Você sabia que fósseis dos dinossauros mais antigos do mundo foram encontrados na Região Central do Rio Grande do Sul? Está no Guinness World Records, o livro dos recordes, o reconhecimento internacional que coloca Venâncio Aires e região no mapa dos municípios gaúchos onde habitaram os primeiros dinossauros do planeta. O reconhecimento, solicitado por um grupo de pesquisadores e divulgadores científicos gaúchos, foi oficializado no dia 5 de agosto, e ganhou repercussão nacional e internacional.
São estudos e pesquisas que apontam um verdadeiro tesouro histórico e paleontológico. Segundo os pesquisadores, são fósseis datados de 233,23 milhões de anos, período correspondente à Idade Ladiniana, do final do período Triássico. Os animais habitaram a chamada ‘Formação Santa Maria’, uma cadeia de rochas que compreende aproximadamente 250 quilômetros de extensão, que vai de Venâncio Aires até o município de Mata.
Engana-se quem começou a ler esta reportagem e ficou imaginando dinossauros gigantes, como aqueles que costumam figurar em desenhos e filmes de aventura e ficção científica. Conforme o gerente de projetos da equipe ‘DinOrigin – A Origem dos Dinossauros’, Ciro Cabreira, os dinossauros encontrados na região foram os primeiros a pisarem no planeta, portanto, no início, eles eram animais pequenos e podem ser comparados, segundo os pesquisadores, ao porte de um peru, enquanto os maiores com o tamanho de um avestruz. Alguns eram herbívoros, outros carnívoros. Desta forma, pode-se dizer que os dinossauros gaúchos deram início à história evolutiva de todos os demais dinossauros.
Nos últimos anos, a equipe já conseguiu escavar em muitos locais da região e garantiu achados importantes. Dez fósseis de dinossauros, de espécies diferentes, já foram localizados na Região Central: Staurikosaurus pricei, Sacisauros agudoensis, Guaibasaurus candelariensis, Saturnalia tupiniquim, Nhandumirim waldsangae, Buriolestes schultzi, Pampadromaeus barberenai, Bagualosaurus agudoensis, Gnathovorax cabreirai e Macrocollum itaqui. Destes, três foram descobertos pela equipe que recebeu o reconhecimento do Guinness.
Parceria com universidades
Embora haja informações de que existem sítios paleontológicos em Venâncio Aires, este grupo de pesquisadores ainda não localizou fósseis de dinossauros no município, mas tem interesse em expandir as pesquisas em solo venâncio-airense e municípios próximos. Para isso, o objetivo é contar com parcerias de instituições de ensino superior para dar sequência ao trabalho. “Uma região ainda pouco explorada por nossa equipe dentro da ‘Formação Santa Maria’ é a que compreende os municípios vizinhos de Candelária, como Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires. Quem sabe, com esta repercussão, surja algum convite de parceria para futuras pesquisas com alguma instituição de ensino superior da região”, destaca Cabreira. Segundo ele, faltam recursos e incentivos para a pesquisa.
De acordo com o grupo, as cidades que possuem mais áreas expostas, sem cobertura de mata, por exemplo, contam com mais locais possíveis de pesquisa. Um dos períodos importantes para as escavações foi a época da construção da RSC-287, principal rodovia que liga os municípios da Região Central do Rio Grande do Sul. Conforme os pesquisadores, muitas áreas ficam expostas com a obra, o que contribui para a exploração científica.
“Por aqui habitaram os primeiros dinossauros do planeta, os mais importantes do mundo.”
CIRO CABREIRA – Gerente de projetos do DinOrigin
Guiness
O processo para obter o reconhecimento do Guinness levou aproximadamente seis meses até a aprovação. Os estudos tiveram que passar por uma equipe de paleontólogos consultores. “Foi enviada, primeiramente, uma petição de inclusão e, posteriormente, a documentação que comprovava a datação da formação rochosa na qual estavam inclusos os dinossauros da região. Depois, nossa equipe elaborou os textos que fundamentavam nossa solicitação, informando quais os animais que foram descobertos na ‘Formação Santa Maria’, como candidatos a serem os mais antigos do mundo”, explica o gerente de projetos.
Como se chegou à limitação de Venâncio até Mata?
A ‘Formação Santa Maria’ é composta de lamitos avermelhados (rocha sedimentar) bem específicos, por isso, os geólogos e pesquisadores conseguem definir claramente de onde até onde eles são encontrados.
Dinomania
Com o reconhecimento, a expectativa do grupo é por uma maior valorização da área da pesquisa e fomento ao turismo. “Esperamos há muito tempo que o poder público entenda o valor que estes animais têm. São extremamente importantes para a ciência mundial, pois dão início a um grupo de animais que dominou o planeta por cerca de 160 milhões de anos, e sobreviveram por vários períodos de mudanças geológicas e climáticas do planeta”, salienta Cabreira.
Ele cita, ainda, o apelo atrativo do assunto, o que pode gerar crescimento socioeconômico para os municípios, por meio da implementação de parques temáticos e museus, inclusive a céu aberto. “Sem contar os postos de trabalho e oportunidades através da venda de produtos temáticos. A dinomania é um fenômeno mundial”, frisa.
Destaque internacional
A equipe do projeto Dinorigin trabalha desde o ano de 1998 na Paleontologia. Em 2004, os integrantes foram contratados pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), onde permaneceram até 2019, quando o projeto foi encerrado. “Este foi o mais o mais exitoso projeto paleontológico dos últimos anos no país, com três dinossauros encontrados e descritos entre os primeiros que surgiram no planeta, e mais 23 outros animais, entre eles, cinodontes, tecodontes, dicinodontes, anfíbios e mamíferos, que foram destaque na ciência internacional”, cita Ciro Cabreira.
Esta foi a primeira equipe brasileira a receber destaque na capa da Revista Nature, a mais importante publicação científica do mundo. “E, agora, toda a Região Central do estado recebe este reconhecimento do Guinness Book, como sendo possuidora dos dinossauros mais antigos do mundo”, comemora.
Rede social – Na página DinOrigin2021, no Facebook, é possível acompanhar o trabalho do projeto ‘DinOrigin – A Origem dos Dinossauros.
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