Por Débora Kist e Rosana Wessling
Assim como aconteceu em 2020, a maioria das indústrias vai adiantar a compra do tabaco. Enquanto no ano passado parte do movimento teve relação com a antecipação do plantio e consequente término da secagem antes da virada do ano, nesta safra as motivações também passam pelo incentivo à economia local.
Na Marasca, por exemplo, a compra vai começar na segunda quinzena de novembro. “O processamento começa pra valer em fevereiro, mas é uma forma de motivar o comércio local e ajudar os produtores nos gastos com mão de obra e lenha. Ajudá-los a finalizar a safra e ter um incremento na renda nesse fim de ano”, destacou o gerente de Produção Agrícola da Marasca, Roberto Antonio Machado. Conforme ele, até dezembro, a tendência é comprar a mesma quantidade adquirida nas últimas semanas de 2020 – 5% do volume total.
A Marasca será a mais ‘adiantada’ entre as tabacaleiras do Vale do Rio Pardo consultadas pela Folha do Mate (veja box). No caso da Alliance One e China Brasil Tabacos, a compra começa dia 22 de novembro. De acordo com as empresas, a abertura da compra está alinhada ao cenário atual de mercado, acompanhando a antecipação do ciclo produtivo, além da viabilização de renda aos produtores para custos de colheita e confraternizações de fim de ano.
Custos
Segundo o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva, a metade de novembro também é ponto chave para outra questão: o preço pago ao produtor. “Estamos fechando o levantamento do custo de produção, o que deve estar concluído nos próximos dias. Depois é discutir o aumento necessário, já que encareceu muito o diesel, a luz, a lenha e a mão de obra”, explicou.
Dessa forma, Silva diz que será necessária uma valorização. “Poderia haver uma compensação pelo que aconteceu ano passado, quando com o resto da produção pagaram acima do previsto, mesmo sem qualidade para isso. Isso não foi justo com quem já tinha vendido tudo.”
O presidente da Fetag entende ainda que a compra antecipada não vai garantir apenas uma renda a mais no fim do ano, mas vai evitar outro movimento. “É importante manter a relação entre empresa e produtor, sem riscos de atravessadores. Além disso foi um ano difícil, então quem plantou cedo e pode vender cedo, que a indústria ajude e compre bem.”
Início da compra nas empresas
• Marasca: segunda quinzena de novembro.
• BAT Brasil (antiga Souza Cruz): 18 de novembro.
• Universal Leaf Tabacos: 22 de novembro.
• Alliance One: 22 de novembro.
• China Brasil Tabacos: 22 de novembro.
• Philip Morris Brasil: 22 de novembro.
• JTI: 6 de dezembro.
• CTA: sem previsão.
“O agricultor quer uma valorização pelo seu produto”
Apesar de terem iniciado a colheita em 23 de agosto e já se encaminharem para a apanha final nos primeiros 25 mil pés de tabaco, Erio Horbach, 57 anos, e Isonete Aparecida de Souza, 41 anos, estão na expectativa com o preço da venda para a indústria. “Quando a gente planta já deveria saber o preço que vai receber pelo produto e trabalho. Mas isso nunca acontece”, comenta o produtor.
A família de Linha Marechal Floriano, no interior de Venâncio Aires, plantou os primeiros 25 mil pés da variedade precoce em 17 de maio. No total são 50 mil pés e o casal ainda projeta plantar uma safrinha neste mês. “Vamos arriscar e ainda plantar 10 mil. É um teste, uma experiência. As mudas já estão prontas”, conta Horbach.
Como está envolvido com a colheita, o casal ainda não está trabalhando com as folhas secas. “Nos últimos dias nem tinha como, está muito seco o ar para mexer no fumo no galpão”, cita Isonete. Por isso, eles acreditam que apesar de as indústrias iniciarem a compra neste ano, não irão comercializar o tabaco antes de janeiro. “A gente vai segurar. Geralmente, nesta época, eles não compram bem, e a gente tem umas reservas para virar o ano”, salienta o agricultor.
A expectativa é com uma boa compra a partir de janeiro. “Agora eles ainda vão estar praticando o preço da tabela da safra passada. A gente aguarda uma atualização e valorização do nosso trabalho”, projeta. O agricultor comenta que a alta nos insumos e a seca podem prejudicar produtores de tabaco e, com isso, o produtor ser mais valorizado. “Se não começar a ter valorização, a colônia não vai aguentar. É muito custo para pouco reajuste”, salienta.
“Tivemos uma safra bem atípica, pois os insumos aumentaram e o preço da mão de obra também. Sem contar que quem plantou tarde corre este risco com a seca. Então a gente espera uma valorização do tabaco.”
ERIO HORBACH
Produtor de tabaco
Schuch propõe seminário
• O deputado federal Heitor Schuch (PSB) protocolou, na quinta-feira, 4, pedido para que a Comissão de Agricultura da Câmara promova seminário no Rio Grande do Sul para discutir a sustentabilidade econômica no campo, com destaque para a elevação dos custos de produção, gestão, produtividade e rentabilidade do agricultor na próxima safra. A sugestão do parlamentar é que o evento seja realizado em Porto Alegre ainda no mês de novembro.
• A solicitação será avaliada pela comissão na reunião da próxima semana. “Esse tema é urgente, especialmente diante dos fortes reajustes dos preços dos fertilizantes, que tornam preocupante o cenário para a próxima safra”, destaca Schuch, que é presidente da Frente Parlamentar da Agricultura.
• O deputado lembra que a escalada dos insumos foi a principal responsável pelo aumento dos custos de produção do setor agropecuário neste ano, após os valores de alguns fertilizantes e defensivos acumularem altas que superam 100%, indicando também despesas mais elevadas para 2022.
• Devem ser convidados para o debate representantes de Fetag, Farsul, Fecoagro, Ocergs, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), UFRGS, Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav) e Frente Parlamentar da Agropecuária Gaúcha.