Desenvolvimento rural esbarra na precariedade da eletrificação

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Algumas localidades do interior de Venâncio Aires sofrem com a precaridade da eletrificação rural e colecionam inúmeros prejuízos com a queda de energia que acaba afetando máquinas e eletrodomésticos. Na Travessa Kist, em Linha Estância São José, a família Posselt vive um dilema quando o assunto é utilizar energia elétrica.

Astério Posselt, 49 anos, a esposa Marli, 45 anos e o filho Diogo Gabriel, 19 anos, precisam se programar diariamente para tomar banho, utilizar o forno elétrico ou algum outro equipamento que precisa ser ligado na energia elétrica. Esse problema piora na colheita do tabaco, quando a família utiliza um forno elétrico para a secagem das folhas. “Quando estamos secando fumo preciso desligar o forno para tomarmos banho, daí a gente se organiza e depois vou lá e ligo ele de novo. Mesma coisa é quando a esposa vai fazer pão, se ligar o forninho, ela já avisa e a gente não pode ligar mais nada na casa ou no galpão”, detalha Posselt.

A família mora há 20 anos na localidade e percebe que o problema foi se agravando. “A luz é muito fraca, tem muita queda, tem dias que precisamos desligar o freezer e a geladeira para não queimar”, conta Marli. Em 2014, a família foi na estatal RGE e realizou um projeto para aumentar a capacidade de energia da rede. “Eu precisava desembolsar R$ 47 mil na época, achei pesado, um investimento muito alto para o pequeno produtor”, argumenta Posselt.

Após inúmeras tentativas de conseguir realizar a ampliação, veio o desânimo. “Me falaram que a gente não pode ter tanta coisa [equipamentos ligados à energia elétrica]. Mas me diz uma coisa: como vamos ficar no campo se não podemos ter um moedor de pasto, uma estufa elétrica? A gente precisa se modernizar”, enfatiza o produtor de tabaco.

A família construiu um galpão para ‘abrigar’ duas estufas elétricas, mas mal consegue operar uma. “Nosso filho decidiu ficar no campo, isso é raro, difícil. Se a gente não modernizar a propriedade e dar o mínimo do que a tecnologia já oferece, ele fica para trás e vai pra cidade. Mas como vamos ampliar se nem energia elétrica para isso a gente consegue?”, indaga Posselt.

O agricultor comenta que a empresa de tabaco ofereceu um incentivo para a ampliação de mais uma estufa elétrica, a fim de diminuir mão de obra e melhorar a qualidade de vida. “O sonho do filho é ter mais uma, mas precisamos ter os pés no chão, não tem energia elétrica para isso. Por enquanto, precisamos usar a estufa convencional.”

Além disso, Posselt salienta que o problema não é somente da família. “Meu vizinho tem produção de leite, tem dias que ele precisa usar o gerador se vai usar outro equipamento para tocar o resfriador e não perder o produto. Tem gente que quer ampliar, modernizar, mas não vai conseguir usar as máquinas”, lamenta.

“Aqui em casa é tudo bem regrado, a gente cuida para não perder os equipamentos e eletrodomésticos. Mas para ligar um motor de 2 CV para moer o pasto precisa desligar tudo, se não queimam as coisas ligadas.”

ASTÉRIO POSSELT – Produtor Rural

Na pauta do Poder Público

Segundo o prefeito Jarbas da Rosa, o Poder Público já tem o conhecimento de vários pontos da área rural que enfrentam os problemas relacionados à eletrificação. “Muitos são históricos, de décadas. Outros foram surgindo com o avanço da modernidade no campo”, explica.

Jarbas comenta que a administração elaborou um Plano Municipal de Eletrificação Rural que visa estabelecer uma parceria entre município, RGE e produtor para ampliar a rede ou instalar a trifásica. “Nosso ponto de partida será nas agroindústrias e comunidades com problemas maiores. Mas, conforme a demanda, estamos fazendo levantamentos e os encaminhamentos necessários”, detalha.

Legislativo

A Frente Parlamentar de Desenvolvimento Rural do Município de Venâncio Aires também trata sobre a energia rural, entre os assuntos. Conforme um dos integrantes do grupo, o vereador André Kaufmann, a meta é trabalhar com a concessionária de energia elétrica o melhoramento da energia no interior e o aumento de potência. “Nosso trabalho é intermediar essa questão entre produtor e concessionária. Nosso objetivo é diminuir esse tempo de espera que muitas vezes ultrapassa os seis meses”, pontua.

Schuch cria projeto que responsabiliza empresas de energia por prejuízos no interior

O deputado federal Heitor Schuch (PSB/RS) apresentou, no fim de maio, um projeto de lei para que as empresas de distribuição de energia elétrica sejam responsabilizadas por prejuízos à produção agropecuária ocasionados por falta de energia, em razão da precariedade da infraestrutura das redes. Segundo o parlamentar, as condições das redes de fornecimento de energia no meio rural onde atuam empresas públicas ou que foram privatizadas são precárias, sem manutenção adequada, e geram falta de eletricidade de forma frequente em inúmeras propriedades rurais. Para Schuch, as empresas públicas/privadas deveriam seguir o exemplo das cooperativas de eletrificação do Rio Grande do Sul, que possuem excelente infraestrutura de distribuição.

Além da ausência de reparos nas redes, a proposta prevê multa e ressarcimento ao consumidor no caso de perdas financeiras provocadas também pelo fornecimento com potência abaixo da quantidade contratada pelo usuário e pela demora no restabelecimento dos serviços em prazo superior a 12h, quando não houver fornecimento em razão de fatores climáticos. A indenização será calculada sobre o valor do dano acrescido de mais 10%. “No RS, especialmente nas áreas rurais, as redes de eletrificação estão em situação precária, sem manutenção e revisão de potência no fornecimento, o que vem ocasionando prejuízos a diversos órgãos produtivos, principalmente para a agricultura familiar, que não tem condições de cobrir os danos provocados pela falta de energia fruto do descaso”, critica o parlamentar. O projeto segue tramitando e, por enquanto, não há previsão de votação.

Investimentos da RGE

Conforme a assessoria de imprensa da RGE, em 2020, a empresa investiu R$ 7.2 milhões em Venâncio Aires, na substituição de 1091 postes de madeira por concreto, 17,9  quilômetros de rede construída ou reformada, instalação de oito religadores telecomandados, chegando ao total de 44 equipamentos.

Sobre as solicitações de troca para o sistema trifásico, a assessoria explicou que os pedidos partem do solicitante para a RGE, que faz uma análise de caso a caso, levando em consideração a legislação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que exige que o local tenha a demanda de mais de 25.000 w ou que tenha um motor trifásico em uso na propriedade. Após a análise da documentação inicial, uma equipe da RGE vai a campo analisar as informações e a estrutura da região. Posteriormente, a RGE encaminha um documento informando ao solicitante qual o montante do investimento, conforme enquadramento na resolução da Aneel, para que a instalação possa ser concretizada. Portanto, o cliente interessado deve entrar em contato com a empresa, para que seja analisado e encaminhado para os setores competentes.

Projeto de lei

O deputado federal Heitor Schuch (PSB/RS) apresentou, no fim de maio, um projeto de lei para que as empresas de distribuição de energia elétrica sejam responsabilizadas por prejuízos à produção agropecuária ocasionados por falta de energia, em razão da precariedade da infraestrutura das redes.

A proposta também prevê multa e ressarcimento ao consumidor no caso de perdas financeiras provocadas pelo fornecimento com potência abaixo da quantidade contratada pelo usuário e pela demora no restabelecimento dos serviços em prazo superior a 12 horas, quando não houver fornecimento em razão de fatores climáticos. A indenização será calculada sobre o valor do dano acrescido de mais 10%.

Falta de luz após temporal

Além da falta de capacidade da rede de energia elétrica, a falta de energia é comum, no interior, após temporais. É o que aconteceu nesta semana, após o temporal registrado na noite de sábado, 5. Moradores de diversos distritos ficaram sem energia por vários dias, até que a RGE conseguisse resolver o problema. A reportagem contatou a assessoria de imprensa da RGE, mas ela não respondeu os questionamentos sobre o que tem sido feito para melhorar a situação.

 

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