As temperaturas mais amenas e a cerração ao amanhecer já anunciam que o inverno está se aprochegando. Junto com ele, ou até mesmo no outono, inicia a safra do pinhão, a semente da araucária que é encontrada na região da serra de Venâncio Aires ou em reboleiras onde as plantas se adaptaram com o passar dos anos.
No Rio Grande do Sul, a colheita e comercialização do pinhão foi autorizada no último dia 15, por meio de uma portaria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Apesar de no estado a safra projetada ser maior em comparação à do ano passado – influenciada pelas condições climáticas favoráveis no período de desenvolvimento do pinhão e a alternância de produção característica da espécie -, em Venâncio Aires a expectativa ainda é com o ano seguinte.
25 hectares
é a área de araucárias em Venâncio Aires, segundo estimativa da Emater/RS-Ascar.
Segundo o chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin, na Capital Nacional do Chimarrão a última supersafra ocorreu em 2017, quando ultrapassou 17 toneladas de pinhão. “Depois tivemos dois anos de chuva na época de polinização e a seca. Esse ano está intermediário, a seca deixou grandes sequelas. Um ano de seca, leva até três anos para recuperar. Apesar de outras regiões terem uma alta na produção, aqui vamos ter entre 10 e 12 toneladas de pinhão apenas”, calcula.
Na propriedade
Quem percebe a redução no pinhão é a agricultora Lourdes Becker Schlindwein, 54 anos. Na propriedade em Linha Duvidosa, na entrada do arroio Macuco, nesta safra houve uma grande queda no pinhão. “Ano passado, nessa época, eu enchia aqueles baldes de cinco litros. Nesta safra, nessa semana que achei um pouquinho”, frisa.
42 produtores
é a estimativa de famílias que cultivam de 15 a 2,5 mil quilos de pinhão por safra em Venâncio Aires, de acordo com o clima.
Ela e o marido, Nelson Canisio Schlindwein, 58 anos, preservam cerca de dois hectares com a araucária e aproximadamente 500 árvores de todas as faixas etárias – destas, 100 que estão em fase de produção. “É mato fechado, é muita árvore, a gente até se perde na contagem, são valores aproximados”, reforça a produtora.
“A gente herdou as terras da família do Canisio, mas lembro que minha sogra sempre dizia que em ano de seca a gente só teria safra cheia de pinhão em três anos de novo. E aqui é o que está acontecendo. Esse ano tem poucas pinhas, não vai ter muito pinhão”, completa.
A família não comercializa o pinhão, mas distribui entre vizinhos, amigos e familiares. No ano passado, Lourdes recorda que chegaram a distribuir cerca de 50 quilos. “O nosso objetivo não é vender, até porque esse ano não tem nem pra gente direito”, ressalta.
A torcida da agricultora é de um ano com chuvas normais, dessa forma, ano que vem as araucárias já estarão produzindo mais. “Aqui a gente colheu a primeira bacia de pinhão na quinta-feira, dia 22. Geralmente vai até fim de maio”, cita. “Mas já deu para fazer aquele fogo no fogão a lenha e matar a vontade de comer pinhão na chapa”, comemora Lourdes.
A colheita do pinhão é manual e se concentra no período que vai de abril a junho, podendo haver alguma oferta até meados de setembro, proveniente das variedades tardias.
Curiosidades sobre o pinhão
- Conforme o engenheiro agrônomo da Emater, Vicente Fin, o município não tem uma área plantada, mas possui propriedades com araucárias de todas as idades e outras com pés isolados. Hoje, são 25 hectares cultivados, mas a tendência é de que esse número aumente ao longo dos anos.
- Neste ano, Venâncio Aires deve colher cerca de 10 a 12 toneladas de pinhão, segundo estimativa da Emater. No ano passado a colheita ficou em 9 toneladas.
- No Rio Grande do Sul são cerca de seis tipos de variedades de araucárias. Em Venâncio, Fin cita que são encontradas geralmente três: angustifolia, caiova e alba. A família de Linha Duvidosa tem duas.
- Uma árvore nativa leva cerca de 15 anos até produzir pinhão. A planta masculina produz somente o pólen e a planta feminina é que produz o pinhão. “Em 200 metros de raio, uma planta masculina consegue polinizar as fêmeas”, diz.
- Fin aconselha que o pinhão seja colhido quando ocorre a debulha natural, para dar oportunidade para a fauna.
“A cada ano o pinhão terá mais valorização. Nosso município tem um grande potencial turístico com o pinhão. Temos algumas reboleiras maiores que seria um bom ponto para projetarmos uma tenda, quando falamos de rota turística.”
VICENTE FIN
Chefe do escritório local da EMATER-RS/ASCAR
Leia mais: Safra de pinhão é afetada pela estiagem