Por Taís Fortes e Débora Kist
A informação sobre a possível transferência da praça da pedágio, instalada na RSC-453, em Cruzeiro do Sul, para Mato Leitão tem gerado polêmica entre os moradores da Cidade das Orquídeas. Desde a quinta-feira, 15, o assunto ganhou espaço nas rodas de conversas e, inclusive, manifestações nas redes sociais.
A temática surgiu após moradores de Cruzeiro do Sul terem realizado protestos pedindo a retirada do pedágio e uma comitiva do município, liderada pelo prefeito João Dullius, ter se reunido, na semana passada, com o secretário extraordinário de Parcerias do Rio Grande do Sul, Leonardo Busatto, para debater o assunto e sugerir um local para a transferência.
Segundo o prefeito de Mato Leitão, Carlos Bohn, a proposta do novo ponto onde o pedágio deveria ser instalado foi feita pelos representantes de Cruzeiro do Sul sem o conhecimento da Administração Municipal. “Não sabíamos de nada disso”, esclarece. A localização sugerida pelo Município do Vale do Taquari é em um ponto da rodovia no qual há o entrocamento em Linha Boa Esperança, situado logo após o Paradouro Biomate, no encontro da estrada que passa em frente à Associação Esportiva Recreativa e Cultural União com a RSC-453.
Bohn ainda relata que um dia após essa reunião em Porto Alegre, o prefeito de Cruzeiro do Sul, o presidente da comissão que pede a retirada do pedágio e outros representantes do município se reuniram com ele, na prefeitura, para comunicar que haviam feito essa sugestão ao Governo do Estado. “Não concordamos com nada disso”, ressalta.
Em contato telefônico com o secretário Busatto, o chefe do Executivo da Cidade das Orquídeas já informou que essa não é a posição do Município e que ele não tinha conhecimento sobre a sugestão dada por Cruzeiro do Sul. “Estou tentando marcar uma audiência com ele na semana que vem para falar sobre a nossa posição a respeito disso”, afirma, ao salientar que as tratativas para a mudança da praça de pedágio também não partiram do Governo do Estado.
Moradores se mobilizam
Moradores de Mato Leitão, que residem nas proximidades do local sugerido pela Prefeitura de Cruzeiro do Sul para a transferência da praça de pedágio, já se mobilizam em contrariedade à mudança. A cabeleireira Cristiane Scheibler Loeblein, 40 anos, o autônomo Evandro Scheibler, 45 anos, e a manicure Tatiane Heisler, 28 anos, argumentam que há muitos moradores que residem perto desse local da rodovia e que teriam que pagar pedágio para se deslocar até Centro do município.
Eles mencionam, inclusive, que o número de residentes vizinhos ao pedágio em Mato Leitão seria muito maior do que o existente em Cruzeiro do Sul. Os três também observam que, se utilizassem um caminho alternativo para chegar à região central, precisariam andar uma distância muito maior.
Cristiane ainda acredita que a transferência traria prejuízo para o seu negócio. “Muitas clientes que são do município teriam que pagar pedágio para chegar até o salão. Não vemos benefícios com a mudança. Só vamos perder com isso”, comenta. O borracheiro Décio Fischer, 60 anos, também é contrário a transferência do pedágio para esse ponto em Mato Leitão.

Proprietário de uma rampa de lavagem e uma borracharia, ele explica que, caso a mudança realmente aconteça, terá que pagar a tarifa para se deslocar da sua casa até o empreendimento, que fica distante cerca de 300 metros. Também seria necessário ter o gasto quando fosse até o Centro, o que acontece diariamente. “Eles poderiam procurar um lugar onde não tem tanto morador na volta, que não prejudicasse tanta gente, mas não aqui onde ficaria na porta das nossas casas”, opina. Para Fischer, outro ponto negativo que essa mudança traria é em relação ao seu trabalho. “Acho que as pessoas não procurarão tanto os serviços se tiverem que pagar pedágio.”
Para impedir que o pedágio seja transferido para esse ponto de Mato Leitão, os moradores já estão se mobilizando. Eles já conversaram com o prefeito Carlos Bohn a respeito do assunto e procuraram vereadores para entender a situação e buscar apoio. Além disso, se organizam para realizar protestos, caso percebam que isso seja necessário. “A ideia é impedir que essa informação se torne oficial”, destaca Tatiane.

“Estamos estudando a viabilidade”, afirma Busatto
O secretário extraordinário de parcerias do Estado, Leonardo Busatto, confirmou à reportagem que conversou, nas últimas semanas, em duas oportunidades com o prefeito de Cruzeiro do Sul, João Dullius. “Eles apresentaram uma proposta de alteração da praça de pedágio que estamos estudando a viabilidade. Nas próximas semanas já deveremos ter resposta.”
A principal reivindicação do município do Vale do Taquari diz respeito ao fim das isenções aos moradores locais, o que impactaria na rotina de centenas de pessoas de três localidades. “Isenção não existe em nenhum lugar do Brasil. Se todos os moradores das cidades onde as praças ficarão tiverem isenção, ninguém de Gravataí, Passo Fundo, Viamão, Carlos Barbosa e Gramado pagaria pedágio. Por isso estamos avaliando a troca para minimizar impacto às pessoas que moram perto da praça”, argumentou Busatto.
Nesse sentido, uma das alternativas propostas pelo Estado é um fundo municipal para que os impostos gerados pela praça financiem as tarifas dos moradores das cidades. Para ocorrer uma possível alteração, o secretário explica que ela precisa, também, ser viável do ponto de vista de engenharia. Nesse quesito, por exemplo, o local não poder ser numa curva ou aclive/declive, e se não há rotas de fuga, onde os carros possam desviar do pedágio.
A reportagem tentou contato com o prefeito de Cruzeiro do Sul, João Dullius, mas ele não atendeu as ligações.