Produtores de Venâncio reclamam das obras da rede alta tensão da Certaja

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Uma linha de transmissão promete melhorar o fornecimento de energia elétrica para milhares de famílias de Vale Verde, Passo do Sobrado, Santa Cruz do Sul, Rio Pardo e General Câmara. Mas metade dessa rede da Cooperativa Regional de Energia Taquari Jacuí (Certaja) vai passar por Venâncio Aires e tem incomodado algumas pessoas.

Em determinada ‘faixa’ do 9º Distrito, onde torres e cabos vão cruzar 65 propriedades (saindo da subestação entre a Linha Coronel Brito e a Linha Ponte Queimada), o sentimento é de insatisfação. “Vão passar sobre o ‘filé’ da minha terra”, argumentou o empresário Fernando Knies, que tem uma propriedade em Linha Campo Grande, onde cultiva soja.

Segundo ele, está prevista a instalação de cinco torres na propriedade e a estimativa é de que 1,3 hectare não possa mais ser usado. “Eles têm as licenças para operar, mas entendo que o traçado deveria ter sido discutido com os proprietários, para ter um consenso e não causar tanto prejuízo. Mas não nos perguntaram nada e simplesmente estão entrando”, relata.

Knies revela que muitos proprietários de terras em Venâncio tentaram embargar a obra, o que não avançou. Mas o descontentamento chegou à esfera judicial de outra forma. “A proposta seria de cerca de R$ 4 mil por torre. Mas essa rede será permanente e, onde ela passar, terá impacto. Então é justo que a indenização também seja permanente”, destacou o empresário.

O processo judicial acionado por Knies também foi o caminho de proprietários de terras entre Linha Ponte Queimada, Linha Campo Grande e outras localidades dentro da Estância Nova. Entre eles, Leoni Chaves. O agricultor, que planta soja no Campo Grande, conta que, em setembro, quando a empresa contratada pela Certaja entrou na propriedade para fazer os ‘pés’ da torre, deixou um ‘rastro’ de estragos. “Naqueles dias de chuva, de terra molhada, com caminhão de concreto, foram entrando, estragando o campo. Sem falar que derrubaram cerca e nem arrumaram.”

Na opinião de Chaves, o projeto começou errado. “É uma situação bem complicada. Deve ter uns 20 que também levaram para a Justiça. Eu sei que é um bem público e que vai ser importante para a região de Vale Verde, mas tem que ver o outro lado também. Ninguém discutiu nada com a gente, apenas fomos comunicados. Acho que começaram errado.”

“Não sou obrigado a dar entrada”, afirma agricultor

Edmilson Gava, produtor de arroz no Campo Grande, também não esconde o incômodo com as obras. O agricultor explica que uma torre está prevista para ser instalada nas terras do cunhado, onde ele planta. O problema é que, para chegar ao local, precisariam entrar pela sua propriedade.

“Ninguém nos perguntou nada, fizeram as marcações e estão entrando. Que façam a obra debaixo da linha que vai ocupar e não estragando outros lugares. Na minha terra ninguém entra”, disparou.

Gava argumentou que, para acessar a terra do cunhado, a empresa teria de cruzar sobre uma ponte próxima do arroio Taquari Mirim, que ele mesmo fez há alguns anos. “Eu dou a entrada se fizerem uma ponte nova. Por que quem garante que depois que o maquinário pesado passar e talvez destruir tudo, vão arrumar? Igual as cercas de outros que cortaram e não arrumaram até agora.”

O agricultor destaca ainda que, mesmo com metade da obra passando em território venâncio-airense, ela não trará melhoria na energia local. “Vai melhorar para Vale Verde, tudo bem, é importante para eles. Mas para nós não tem benefício nenhum.”

Torres também já foram erguidas em Cerro do Chileno, no interior de Vale Verde (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

Certaja diz que escolha do percurso passa pelo menor impacto ambiental

Sabendo da insatisfação de muitos moradores de Venâncio, o presidente da Certaja, Renato Martins, destacou que a cooperativa não tem impedimento legal e recebeu as licenças para executá-la. “Não existe invasão. Ou é feito amigável ou via judicial, mas temos autorização. Como é comum em todos os empreendimentos desta natureza, alguns proprietários não concordaram com os valores propostos e a questão está ou será definida pelo Poder Judiciário.”

Martins diz que não há como estimar o valor total em indenizações, mas aqueles proprietários que aceitaram a instituição da servidão de forma extrajudicial já receberam. Aqueles que optaram por discutir o valor na Justiça, receberão o valor quando ocorrer a conclusão dos processos.

Conforme o presidente, situação semelhante aconteceu em 2012, em outra obra entre Triunfo e Tabaí, e os processos seguem tramitando. “Basicamente não há concordância com o valor proposto para a indenização. Mas, na prática, os impactos que uma rede pode causar são a restrição de cultivo referente à silvicultura [florestas], assim como construção de edificações sobre as faixa de servidão, as quais foram devidamente indenizadas para esse fim.”

Martins explica que, para a determinação do percurso da rede, são consideradas variáveis como Área de Preservação Permanente (APP), travessias de rios e propriedades a serem atingidas. “Se prioriza um caminho mais curto possível, para isso, no projeto básico, são determinadas três alternativas de possíveis percursos, sendo escolhido o que tenha menor impacto ambiental e tecnicamente seja viável.”

Contrato

Sobre os estragos relatados por moradores de Venâncio, o presidente da Certaja diz que são situações normais em obras do tipo, mas que devem ser resolvidas. “Isto está previsto no contrato com a Procel, de Santa Rosa, que é a responsável pela obra. Ou ela precisa deixar tudo como estava, como uma cerca, por exemplo, ou indenizar proporcionalmente aquele pedaço de lavoura perdida.”

Ainda conforme Renato Martins, nem todas as etapas são concluídas imediatamente, ou seja, a empresa pode voltar mais vezes para terminar o trabalho. Além disso, tudo é acompanhado por um fiscal da Certaja.

Obra

As obras de instalação de uma subestação e linha de transmissão que sai de Venâncio Aires até Vale Verde começaram em setembro. Serão erguidas 84 torres ao longo de 26 quilômetros.

Segundo a Certaja, a estimativa é que o sistema deve estar concluído e energizado até maio de 2022. Até o momento, cerca de 40% da subestação e 15% das obras já estão prontas.

Além das 65 propriedades de Venâncio Aires, a rede vai cruzar por outras 25 em Vale Verde, entre as localidades de Cerro do Chileno e Lomba Alta.

O investimento será de R$ 26 milhões e deve possibilitar a distribuição de 69 kV (quilovolt). Na prática, a cooperativa diz que haverá uma melhora considerável na qualidade da energia e na confiabilidade no sistema, assim como disponibilidade de expansão desse sistema.

“Isso também vai propiciar aos municípios atendidos prospectar novos investimentos, com a garantia de contar com uma infraestrutura de energia elétrica robusta”, destacou o presidente, Renato Martins.

5,5 mil – é o número de famílias de Vale Verde, Passo do Sobrado, Santa Cruz do Sul, Rio Pardo e General Câmara que devem ser beneficiadas diretamente com a nova rede de energia.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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