A espera dos lituanos pela estação mais quente do ano é algo difícil de imaginar para os brasileiros acostumados ao calor durante quase doze meses. No norte da Europa o inverno é gelado, e nos três países bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia-, as paisagens cobertas de neve são parte integral da estação do frio. São mais de seis meses pardos, de dias curtinhos e sem muita luz, à espera do verão. E talvez, por isso, desde os tempos pagãos, a comemoração em torno do solstício de verão é plena de euforia e superstições, carregada de misticismo e simbolismo. As civilizações antigas, como egípcios, maias, incas e gregos faziam rituais durante o solstício para agradecer por tudo que lhes era concedido e pedir proteção divina.
O povo báltico segue até hoje as tradições de outros tempos para marcar o dia mais longo do ano, que aconteceu no último dia 23 de junho aqui no hemisfério norte. A comemoração se destaca por uma mescla de tradições pagãs e cristãs, iniciando no final da tarde até o amanhecer do outro dia. Para os cristãos, por exemplo no dia 24 é comemorado o dia de São João, e assim a data também se destaca durante os festejos do solstício de verão. A comemoração na Lituânia, também conhecida como noite de Rasa, é marcada por canções folclóricas, dança e rituais campo afora e no meio na natureza para reverenciar no espaço celestial o ponto onde a trajetória do sol parece congelar (do latim, solstitius). Um momento ímpar, quando o pôr e o nascer do sol se confundem no horizonte. È a noite branca da Lituânia! A exemplo dos ancestrais, os lituanos acreditam que nesta noite clara as forças do além purificam os espíritos protegendo-os do mal, trazendo fertilidade e prosperidade. O sol é destacado em todos rituais, através do fogo. Acreditam que o sol é fogo e vida, transformando tudo que toca através de suas chamas. E assim, os lituanos entregam as cargas negativas ao fogo para serem transformadas em cinzas. Os povos antigos comemoravam o chegada do solstício de verão durante pelo menos uma semana pois acreditavam que quando o sol estava parado no céu todos deviam festejar, sem trabalhar. Acreditavam ainda que no dia 29 de junho, na festa de São Pedro, era possível ver o sol dançando no céu.
Principais rituais
1) Fogueira – Desde os tempos remotos as fogueiras de São João substituem o sol durante o breve período de sua ausência, garantindo assim a vitória completa da luz sobre a escuridão, pelo menos uma vez por ano. Pular fogueira na noite de Rasa é imprescindível para garantir saúde e força no trabalho do campos durante o verão. E se dois jovens conseguirem pular sobre a fogueira de mãos dadas, o casamento está assegurado.
2) Buquê mágico – durante os dias que precedem o solstício de verão os lituanos colhem flores do campo e ervas para criar um ramalhete mágico para garantir um futuro promissor.O buquê campestre deve conter nove galhos, com três cachos de ervas colhidos em três pontos diferentes, num perímetro de no máximo três passos, sempre em direção diversa. As plantas devem ser colhidas em silêncio, de preferência em bosques ou campos no interior.
3) Grinalda de flores – nesta época vemos muitas mulheres, jovens e crianças confeccionando grinaldas naturais com ramos e flores do campo. Esta tradição é muito difundida em todo país, especialmente em Vilnius, pois os nativos acreditam que ao confeccionar uma coroa de flores, cria-se um círculo de energia e plenitude enquanto a harmonia das plantas é absorvida durante o uso da grinalda.
4) Mastro verde – um mastro de ramos, decorado com flores e plantas faz parte de todas celebrações. Os participantes, na maioria vestindo trajes típicos, dançam de mãos dadas em torno do mastro que simboliza a árvore da vida, do florescimento e da maturidade das plantas.
5) Flor de samambaia – Sabe-se que esta planta, tão comum nos trópicos, não tem flores. No entanto, o folclore lituano descreve a flor de samambaia como um foco de luz brilhante. Reza a lenda que o perseverante, o corajoso e o altruísta podem ter a sorte de encontrar uma flor de samambaia na noite de São João. Na festa de Rasa a flor está associada ao conhecimento e à luz. Não é por nada que nos referimos a uma pessoa sábia como uma pessoa brilhante. Para encontrar a flor de samambaia, deve-se caminhar pelas trevas da floresta e resistir ao seu brilho para assim receber toda sabedoria do mundo!