Produtor encontra, na silagem, uma opção de diversificação

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Assim como em qualquer profissão, trabalhar no interior requer conhecimentos com finanças, pois o agricultor é o dono do seu próprio negócio e, no fim da safra, a conta precisa fechar para se tornar viável. Rodrigo Jesus Hendges, 26 anos, e Andressa Closs Hendges, 25 anos, plantam tabaco juntos há seis anos em Vila Estância Nova e sentiam a necessidade de ter alguma outra renda, com a silagem.

Após a colheita do tabaco, o casal sempre costuma plantar o milho. Em janeiro deste ano, surgiu uma ideia de começar um novo negócio. “A gente plantou o milho e a seca estava castigando ele. Além de pequeno, parecia um pezinho de cebola”, cita Hendges. “O Rodrigo já estava desanimado, mas eu tinha uma esperança de que a chuva viria e o milho iria se recuperar, e foi o que aconteceu”, acrescenta Andressa.

Com a recuperação do milho, o produtor decidiu apostar na venda de silagem. “Eu já vendia para atravessadores, mas pensei, ‘por que eu não posso começar a entrar no mercado?’”, conta. No mesmo dia, ele fez uma postagem nas redes sociais e a procura começou.

Além de vender o produto produzido nos seis hectares da propriedade, Hendges fundou a RJ Silagem, começou a comprar o trato pronto de outros produtores e a revender. As vendas já ultrapassaram os limites territoriais do Rio Grande do Sul, e Hendges comercializa para produtores de Santa Catarina e Paraná. “A procura está grande, lá não tem silagem pois a seca foi muito forte e a pastagem não se desenvolveu como o esperado. E, principalmente, quem tem gado de corte ou produção de leite está comprando no nosso estado pois está valendo mais a pena”, detalha.

Enquanto a reportagem conversava com a família, no mínimo três produtores ligaram para Hendges em busca de informações e até venda de silagem. “Alguma coisa eu vendo na região, mas maioria é para fora”, comenta. “Em pouco tempo, já temos um bom mercado para explorar e clientes para atender”, enaltece.

O agricultor também percebe que está pouca a produção de silagem na região. “A produção está baixa, temos a cigarrinha atuando fortemente nas lavouras, então temos uma grande procura”, cita. A venda ocorre por tonelada e, em apenas quatro meses de empresa, a família já vendeu 600 toneladas no sul do país. “Já posso dizer que vale a pena. Fiz um investimento de R$ 10 mil para começar e agora a gente tem um negócio próprio.”

Com quatro meses de empresa, o casal já tem uma certeza: reduzir a plantação de tabaco. Com a chegada do filho do casal, Ruan José Hendges, 5 meses, a vontade de ter uma outra renda só aumenta. “A gente não vai deixar de plantar fumo, mas hoje vamos plantar bem menos. Já reduzimos pela metade”, comenta Andressa.
Na safra passada, o casal plantou 130 mil pés de tabaco. Nesta safra, a meta é apenas 70 mil. “ A gente quer reduzir a cada ano mais. A meta é chegar em 25 mil pés, para trabalhar apenas em família”, salienta a produtora.

Rodrigo e Andressa decidiram diminuir a plantação de tabaco para conseguir diversificar na propriedade e cuidar do filho Ruan
Rodrigo e Andressa decidiram diminuir a plantação de tabaco para conseguir diversificar na propriedade e cuidar do filho Ruan (Foto: Roni Müller/ Folha do Mate)

DIFICULDADES

O casal relata que, para plantar uma grande quantidade de tabaco, estão encontrando dificuldades. “Os custos de produção por hectare estão altíssimos e falta mão de obra, a gente não consegue trabalhar em família, precisa de mais gente. Além de estar difícil, se torna muito caro”, detalha Hendges.

Além dessas dificuldades, as últimas três safras do casal foram decepcionantes. “Tivemos uma seca forte que castigou nosso fumo. Ano passado, em setembro, o granizo destruiu nossas lavouras e perdemos 300 arrobas”, comenta o agricultor. O casal foi capa da Folha do Mate em 8 de setembro, quando perdeu grande parte da produção de tabaco devido ao granizo na madrugada do dia 6. “A gente fica ressabiado e desanimado. A gente é novo e falta um incentivo para seguir no ramo”, ressalta Andressa.

600 toneladas
foi a venda da família em apenas sete meses no mercado da silagem.

“A gente pensa em outra renda, em outra cultura para se dedicar e não depender só do tabaco. Nossa ideia não é deixar de plantar, mas plantar menos, para conseguir ter uma quantidade que a família consegue trabalhar, sem precisar de mão de obra extra.”

RODRIGO HENGES
Agricultor e proprietário da RJ Silagem

Rodrigo
Rodrigo (Foto: Roni Müller/ Folha do Mate)

Plantar menos e garantir qualidade do produto, orienta Afubra

Assim como a família Hendges, que reduziu em quase 50% da área plantada de tabaco, percebe-se que outros fumicultores pretendem diminuir a produção. Apesar da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) ainda não ter uma projeção da produção para a safra 2021/2022, a entidade prevê uma redução de área plantada em até 13% no estado.

As entidades representativas dos produtores (Afubra, Fetag, Farsul, Fetaesc, Faesc, Fetaep e Faep) vem, há várias safras, alertando os produtores de tabaco para a necessidade de adequar a oferta à demanda. “Para a safra 2021/2022, a orientação continua sendo: menos é mais, ou seja, plantar menos e garantir qualidade do produto para melhores preços na hora da comercialização”, reforça o presidente da Afubra, Benício Albano Werner.
Werner ainda salienta que outro fator deve ser levado em consideração. “Temos a proibição da Rússia na importação de tabaco brasileiro. É uma situação preocupante, já que, em 2020, a Rússia foi o 5º maior importador de tabaco brasileiro”, alerta.

MÃO DE OBRA

O presidente da Afubra salienta que o produtor de tabaco, como gestor de sua propriedade, tem diversos pontos a serem considerados para permanecerem na produção de tabaco. “Com certeza, o produtor que tem área mecanizada aumentará sua área de produção de grãos, principalmente, pela valorização que essas commodities tiveram, ultimamente.”
Werner comenta que é necessário reconhecer que o setor de grãos está concorrendo com a rentabilidade do tabaco. “Requer menos mão de obra, por isso influencia diretamente. A influência do aumento de insumos não é o maior influenciador, uma vez que também é necessário o uso de insumos na produção de grãos”, pontua.

Benício (Foto: Roni Müller/ Folha do Mate)

“O aumento no preço praticado na reta final da comercialização não é parâmetro de preço para a próxima safra.”

BENÍCIO ALBANO WERNER
Presidente da Afubra

A troca da cidade pelo interior

    

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