A restauração das matas ciliares contribui diretamente para a preservação da biodiversidade. Além disso, a preocupação ambiental nas propriedades interfere para favorecer o desenvolvimento econômico, com a conservação da água e meio ambiente para garantir o futuro.
Desde abril, um trabalho de recuperação da mata ciliar de áreas ribeirinhas é realizado às margens do Rio Forqueta e Rio Taquari. A pesquisa é vinculada ao Programa de Pós-graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis (PPGSAS) da Univates.
Coordenadora do trabalho, a professora doutora Elisete Maria de Freitas explica que a equipe atua em oito áreas, sendo sete às margens do Rio Forqueta e uma do Rio Taquari. O grupo de trabalho é formado por estudantes da universidade com o apoio de todas as prefeituras dos municípios onde as propriedades estão situadas, em Travesseiro, Marques de Souza, Arroio do Meio e Encantado. “Temos um apoio imprescindível de todas as prefeituras, sem elas não seria possível. Também temos muitos voluntários que nos ajudam”, diz.
Até o momento, foram concluídas duas áreas e outras duas estão em andamento. A equipe faz a análise do que é necessário e o primeiro passo é preparar a área que será revitalizada. “Muitas vezes temos que começar mexendo na barranca do rio, com colocação de rochas. São necessárias técnicas de bioengenharia, com a realização de chanfreamento para reduzir o ângulo de inclinação no relevo”, completa. A equipe possui licença ambiental para que sejam feitas as intervenções, que são acompanhadas por um engenheiro ambiental.
A redução do ângulo de inclinação é necessária para ficar mais plano e diminuir a ação da água, normalmente passa de 90 para 45 graus. Feito isso, é necessário o plantio com diferentes metodologias. “Temos que colocar muita vegetação. Até o próximo período de cheias esperamos que as plantas cresçam e cubram as margens, não podemos ficar com solo exposto”, explica a professora.
O plantio é feito com mudas espalhadas pela área ou pelo método de nucleação, que consiste em uma muda no centro e outras no entorno. “A planta do centro é uma que precisa de mais sombra para crescer, as demais toleram mais o sol. Então elas vão crescer e fazer sombra para a do meio se desenvolver. Com isso, aumentamos a cobertura da vegetação”, acrescenta.
Outra técnica utilizada é usar hidrogel, que é um composto que auxilia para manter água na planta. O plantio também é feito com sementes, metodologia que já tem apresentado bons resultados. A transposição de solo também é uma forma de intervenção nas áreas. “Nós vamos para áreas preservadas, onde não tem exóticas invasoras, coletamos solo de uma camada da superfície e depositamos nessas áreas de restauração”, comenta.
Um último experimento foi a instalação de poleiros nas áreas estudadas. As estruturas para o pouso das aves devem auxiliar para eliminar sementes de frutos ingeridos, seja no momento em que comem ou depois, por meio das fezes, tudo para auxiliar na germinação.
“Pensar nas nascentes das propriedades rurais é vislumbrar o futuro, é o melhor caminho a seguir”
A professora doutora Elisete Maria de Freitas, que coordena o programa de recuperação da mata ciliar de áreas às margens do Rio Forqueta e Taquari, defende que pensar na recuperação das nascentes é vislumbrar o futuro, é o melhor caminho a seguir. “Não podemos continuar lutando contra a questão ambiental, ela é fundamental para o equilíbrio”, salienta.
Ela sugere que cada propriedade tenha a restauração das nascentes e priorize uma área para este fim. “Para se ter o retorno econômico, é preciso do ambiental”, complementa. Elisete diz que a grande maioria dos frutos dependem de polinização, sendo assim, sem insetos não há frutos. Porém, elas precisam de refúgio na floresta, por isso a área verde é tão importante. “Toda a água da propriedade depende das nascentes preservadas e isso é fácil de ser feito. Se cada propriedade tiver a restauração das nascentes, é um investimento a longo prazo”, considera.
A intenção é que novas áreas possam ser contempladas por meio do programa. A ideia é ampliar e buscar novos recursos para atender outros territórios. Entre as principais vantagens de um trabalho como esse, a professora ressalta a segurança das propriedades rurais e evitar perdas econômicas. “As áreas degradadas estão sendo levadas embora a cada enchente, é uma quantidade enorme de solo que se vai. A restauração permite a estabilização das margens, fim da erosão e perdas dessas áreas”, cita.
ATENÇÃO
Elisete destaca que é necessário atentar para um grande erro que acontece quando se faz restauração de margem de rio, que é o plantio de variadas espécies nas áreas próximas, sem critério de escolha. “É obrigatório usar espécies que são de mata ciliar. Elas precisam tolerar a condição de enchentes, precisam ser espécies que tenham um sistema radicular bem desenvolvido com caule bem ramificado que faz com que a água passe entre os galhos e não exerça uma força que provoque a queda”, enfatiza.
Neste sentido, a equipe que desenvolve o projeto escolhe árvores e arbustos conforme a área. Onde há o solo muito exposto, se utiliza herbáceas, trepadeiras e arbustos, por exemplo. Muitas mudas são produzidas na universidade, pois não são encontradas com facilidade para comercialização.