande do Sul tem o maior plantel de coelhos do Brasil. No estado, a Serra é o principal mercado consumidor desse tipo de carne. “A gastronomia italiana tem muita demanda de carne de coelho”, comenta. Além disso, ele compartilha que grande parte da produção comercializada para essa região é destinada às festas comunitárias que oferecem o menarosto, uma técnica trazida pelos imigrantes italianos ao país para assar carnes sem ter contato direto com as chamas e a fumaça, fazendo uso de um rolete de espetos que gira lentamente.
A carne de coelho é considerada uma das mais saudáveis pelo alto nível de proteína, fácil digestibilidade, baixo teor de colesterol e gordura, além de ser rica em cálcio e muito saborosa. O consumo dela tem aumentado nos últimos anos. “Estima-se que ele seja de 15% ao ano, em nível nacional”, observa Wildner.
Números
- 40 é o número de matrizes que o criador Joanir Ricardo Wildner tem em seu plantel atualmente.
- De 7 a 9 é o número de filhotes que normalmente as fêmeas têm por gestação.
- 90 a 100 dias é o tempo de vida que o coelho precisa ter para ser encaminhado para o abate.
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