Conhecido na história da música brasileira como fundador e integrante do Kid Abelha, banda de pop-rock fundada em 1981, o multi-instrumentista carioca George Israel aventurou-se em 2004 a uma carreira solo. Desde lá, lançou três álbuns: 4 Letras, Distorções do meu Jardim e 13 Parcerias com Cazuza.
O último, finalizado em 2010, foi apresentado na noite de sexta-feira, 2, na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), com participação especial do violonista e guitarrista santa-cruzense Killy Freitas.
Como o título sugere, o show trouxe parte do repertório cuja autoria o saxofonista divide com “um dos maiores poetas do Brasil” – assim que o cantor se referiu a Cazuza. No fim da tarde de sexta-feira, o saxofonista concedeu entrevista exclusiva à Folha do Mate.
Folha do Mate: Como tu vê, hoje, o rock nacional?
George: De um modo geral, acho que caiu muito. O espaço diminui. A qualidade das letras deu uma caída, mas de uma certa forma as coisas são cíclicas. O rock de dez anos pra cá não tem nada novo, que tenha marcado. Deve existir bandas boas, mas que chegaram ao público não tem. Não conheço tão bem fresno, etc, mas elas não tem uma chegada.
FM: Em relação aos gêneros que estão em evidência, como samba, funk e o sertanejo universitário, como é o teu trabalho a partir disso?
George: Não consigo puxar para outra coisa a não ser o rock, por mais que eu tento puxar para outro lado não consigo. Eu tenho esse DNA.
FM: Então, nasceu com a música no sangue?
George: Eu me considero um cara que entrou na música pelo dom ou tesão de tocar instrumento, foi mais do que somente comprar discos pra caramba, etc.
FM: Por que trocou o violão pelo saxofone?
George: Poxa, porque ninguém me ouvia (risos). Eu fui tocar rockÂ’nÂ’roll com violão, mas não dava. Geralmente as bandas em que eu tocava, inclusive a com o Frejat, eram formadas por bateria, baixo, guitarra e violão. E o violão é um instrumento difícil de ter o som amplificado. Esse foi um dos motivos.
FM: A música, na tua vida, tem o papel de trabalho ou hobby?
George: Para mim, trabalho é viajar, vender show, enfim, fazer o ‘bussinesÂ’ da história.. Mas tocar, que é a parte gostosa, é o hobby.
FM: Para ti, quem foi Cazuza?
George: O Cazuza é um daqueles caras que tu percebe que tem algo acima, no sentido de não ter uma divisão entre arte e a vida. Era um artista no estado puro. Eu, por exemplo, vivo de músico, mas de ser músico e isso tem uma coisa meio separada. Há alguns anos conheci o Paul McCartney e conversei com ele, que é um músico estratosféricamente bom, mas com certeza o Cazuza é mais artista que Paul. Não em relação à qualidade de música, mas Cazuza tinha uma ebolição, a poesia dele era sem explicação.
FM: Quais as músicas que tu ouve?
George: Não as minhas (risos). Eu não gosto, por exemplo, quando entro em um carro de um amigo e colocam um sucesso de Kid Abelha. Gosto apenas quando colocam as antigas, as quais eu não escutava há anos. Mas, no geral, eu venho ultimamente escutando jazz, bossa nova. Em casa meus filhos ouvem rock, aí eu ouço por tabela. Coloco o jazz para dar uma relaxada, mas gosto sempre de ver as inovações; e acredito que rock é um estilo de vida.
FM: O Kid Abelha terminou ou apenas deu um tempo?
George: No momento, paramos com tudo.
FM: Como compositor das músicas do Kid Abelha, como definiria as músicas?
George: Elas falam de relacionamento, mas não daquela coisa derretida. As letras chegam no assunto de uma forma diferente, sempre há uma coisa meio ‘misteriosaÂ’. é meio que algo analítico, psicoanalítico. Mesmo que falem de amor, Kid não é uma banda romântica.
FM: Com a carreira solo, algum projeto novo?
George: Este ano terá um projeto novo, também relacionado ao Cazuza. Enfim, como compositor que se preze, vou compondo também. Em maio lancei uma trilha nova, a qual se chama: Chico Buarque Cinco.