Quem tem, no mínimo, 35 anos, deve se lembrar bem das emoções nas manhãs de domingo com as vitórias de Ayrton Senna (1960-1994) na Fórmula 1. Mas, mais do que conquistar fãs no automobilismo, ele era praticamente uma unanimidade e arrastava multidões para tudo que ‘tocasse’. Ainda é, para muitos, o maior piloto da história da Fórmula 1 e um dos últimos ídolos no Brasil.
Esse impacto sobre as pessoas, Senna já causava muito antes de se tornar tricampeão mundial no esporte (1988, 1990 e 1991). Em meados da década de 1980, ele se tornou garoto propaganda de um carro que também viraria paixão nacional: o Ford Escort XR3. A coisa foi além da publicidade, porque Senna tinha os veículos para o dia a dia, se apaixonou pelos modelos e, durante anos, era comum vê-lo dirigindo-os por São Paulo ou na Inglaterra, onde morou muito tempo.
Se a maior referência mundial em automobilismo se rendeu ao carro, seria mais do que natural que milhares de brasileiros também se encantassem. E ainda se encantam. Um desses apaixonados mora em Passo do Sobrado e tem 14 Escort XR3, uma das maiores coleções do país.
Amor à primeira volta
O Escort XR3 foi apresentado no Brasil em 1983. Curiosamente, a história do personagem principal dessa matéria também começa no mesmo ano: Júnior Rayher, 38 anos, também nasceu em 1983. O jovem empresário, natural de Venâncio Aires, mas há 15 anos morando em Passo do Sobrado, deu sua primeira volta em um deles aos 10 anos. “Na época, o patrão do meu irmão comprou dois zero quilômetro, um vermelho e um cinza. Logo me chamou atenção o teto solar, os aerofólios, os faroletes. Era um modelo esportivo com um design diferente”, relata.
Após essa volta que aconteceu em 1993, o encantamento pelo modelo foi sendo alimentado com o passar dos anos e, em 2010, virou um sonho palpável: um modelo na cor cinza, 1989, comprado em Porto Alegre. Desde então, a ‘frota’ de Rayher cresceu e hoje são nada menos que 14 veículos e há exemplares de 1984 a 1995, período em que foram fabricados no Brasil.
Conforme o empresário, o número expressivo de carros já o coloca entre os líderes, se não já o maior colecionador do país, entre cerca de 15 mil que têm o veículo nas suas coleções. Só no fórum do Escort Clube do Brasil, são cerca de 30 mil integrantes.
Família
Esse amor pelo XR3 já passou para a esposa, Cássia, e para os filhos. Em Gabriel, 7 anos, e em Júlia, de apenas 1 ano e quatro meses, o olho também já brilha. “Os dois adoram e a Júlia, quando entra na garagem, vai direto no vermelho sunburst, que é conversível.”
O carro favorito da pequena foi o primeiro lançado no Brasil, em 1984, e é o mesmo de um dos comerciais feitos por Ayrton Senna. Já Gabriel é companheiro fiel dos encontros que ocorrem pelo estado, como em eventos mensais em Porto Alegre, onde colecionadores participam de exposições.
Modelos
Enquanto a pequena Júlia foi ‘fisgada’ pelo vermelho sunburst, um dos favoritos de Júnior Rayher também é um modelo vermelho, mas no tom ‘rosso’. O carro fabricado em 1986 pertencia a um morador de Sorocaba, no interior de São Paulo, e está com o venâncio-airense há 10 anos.
Mas o maior ‘xodó’ é um branco pérola, de 1995, conversível. Neste, assim como nos demais lançados entre 1992 e 1995, o estofamento é da empresa italiana Recaro, que fabricava bancos para carros de Fórmula 1 e também para a norte-americana Ford, quando lançou o Escort.
Na coleção, Rayher conta com algumas raridades, como um azul caribe 1990. “Esse é dificílimo de encontrar. Foi de um único dono por 26 anos e comprei em Viamão”, explica. Esse mesmo modelo, na cor branca e com frisos verdes, também ficou conhecido como Benetton, uma homenagem à escuderia italiana que por anos disputou a Fórmula 1.
O carro do dia a dia não é um XR3
Para comportar todos os veículos, Rayher construiu uma garagem de 280 metros quadrados. Ele dá para 16 carros, mas, como dentro também estão uma caminhonete D20 Bonanza e um trailer, por enquanto Rayher não pretende comprar outro Escort.
Da mesma forma, também não pretende vender nenhum, embora as oportunidades estão sempre à porta. “Tem muita procura e pelo menos 10 aqui venderia rapidamente. Mas não penso em vender.”
O cuidado com a coleção também se percebe em outra situação: na garagem de casa, quando o senso comum levaria a crer que o empresário tem o Escort XR3, na verdade tem um Corolla. É este o carro do dia dia de Júnior Rayher, para evitar que os da coleção fiquem expostos a situações cotidianas, como pequenas batidas no trânsito. Mas, das vezes que vai a Santa Cruz ou retorna à cidade natal, o trajeto é com um dos XR3.
Miniaturas
A paixão por modelos Escort também é vista na sala de casa. É lá que o empresário mantém outra coleção de XR3, nesse caso miniaturas de escalas 1 para 18 (com cerca de 30 centímetros). São sete itens importados do Reino Unido. É nesta parte da Europa, aliás, que está boa parte dos colecionadores do carro em nível mundial.
7 – é o número de conversíveis entre os 14 da coleção.
Apelido proibido
Entre os apaixonados pelo carro, há um termo totalmente proibido: cicatriz. Esta palavra é atribuída por muita gente para se referenciar ao modelo, já que o som lembra ‘ex-corte’. “É proibido falar”, comentou Júnior Rayher. Originalmente, a palavra Escort, em inglês, significa ‘acompanhante’.
“O Escort XR3 para mim é uma paixão. Uma paixão que envolve a família e os amigos. Que proporciona uma integração muito grande, conhecendo pessoas e fazendo novas amizades.”
JÚNIOR RAYHER – Empresário e colecionar de Escort XR3
Para quem é fã dos carros ou quer conhecer mais sobre, Júnior Rayher criou uma página no Instagram: @garagem_escort_xr3.