Desde 2011, Venâncio Aires notificou nove casos de tétano (três só em 2021) de moradores do município. O número pode parecer pequeno, já que a média fica abaixo de um caso anual. Mas, se consideramos os óbitos dentro desse grupo, a proporção tem outro patamar: quatro das pessoas que ficaram doentes, morreram – 44% das notificações.
Embora a alta letalidade seja uma característica conhecida, afinal, no país, entre 2007 e 2016, mais de 33% dos casos resultaram em óbitos, em Venâncio Aires um número recente assustou e reacendeu o alerta sobre a importância da vacina antitetânica: duas das quatro mortes nos últimos 10 anos foram registradas há poucas semanas (as outras foram em 2014 e 2015).
De acordo com a Vigilância Epidemiológica, um morador do interior, na casa dos 40 anos, não resistiu à infecção em outubro. Já na semana passada, um morador da área urbana, na faixa dos 50 anos, também faleceu. O primeiro caso tinha duas doses da vacina, enquanto a vítima mais recente não tinha nenhuma. “É uma doença infecciosa com alta letalidade, por isso ter o esquema vacinal completo é importante. A imunização faz parte do calendário vacinal desde os bebês, mas os adultos precisam manter o esquema em dia”, destacou a enfermeira e coordenadora da Vigilância Sanitária, Carla Lili Müller.
Infecção
Conforme a enfermeira, o tétano é causado pela ação de exotoxinas produzidas pelo ‘Clostridium tetani’, uma bactéria encontrada na natureza sob a forma de esporo (uma célula resistente). Ela pode ser identificada na pele, na terra, em galhos, na água, na poeira, no trato intestinal e nas fezes. A infecção vai acontecer quando esses esporos entrarem na corrente sanguínea, ou seja, qualquer corte, seja ele profundo ou um simples arranhão, pode ser uma porta de entrada.
Dessa forma, Carla reforça que, ferimentos corriqueiros como se cortar com uma faca em casa, se machucar com algum instrumento de trabalho numa empresa ou numa obra, pisar num toco de madeira ou em um prego, ou apenas se arranhar, são motivos para conferir a carteira de vacinação. “Se não houver certeza de que a vacina está em dia, a orientação é buscar atendimento médico imediatamente. Tanto na UPA como no hospital, a orientação já é receber o soro antitetânico, que vai neutralizar a toxina”, explica Carla.
Os sintomas da doença geralmente aparecem de 3 a 21 dias depois do ferimento. Como ela impacta o sistema nervoso, pode causar hipertonia muscular e hiperreflexia profunda, que causam tensão nos músculos e enrijecimento da mandíbula, por exemplo, além de espasmos ou contraturas. O doente também fica extremamente sensível à luz.
Vacinas
Os dois óbitos recentes em Venâncio foram do sexo masculino. Os homens, aliás, são ‘campeões’ da indiferença quando o assunto é carteira de vacina. “Geralmente a mulher é muito mais atenciosa e os homens não costumam se preocupar com isso depois de adultos”, avalia Carla Lili Müller.
A vacina contra o tétano faz parte do brasileiro desde os primeiros meses de vida. Quando os bebês recebem aquelas três doses da pentavalente aos dois, quatro e seis meses, a imunização contra o tétano faz parte do pacote.
Já quando a criança tem um ano e três meses e quando completa quatro anos, recebe a DTP, onde o ‘T’ se refere novamente ao tétano. Depois disso que começa o intervalo de 10 anos. Se seguir o calendário corretamente, os reforços devem ser aos 14 anos, aos 24, aos 34 e assim por diante.
Segundo Carla Lili Müller, aplica-se esse reforço a cada 10 anos com dose adulta após a última dose. “Com o passar dos anos vai baixando a quantidade de anticorpos”, explica. O esquema inicial inclui três doses com reforços a cada década, mas se ocorrer algum ferimento neste período, poderá ser adiantada para cinco anos após a última dose do esquema inicial ou do último reforço.
Para a mulher que está grávida, tem um reforço exclusivo com a vacina ‘DTPa’, aplicada após a 20ª semana de gestação e que induz produção de anticorpos contra tétano neonatal na futura mãe que tem esquema vacinal previamente completo com DT ou que tenha recebido duas doses de DT.
“Atualmente, a maioria das empresas, antes de contratar um funcionário, já pede para ter a vacina contra o tétano em dia”, conta Carla. Conforme a enfermeira, quem tiver dúvida sobre seu histórico vacinal, pode procurar qualquer unidade de saúde com sala de vacina.
Salas de vacina
Em Venâncio Aires, há salas de vacinas nas ESF Caic, Coronel Brito, Mariante, Gressler, Tabalar e Macedo, e nas UBS (os tradicionais postos de saúde) Central, Gressler, Santa Tecla, Deodoro, Santa Emília e Tangerinas.
As mortes por tétano não têm uma relação direta, já que a doença não é transmissível de uma pessoa para outra. No entanto, em comum, as vítimas tinham falhas no esquema vacinal. Por isso, o Município estuda a possibilidade de realizar alguma campanha especial de multivacinação para atualizar as cadernetas dos venâncio-airenses.