Setor leiteiro: uma atividade agropecuária consolidada em Venâncio

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A especialização, as tecnologias e o aumento da escala de produção fizeram com que o setor do leite se estabelecesse em Venâncio Aires e no estado. Apesar da diminuição do número de propriedades produtoras, a produção de leite não diminuiu da mesma forma no município. Produtores que continuaram apostando no leite como negócio, avaliaram o potencial de cada propriedade e aumentaram a escala de produção para enquadrar no orçamento familiar.

Dados do escritório local da Emater/RS-Ascar apontam que, em 2015, eram 203 produtores em Venâncio Aires que desenvolviam a produção leiteira como uma atividade econômica. A produção era de quase 8,5 milhões de litros. Em 2021, o número de famílias envolvidas na atividade é de 104 e a Emater projeta que serão comercializados 8,1 milhões de litros de leite no município, gerando cerca de R$ 15 milhões para o setor. “O número de produtores diminuiu 50%, mas a produção se manteve constante”, cita o engenheiro agrícola da Emater, Diego Barden dos Santos.

Em 2021, devem ser comercializados 8,1 milhões de litros de leite em Venâncio, conforme projeção da Emater (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

Dados do Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite no Rio Grande do Sul, realizado pela Emater/RS-Ascar, evidenciam que a produção total de leite no estado foi estimada como sendo da ordem de 4,39 bilhões de litros por ano. Aproximadamente 4,05 bilhões de litros, ou seja, 92,29% do total produzido no Rio Grande do Sul, são destinados às indústrias de lacticínios.

Assim como na Capital Nacional do Chimarrão, a produção de leite é a base de uma das principais cadeias produtivas gaúchas, seja pelo ponto de vista econômico e social, estando presente na maioria das propriedades rurais. O setor leiteiro, bem como outros setores agrícolas, tem enfrentado diversas transformações nos últimos anos, desafiando todo o setor envolvido com a produção e o beneficiamento do produto.

“O número de produtores em Venâncio diminuiu, mas a nossa produção se manteve. Neste ano, projetamos a comercialização de 8,1 milhões de litros de leite.”

DIEGO BARDEN DOS SANTOS –
Extensionista do escritório local da Emater/RS-Ascar

Dados do setor leiteiro em Venâncio Aires

• Venâncio Aires tem 104 famílias que comercializam o leite para sete empresas/cooperativas: Dália, Languiru, Lactalis, Lactivida, Baky, Agroleite e Vitá Sã. As duas últimsa são agroindústrias do próprio município.

• São cerca de 1,5 mil vacas que produzem leite, que posteriormente é comercializado para a indústria.

• A média de produção é de 5,5 mil litros vaca/ano.

• Além disso, mais de 3 mil propriedades produzem o leite para consumo familiar, sendo 3,5 mil vacas.

80%

do rebanho leiteiro de Venâncio Aires é da raça holandesa.

Quatro décadas de trabalho com a produção leiteira

Para Renato Luiz e Lovane Inês Sehnem, ambos com 61 anos, trabalhar com o leite é uma realização. “A gente faz porque gosta. São dois compromissos por dia, durante o ano todo, sem contar tudo que envolve a atividade, mas é gratificante”, enaltece o produtor.

O casal de Linha Travessa completa 41 anos na atividade leiteira em janeiro de 2022. “Começamos com uma novilha que a Lovane ganhou de presente dos pais quando nos casamos. Era no braço”, relembra.

Com o passar dos anos, o plantel foi aumentando de acordo com a demanda. “Tinha uma época que estávamos tirando 65 litros por dia a mão. Hoje não dá nem para imaginar”, salienta Lovane. O casal trabalha com duas ordenhas balde ao pé e conta com um plantel de 20 vacas em lactação.

Lovane e Renato trabalham há 40 anos na produção leiteira como uma atividade econômica (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

No início, o leite não era o carro-chefe da propriedade. O casal plantava tabaco e erva-mate, e a produção leiteira era a terceira opção. “Em 2009, paramos com o tabaco. E hoje trabalhamos só com o leite. Vou dizer que duas atividades junto é complicado, a gente já passou por isso”, frisa Sehnem.

Há mais de 10 anos integrados com a Languiru, Renato e Lovane explicam que a qualidade e o rendimento do leite estão baseados na alimentação. “A gente tem falta de espaço para deixar as vacas soltas, então 85% do alimento é dado no cocho. Mas a gente trata elas com silagem, ração, aipim e milho quebrado. O alimento é algo fundamental para uma qualidade e litragem significativa de leite.”

Custos de produção

Um dos pontos mais observados pelos produtores rurais é a qualidade do leite. “Se tem uma coisa que a gente cuida e fica em cima é com a qualidade do produto que estamos entregando. E posso afirmar, nesses 40 anos, mudou muita coisa, melhoramos em 1.000% a qualidade do leite”, define Sehnem.

O produtor frisa que hoje uma das grandes preocupações do setor leiteiro é com os custos de produção. “O leite é a base da alimentação de muitas famílias, ele não pode ser mais caro, mas o grande problema é nosso custo de produção”, detalha. “Aqui usamos sementes de milho, adubo, ureia, diesel e a ração que compramos, e isso está caro demais, toda semana um preço novo. O grande problema na agricultura são os custos de produção”, considera.

Em 2021, devem ser comercializados 8,1 milhões de litros de leite em Venâncio, conforme projeção da Emater (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

Desde 2015, Emater local trabalha de maneira estratégica a bovinocultura leiteira

O casal de Linha Travessa recorda que, no início, mais de 12 vizinhos trabalhavam com o leite. “Hoje só tem mais dois”, comenta Renato Sehnem. Dados do escritório local da Emater/RS-Ascar mostram que, com o tempo, a idade fez com que muitos parassem na atividade. “Temos casos de sucessão nas propriedades rurais, mas isso não significa que temos sucessão no leite”, observa o engenheiro agrícola da Emater, Diego Barden do Santos.

Os produtores que permaneceram na atividade acompanharam a evolução e remodelaram as instalações. “A gente percebe que muitos produtores que ficaram na atividade readequaram as instalações e alguns partiram para um sistema de confinamento. Cada agricultor adaptou a produção de acordo com a sua necessidade dentro da propriedade”, salienta Santos.

Em 2015, a Emater, juntamente da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Sindicato Rural fundaram o Grupo do Leite, um fórum de discussão para produtores da cadeia do leite e, com isso, segundo o engenheiro agrícola, um novo passo foi dado. “Nosso grupo tem a finalidade de reunir os produtores e buscar informações e serve como um fórum de discussão sobre a cadeia do leite no município.”

A partir disso, o grupo propôs diversas políticas públicas, dentre elas o vale-sêmen. Em 2018, a Prefeitura instituiu o Programa Agropecuário de Bovinocultura de Leite e lançou o edital para subsidiar a aquisição de doses de sêmen de touros provados para o melhoramento genético do rebanho leiteiro, dessa forma, produtores interessados podem se habilitar. “Independente da raça, é necessário fazer o melhoramento genético, não devemos só focar na produtividade, são várias características que precisam ser observadas. Sempre pensando nas especificidades da propriedade.”

Reconhecimento

O escritório municipal da Emater vem trabalhando de maneira estratégica a bovinocultura leiteira desde 2015. Além da criação do Grupo do Leite, começaram os atendimentos a algumas propriedades de maneira diferenciada que são consideradas as Unidades de Referência.

Nestas unidades de referência, que hoje são 18 propriedades, é realizado um trabalho de acompanhamento periódico. “Essas propriedades recebem as visitas periódicas onde se realiza a gestão do rebanho, melhoramento genético, sanidade preventiva e dietas alimentares”, comenta Santos.

Entre os resultados do trabalho com pequenos produtores ao longo dos anos percebe-se o acréscimo de 149% na produção de leite comparando com a produção de início do trabalho. Quando consideramos somente o aumento da produção de leite nestas propriedades acompanhadas, desde o início do trabalho até final de 2020, a Emater chegou em torno de um milhão de litros de leite a mais, R$ 1,6 milhões aproximadamente, se considerar média de preço de 2020. Esse trabalho da Emater com o leite foi reconhecido como Destaque Estadual em 2020.

“Os produtores eficientes que levam em consideração o manejo, a sanidade animal e a genética e têm uma boa organização da propriedade, conseguem uma ótima produção com uma boa lucratividade, isso graças a muito trabalho.”

DIEGO BARDEN DOS SANTOS –
Extensionista do escritório local da Emater/RS-Ascar

    

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