Estar em cima do cavalo laçando é uma das paixões da adolescente Ana Júlia dos Santos, 14 anos. A tradicionalista do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Erva Mate, começou a treinar laço com apenas 6 anos. Um dos incentivos para praticar a cultura foi da família, pois o pai e o irmão também laçam.
Ana se ‘criou’ dentro dos rodeios, acompanhando a família. “O laço sempre foi presente na minha vida. Primeiro, ia nos rodeios gineteando em ovelhas e depois comecei a laçar boi nos rodeios”, relata.
A estudante do Colégio Bom Jesus Nossa Senhora Aparecida conta que laçou, de 2012 até 2016, depois parou e começou a frequentar mais a parte artística do CTG. “Mesmo assim eu sempre acompanhava minha família em rodeios, mesmo sem laçar”, comenta. Com a pandemia de Covid-19, sem ensaios da parte artística do CTG e sem rodeios artísticos também, a guria voltou a laçar. “Vi que era dentro da pista que eu conseguia me encontrar e que laçar era uma das coisas que mais me fazia bem. Estou em processo de evolução, cada dia, cada rodeio é um novo aprendizado, e isso é o que mais me motiva pra continuar, olhar pra trás e ver o quanto eu evoluí desde quando comecei”, comenta.
A guria já tem seis troféus, que conquistou na outra época que laçava. Agora, está ansiosa para aumentar a coleção. Ela lembra com carinho do primeiro rodeio como laçadora, no município de Cachoeira do Sul, em 2012. “Eu tinha muita vergonha, pois não sabia laçar e não conseguia treinar, mas mesmo assim fui. Desde sempre, minha família me apoiou nesse mundo do laço, meu pai me ajudava no brete (antes de entrar na pista), para sair, meu irmão me esperava no saca laço e minha mãe me gravava na beirada da cerca, então mesmo não indo bem eu ficava feliz pelo apoio que tinha deles e de todos os nossos amigos”, afirma.
Jovens tradicionalistas
Para Ana, é muito importante ver os jovens empenhados com a cultura gaúcha. Ela observa que a maioria dos ‘craques’ do laço em rodeios têm entre 14 e 17 anos. “O laço está presente na história do homem campeiro, na história do tradicionalismo, é uma cultura que virou esporte. Se não cultivarmos no futuro as novas gerações não vão conhecer a história do nosso Rio Grande do Sul, por isso acho importante nós jovens continuarmos praticando e levando para as futuras gerações”, ressalta.
Sobre a participação feminina na atividade, a estudante percebe que, mesmo nos dias atuais, ainda é pequena, já que os homens são os que mais praticam o esporte. “Mesmo eu nunca tendo sofrido nenhum tipo de preconceito, ele ainda existe, o laço é um esporte que, mesmo no século XXI, ainda tem muito machismo, por isso as mulheres laçarem é levar a força que elas têm. Lugar de mulher é onde ela quer estar, ela é capaz de fazer o que deseja”, complementa.
A laçadora finaliza observando que, hoje, entre os melhores laçadores do Brasil, estão algumas mulheres, como Ariane Soares, Duda Lima, Maria Krever e Amanda Rossa. “Ver como elas são reconhecidas pela dedicação e o talento é mais um motivo que incentiva muitas meninas a não desistirem por coisas que a sociedade colocou na cabeça delas, de que não são capazes de chegar no topo.”
“Às vezes, precisamos de tempos para realmente ver o que nos faz bem, o que queremos para nossa vida, e o laço, com toda certeza, é o que eu quero pra minha.”
ANA JÚLIA DOS SANTOS
Laçadora
“Quero ganhar a copa do mundo do laço”
Desde os 2 anos, William de Quadros, 13 anos, já laçava em vaca parada. Com 5 anos, o morador do bairro Santa Tecla começou a treinar laço em cima do cavalo. “Quando era pequeno eu sempre laçava com meus amigos perto de casa. Também sempre queria laçar melhor do que eles, mas nunca esqueci a humildade e o respeito”, afirma o integrante do CTG Erva Mate.
Antes de laçar, em cada competição, quando está no brete, o laçador mentaliza os resultados que almeja. “Passam muitas coisas na minha cabeça, penso que vou conseguir e consigo. Mas quando eu perco a armada, fico de cabeça erguida pois isso serve de inspiração para a próxima vez”, compartilha William.
O guri já tem mais de 40 troféus sozinho – de laço em dupla com o pai, ele já perdeu as contas de quantos foram. “Eu laço porque gosto muito. É uma diversão com competitividade, duas coisas que eu gosto. Eu ainda quero ser um dos melhores em laço, ficar campeão da Copa do Mundo de Laço, que acontece a cada dois anos em Vacaria”, planeja.
Atividade esportiva e cultural que retrata a lida campeira
O laço é um esporte que exige força, equilíbrio, habilidade e precisão, conforme explica o presidente da Associação Tradicionalista de Venâncio Aires (ATVA), Eagro Muller. A modalidade é diferente das realizadas pelas invernadas artísticas dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs). “O tiro de laço é uma herança dos nossos antepassados, e retrata uma das particularidades da lida campeira. É uma atividade esportiva e cultural.”
Para o tradicionalista, é visível que cada vez mais jovens estão se tornando adeptos à modalidade. Desde os torneios de ‘vaca parada’, destinada a crianças, até os de de ‘moto vaca’. “Apesar de gerar muitas discussões, por vários motivos, é uma atividade que veio para ficar”, considera Muller.
Além disso, ele enfatiza que como boa parte das atividades tradicionalistas, o laço possui característica de cada vez mais proporcionar atividades familiares. “Vemos pais e mães, cada vez mais inseridos nesse contexto, que acabam incentivando e promovendo o gosto pela atividade, nos filhos cada vez mais novos. Inclusive, com essa característica, é possível ver um número cada vez maior de mulheres adeptas e praticantes assíduas da atividade. Podemos ver até alguns torneios com modalidades exclusivas para mulheres”, destaca.
Na Capital Nacional do Chimarrão, conforme ele, são 11 entidades que oferecem a parte campeira, com laço. “Qualquer uma das entidades é uma boa referência para quem gostaria de iniciar essa prática. Se alguém tiver alguma dúvida sobre como chegar às entidades, a ATVA está à disposição para oferecer todas orientações”, ressalta.
“O tiro de laço é uma herança dos nossos antepassados, e retrata uma das particularidades da lida campeira.”
EAGRO MULLER
Presidente da ATVA
- Entidades de Venâncio que praticam laço:
– Clube de Laço Terra do Chimarrão
– Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Chaleira Preta
– CTG Erva Mate
– CTG Lenço Branco
– CTG Pousada do Capão
– Piquete de Tradições Gaúchas (PTG) Cavaleiros da Estrada
– PTG Regalo Campeiro
– PTG Machry
– PTG Sinuelo do Pago
– PTG Sinuelo de Tropa
– PTG Sentinela do Pago