Há exatos 34 anos, durante uma conferência sobre saúde mental, o movimento que já vinha pedindo uma sociedade sem manicômios ganhou sua devida importância e destaque. Foi em 18 de maio de 1987, que foi estabelecido o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.
Mas, mesmo institucionalizado, a prática do serviço de saúde mental aplicada no tratamento de muitas pessoas, ainda demorou para ganhar a forma que tem hoje. Foi com a criação dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), há quase 20 anos, que a atenção a pacientes com transtornos mentais sofreu uma ‘revolução’ e a ideia de internação foi trocada pela tentativa de inserção social e de garantias ao serviço básico à saúde.
Por aqui, as mudanças começaram em 1995, com o Centro de Atenção em Saúde Mental (Casm), junto ao posto de saúde Santa Tecla. Na época, Venâncio Aires foi pioneira na região na área de saúde mental e, em 2002, o Casm virou o Caps.
Desde então, milhares de pessoas já receberam atendimento no Caps II, localizado próximo ao posto de saúde Central, e atende moradores de Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde. Entre os usuários, José*, 61 anos. Ele vai diariamente ao Caps nos últimos três anos, mas, antes disso, ficou cerca de oito internado em Cachoeira do Sul. É de lá que vem as memórias mais tristes, de tempos que ficou sozinho, sem sair e sem receber visitas. “É muito bom aqui. Hoje posso dizer que tem uma estabilidade para viver melhor”, definiu.
José sofre de ansiedade e depressão e, no Caps, além de garantir que tenha a correta administração de medicamentos, fez amigos e até ajuda em algumas tarefas. “Tenho problema de saúde, não posso trabalhar, mas aqui me sinto útil.”
Grupo
José é um dos usuários intensivos e passa o dia no Caps. As idas continuaram regulares, mesmo durante a pandemia. Ele integra uma pequena turma (são cerca de seis pessoas), que formou um grupo mais do que especial, chamado ‘Para além da imaginação’. Eles se encontram todas as quartas-feiras à tarde e fazem atividades variadas de arte e trabalham os conceitos de cidadania, fortalecimento de vínculos e reabilitação social.
“Em casa eles se sentem muito incapacitados, querem se sentir úteis. Então interagir com outros pacientes e com os profissionais ajuda muito na melhora do quadro, porque os tira do isolamento social e também fortalece vínculos e a autonomia. Inclusive vamos pintar uma parede da recepção daqui uns dias, eles vão me ajudar”, destacou Letícia Wilges, estagiária de Psicologia e que coordena o grupo.
O trabalho de pinturas e desenhos criado pelos usuários será exposto em frente ao Caps, nesta quarta-feira, 19, entre 14h e 15h.
350 – é a média de atendimentos mensais no Caps II
Atendimentos
Segundo a coordenadora do Caps II, enfermeira Josimara Eisermann, os atendimentos diários têm o objetivo de acompanhar clinicamente os pacientes, acolhê-los e escutá-los. “O intuito é promover a inserção social de pessoas com transtornos mentais e evitar internações. Dando suporte à saúde, também se fortalecem os vínculos familiares e comunitários.”
*O nome foi alterado para preservar a identidade.