Municípios da microrregião atentos à infestação da cigarrinha no milho

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Por Rosana Wessling e Taís Fortes 

Talvez um dos assuntos mais presentes nas rodas de conversas entre os agricultores é o enfezamento do milho com a cigarrinha. Um inseto com cerca de meio centímetro de comprimento vem causando ‘dor de cabeça’ para os produtores de Venâncio Aires, Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde, afinal a cigarrinha (Dalbulus maidis) está sugando a seiva do milho e transmitindo uma doença que prejudica a produtividade da lavoura.

A infestação da cigarrinha preocupa produtores de todo o Brasil e, conforme a Embrapa, ela é um inseto de cor branco-palha, que se alimenta da seiva da planta de milho e realiza postura sob a epiderme da folha, preferencialmente na nervura central de folhas do cartucho da plântula. A infecção com molicutes ocorre na plântula de milho em estágios iniciais de desenvolvimento. A cigarrinha sobrevive apenas no milho e, habitualmente, migra de lavouras com plantas adultas para lavouras com plântulas recém-emergidas. O ciclo da espécie está completo em 27 dias, mas a longevidade média chega a 45 dias.

Cigarrinha em folha de milho (Foto: Rosana Wessling/Folha do Mate)

No interior de Venâncio Aires, em Vila Teresinha, o chefe do escritório local da Emater-RS/Ascar, Vicente Fin, explicou, na prática, em uma das lavouras infestadas, a atuação da cigarrinha e como se deve combatê-la. Ele aconselha que o produtor precisa se certificar com técnicos da área para tentar identificar variedades mais resistentes. “Precisamos ter uma atenção redobrada, pois a cigarrinha voa de uma área para outra e, dessa forma, teremos ampliação e disseminação de prejuízos da praga”, frisa.

O engenheiro agrônomo comenta que o maior dano do inseto ocorre quando ele ataca a planta ainda pequena. “Nós temos a cigarrinha, ela sempre existiu, mas ela pode ou não estar contaminada. Uma vez que ela pica plantas novas, se ela está contaminada, vai contaminar a lavoura. E os sintomas são espigas brancas ou incompletas. Além de folhas avermelhadas ou amareladas, principalmente nas pontas e nas bordas. A cigarrinha sempre existiu, mas ela não estava transmitindo o enfezamento, essa doença sim nos preocupa. Quando o produtor percebe já é tarde”, esclarece.

Fusarium

Fin alerta que o produtor precisa estar atento para não confundir a atuação da cigarrinha com o Fusarium. “O Fusarium é um fungo que infecta o caule do milho, a planta tomba. O fungo está no solo e posteriormente ataca o grão.” A dica do engenheiro agrônomo é eliminar a plantas voluntárias, que surgem após a colheita do milho. “As espécies de Fusarium sobrevivem nos restos da cultura do milho, no solo.”

Para o chefe do escritório da Emater, a rotação de cultura elimina o Fusarium e uma grande aliada é a cobertura de solo. Já a cigarrinha também está presente em outras gramíneas, como sorgo, cana doce, milheto. “A gente precisa interromper isso, fazer um vazio sanitário. Precisamos fazer o manejo integrado de pragas. As dicas são: não deixar surgir a planta voluntária, fazer uma cobertura de solo e alternar o ciclo de culturas.

Passo do Sobrado

O agricultor Silvio Haas, 47 anos, morador de Potreiro Grande, em Passo do Sobrado, terá um prejuízo de quase 100% nos dois hectares do milho. Ele estima que irá colher apenas 30 sacos do grão, e o normal seria 180. “A espiga parece de pipoca, de tão pequena. É uma lavoura perdida”, lamenta.

Ele plantou o milho no dia 13 de janeiro, e quando a planta estava com cerca de 1,5 metro de altura que perceberam a infestação da cigarrinha. “Teve um dia que eu sacudi um pé e saiu uma nuvem branca de cigarrinha. Ela atacou cedo, dai já era tarde, não tinha mais o que fazer”, salienta o produtor de Passo do Sobrado. Haas relata que mais vizinhos tiveram prejuízos. “Ela atacou pastagem e praticamente as lavouras de milho tudo na volta, de tanto que tinha dava para ver a olho nu” comenta.

Agricultor de Passo do Sobrado conta que as espigas ficaram pequenas e o prejuízo será grande (Foto: Arquivo pessoal)

“O grande problema é a falta de rotação de culturas. Precisamos evitar cultura sobre cultura. Milho sobre milho. Por exemplo, se na safra plantou milho, ano que vem planta soja na safra, para evitar a disseminação do fungo.”

VICENTE FIN – Chefe do escritório da Emater de Venâncio Aire

Doença da cigarrinha

Os sintomas de enfezamento aparecem na fase reprodutiva das plantas de milho. Entre eles, são comuns as manchas cloróticas avermelhadas e/ou pálidas, a presença de estrias nas folhas, redução de entrenós, espigamento múltiplo, redução do volume radicular. Também pode haver emissão de brotos nas axilas, falha de formação das espigas e má granação.

Vale Verde

O secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Emir Rosa da Silva, cita que em Vale Verde vários produtores já perceberam prejuízos nas lavouras de milho com a presença da cigarrinha. “Temos lavouras com prejuízos beirando os 35% de perda. São várias lavouras afetadas”, diz.

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Produtor de Mato Leitão projeta perda de 60% em uma das lavouras por causa da cigarrinha

O jovem Mateus Henrique Dias, 19 anos, é um dos produtores de Mato Leitão que já percebe os prejuízos causados pela cigarrinha, tanto na espiga quanto no pé de milho. O morador do Acesso 20 de Março planta milho em três áreas localizadas na Cidade das Orquídeas, com foco para a venda do grão.

Em uma delas, que tem extensão de 3,3 hectares, ele estima que terá uma perda de 60% na produção. No local, ele fará a colheita do milho dentro de 14 dias e relata que conseguirá ainda fazer a venda do grão. Em outra área, de 2,5 hectares, ele vai adiantar a colheita para o próximo fim de semana, e usará o milho para fazer silagem.

Essa é uma alternativa para não ter tanto prejuízo e conseguir aproveitar a planta. “Se não fosse pela cigarrinha eu venderia o grão. Vou colher uma semana antes do ponto da silagem, para garantir que não tenha tanta perda”, relata. Nessa lavoura, a estimativa é que se tenha uma quebra de 20%. Em valores, somando as áreas de terra, Dias estima que terá um prejuízo de R$ 20 a R$ 25 mil.

Cigarrinha em Mato Leitão
Mateus Dias lamenta o prejuízo que terá na colheita por causa da ação das cigarrinhas (Foto: Taís Fortes/Folha do Mate)

“Íamos colher muito bem, cerca de 180 sacas por hectare. Agora, não sabemos mais quanto vai ser. Se conseguirmos 80 por hectare temos que agradecer”, lamenta, ao observar que o preço pago pelo grão também está muito bom. Na terceira área de terra, com extensão de um hectare, o pé de milho está em fase de floração, e segundo o jovem já é possível perceber a atuação do inseto. Por isso, essa lavoura também será usada para fazer silagem.

Nos cinco anos que trabalha com o cultivo de milho, essa foi a primeira vez que o morador do Acesso 20 de Março teve problemas com a cigarrinha. Além do plantio do grão, a principal fonte de renda do jovem é a prestação de serviços agrícolas para produtores de Mato Leitão e de municípios próximos. Na próxima semana, a Emater vai iniciar um levantamento nas propriedades da Cidade das Orquídeas que estejam enfrentando problemas com o inseto.

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