Ele diz que não é um dom e garante que, com o tempo, aprendeu as técnicas e em cima de erros se aperfeiçoou. Hoje, tem uma vasta clientela que admira e já é fã de carteirinha do trabalho de cutelaria. Apesar de garantir que o talento não vem de pequeno, Gustavo Bohn, morador de Linha Rincão de Souza, conta que sempre gostou de inventar coisas diferentes e aprender atividades que o desafiassem. Com a cutelaria, não foi diferente.
O cuteleiro alia o trabalho diário em uma parte do galpão com os 35 mil pés de tabaco. Ele e a esposa Andréa, até já plantaram 10 mil pés e se organizam para transplantar o restante na segunda quinzena de julho. “Eu planto fumo desde novo. Mas há seis anos me dedico também à cutelaria, e foi aí que me encontrei”, reforça o artesão.
Bohn conta que foi uma situação espontânea. Ele havia comprado uma faca na cidade e, após realizar uma atividade, logo percebeu que ela perdeu o fio. “Nesse momento, decidi que era hora de fazer a minha faca”, lembra.
Começou, então, a pesquisar na internet, assistir a vídeos e preparou sua primeira faca. “Foi aí que vi que levava jeito e decidi apostar.” Desde então, ele não parou mais, e já está há seis anos no ramo. “Na última safra, em dezembro, o granizo levou todo meu fumo, ainda bem que eu tinha um extra e conseguimos nos virar com o lucro das facas. Foi um alívio”, relembra.
Há dois anos, Bohn se mudou para uma outra propriedade na localidade do nono distrito de Venâncio Aires. “Antes morava com o pai, mas quando a gente se mudou pra cá melhorou um pouco minha atividade, pois estou isolado aqui, no meio do mato, e se fico trabalhando até tarde não incomodo os vizinhos”, detalha o cuteleiro.
Atualmente, na entressafra, o cuteleiro chega a ficar mais de 16 horas no pequeno galpão onde tem as ferramentas e as facas. O material utilizado na fabricação da faca vem de fora, mas as máquinas foram todas criadas por Bohn com sucatas e itens que ele tinha em casa. “Fui adaptando minhas ferramentas e hoje consigo produzir minhas facas tranquilo.”
Vendas do artesão ultrapassam o território brasileiro
Desde os primórdios, o homem utiliza elementos da natureza para a elaboração de ferramentas, dentre elas, as facas. Por isso, a arte da cutelaria sempre foi muito valorizada e o mercado cresce há muitos anos. O produto final tem um certo valor agregado pois é considerado como um acessório único, e isso eleva o preço de cada objeto que leva a ‘assinatura’ de cada artesão.
Com Bohn não é diferente. Desde que ele começou no ramo, a procura pelas facas é grande. “E hoje a gente não tem só mais clientes e sim amigos”, define. As vendas do cuteleiro ocorrem na sua maioria pelas redes sociais, nos grupos e pelo Facebook e Instagram Cutelaria G. Bohn. “Hoje tenho faca na Alemanha, nos Estados Unidos, na Espanha e em vários municípios do Rio Grande do Sul. As vendas ocorrem para todos os cantos desse Brasil”, frisa.
Cada faca é única, exclusiva e personalizada e Bohn ressalta que o valor varia conforme as especificações. “A mais barata é R$ 130 e R$ 150, mas varia muito, pois tem cabos que são mais caros e difíceis de conseguir”, comenta.
O artesão mostrou para a reportagem, na prática, a fabricação de uma faca. Tudo começa com o recozimento, desenho da faca e molde, desbaste, normalização, têmpera, revenimento (nesse processo ela é submetida a uma temperatura de 200 graus por uma hora) e após é hora de finalizá-la, escolher o cabo, realizar o acabamento e afiar a peça.
Assim como no tabaco, Andréa é o braço direito de Bohn. A esposa é responsável por auxiliar nas redes sociais, atender os clientes e, sempre que possível, auxilia nos acabamentos dos cabos quando são lixados manualmente cada um.
“Sempre gostei de inventar e fazer minhas próprias coisas e a cutelaria surgiu assim. Decidi fazer minha faca e vi que poderia trabalhar com isso.”
GUSTAVO BOHN
Artesão e produtor de tabaco
4 horas
é o tempo mínimo que Gustavo dedica para a fabricação de uma faca mais simples. Outras levam até um dia, dependendo do modelo e desenho.
Curiosidades
- Gustavo Bohn comenta que moradores do Sul do Brasil têm o hábito da faca grande. “Isso é costume do gaúcho. Mas lá pra cima a gente só vende faca pequena, aquela que eles penduram no pescoço”, frisa.
- Bohn explica que lavar a faca com água quente não irá fazer com que ela perca o fio. “Isso é mito”, reforça.
- O cuteleiro aconselha que não seja utilizada tábua de vidro para picar os alimentos. “Isso estraga o fio da faca. Não aconselho a usar as tábuas de vidro. Uma boa faca dura anos, e só uma pedra já é suficiente para manter o fio em dia”.
- Bohn utiliza cifre de cervo, búfalo, além de madeiras exóticas para a fabricação do cabo das madeiras. Além disso, se o cliente quer pode solicitar prata e ouro.
Vendas
Além dos meios digitais como Facebook e Instagram, Gustavo Bohn recebe pedidos pelo 996025530. As facas são enviadas para todo Brasil via correio.