No conceito estabelecido pelo Ministério da Saúde, cirurgia eletiva é aquela que não é emergência, ou seja, pode esperar um pouco. Mas, se antes de 2020 a espera se devia ao fato de não ser um risco imediato ao paciente, durante a pandemia – hospitais precisando priorizar leitos e medicamentos para a Covid-19 – os procedimentos eletivos foram, com orientação do Estado, suspensos.
Em Venâncio Aires, 641 pessoas aguardam por uma cirurgia no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). Mas, se forem considerados outros procedimentos, feitos fora do município, a fila estica mais ainda e chega a 1.158.
“A fila sempre existiu, porque geralmente entre os exames, a consulta e a cirurgia, levaria em média um mês. Mas a pandemia veio e mudou tudo, porque todos os hospitais precisaram priorizar leitos e medicamentos para pacientes Covid. Algumas coisas foram realizadas, mas uma eletiva que pode precisar de uma UTI, por exemplo, nem é feita”, destacou a assessora da Secretaria de Saúde de Venâncio Aires, Rosane da Rosa.
Do que está previsto em contrato com a Prefeitura, o HSSM deve fazer, por mês, 40 cirurgias traumatológicas de média complexidade e 80 gerais, como de hérnia, vesícula, vascular e ginecológica, por exemplo. Seriam 1.440 procedimentos em um ano, mas em 2020 foram apenas 435 – cerca de 30% do ideal.
Dentro da estatística do atraso, está a safrista Elisabete Soares Kist, 46 anos. Moradora do bairro União, ele aguarda há cerca de um ano por uma cirurgia na vesícula. “Me dizem para esperar, por causa de tudo que está acontecendo no hospital, do coronavírus.” Enquanto aguarda, Elisabete diz que o jeito é cuidar na alimentação para tentar evitar dores no lado da barriga.
Custos
Estão previstos, em contrato, 120 procedimentos por mês no HSSM. Mas o custo total varia muito, porque cada procedimento tem um valor específico e a Prefeitura paga (com recursos próprios, mais parte do Estado e da União) por produção.
A ‘campeã’ em procura é a hernioplastia incisional (cirurgia de hérnia). Cada operação, de acordo com o termo de adesão entre Município e hospital de 2020, custa R$ 2.637,58. Já uma colecistectomia, a popular cirurgia de vesícula, chega a R$ 2.818,76.
Em 2021, a Secretaria de Saúde recebeu R$ 1.374.365 de emendas impositivas da Câmara de Vereadores. Mas, conforme Rosane da Rosa, foram tirados R$ 400 mil. “Não adiantava ter esse valor se não damos conta de fazer tudo.” O restante será usado para exames especializados.
Lista de espera em 5 de julho de 2021, para cirurgias realizadas no HSSM:
• Cirurgia geral: 491
• Cirurgia ginecológica: 77
• Cirurgia proctológica: 9
• Cirurgia urológica: 11
• Cirurgia vascular: 53
O HSSM também realiza eletivas gerais e de traumatologia de média complexidade para a microrregião. A maior parte das demandas de Mato Leitão, Vale Verde e Passo do Sobrado está parada deste março de 2020.
Traumatologia de média complexidade não gera fila
Na contramão dos atrasos, a cirurgias de traumatologia de média complexidade não têm fila de espera. Das 40 contratadas por mês, dificilmente se chega a esse número. Segundo a chefe do Setor de Regulação em Saúde, Leonice Horbach França, a demanda é menor e situações de fratura, por exemplo, requerem emergência, por isso os procedimentos acontecem rapidamente.
Além disso, são realizadas em maior quantidade aquelas cirurgias de traumatologia que não precisam de leito. São pequenos procedimentos nas mãos e braços, por exemplo, como retirada de síntese/túnel do carpo.
Quanto às consultas de traumatologia, estas estão suspensas no hospital desde fevereiro, já que o Pronto Atendimento está para uso de pacientes Covid.
Região
Além do que é feito no HSSM, vários hospitais da região são referência em outras especialidades para os venâncio-airenses, como cardiologia, traumatologia de alta complexidade, oncologia, otorrinolaringologia e oftalmologia.
No Hospital Santa Cruz, de Santa Cruz do Sul, pacientes de Venâncio são encaminhados para cirurgias de cardiologia (48 pacientes em espera) e traumatologia de alta complexidade (141 na fila). É neste último que está um dos maiores tempos de espera.
Segundo a assessora da Saúde de Venâncio, Rosane da Rosa, a média é de quatro anos. Um dos fatores, conforme ela, é o valor das cirurgias. “É um alto custo, dividido para 13 municípios. Tudo é muito caro e a maioria diz respeito às próteses. Uma das mais baratas já chega a R$ 10 mil.”
Ainda em Santa Cruz, mas no Hospital Monte Alverne, são feitos os procedimentos de otorrinolaringologia e há 44 venâncio-airenses em espera. Quanto à oncologia, no Hospital Ana Nery, não se tem uma estimativa, pois é feita pela regulação e varia conforme as especialidades.
Para cirurgias de oftalmologia, os venâncio-airenses são encaminhados para Candelária. A demanda atual é de 284 pacientes em espera.
Segundo a Secretaria de Saúde, tudo que é feito fora de Venâncio não tem custo para a Prefeitura, já que os hospitais da região que realizam as cirurgias recebem da União e do Estado os valores para prestar o atendimento.
Diminuição de internações Covid pode acelerar retomada
A assessora da Secretaria de Saúde de Venâncio Aires, Rosane da Rosa, afirma que, fazendo metade dos procedimentos que são previstos em um mês no HSSM, seria possível resolver um terço da fila atual, diminuindo cerca de 240 cirurgias até o fim do ano. “Se houver capacidade, o ideal seria fazer um mutirão.”
A expectativa dela também é compartilhada pelo administrador do hospital, Luís Fernando Siqueira. Ainda assim, ele pondera sobre o assunto. “Existe uma orientação do Estado de suspensão, devido à pandemia. Mas aqui muitos médicos, sensíveis a algumas situações, têm feito procedimentos. Se os números Covid continuarem caindo e demanda por leitos também, a expectativa é, a partir de agosto, realizar mais cirurgias. Mas uma retomada plena pode demorar um pouco mais”, projeta.
Sobre a demanda de leitos para pacientes Covid, Siqueira revela que, na próxima semana, HSSM e Prefeitura devem se reunir para discutir um possível fechamento de alguns leitos UTI. “Tudo depende muito dos números, da situação da doença nos próximos dias. Temos muitos pacientes de fora da região e estamos chegando a um limite perigoso de recursos.”
A probabilidade, caso não haja mudança no cenário epidemiológico, é que os cinco leitos da chamada terceira UTI sejam encerrados. Uma primeira tentativa aconteceu no fim de maio, mas na época se voltou atrás, devido ao agravamento na região e cuja demanda ‘respingou’ em Venâncio.
Contato
Para os pacientes que estão na lista de espera e que trocaram o número do telefone ou endereço, é preciso avisar a Secretaria da Saúde, para manter o contato atualizado.