Após a confirmação do repasse de uma área pela família Henkes à Prefeitura de Venâncio Aires para a construção de um reservatório de água no município, a Folha do Mate repercutiu o assunto com o engenheiro civil e de minas, Fernando Alves Cantini Cardozo, e o gerente local da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), Ilmor Dörr.
Na opinião de Cardozo, que também é mestre e doutorando pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em uma primeira análise, a área doada ao Município para a construção de um reservatório de água não é a ideal. De acordo com ele, que é autor de um estudo sobre a bacia do arroio Castelhano e acompanha os movimentos relacionados ao manancial, os 20 hectares oferecidos pela família Henkes estão em uma baixada e têm histórico de alagamento em épocas de cheias do curso d’água.
“Estou considerando as informações superficiais que temos, sem grandes precisões. Precisamos de um aprofundamento bem grande e vários quesito têm de ser percorridos para se conseguir fazer um projeto consistente. É preciso um levantamento topográfico numa boa extensão, para que tenhamos dados de qualidade sobre o arroio. Vazões, precipitações, possibilidades, tudo tem que ser analisado por um corpo técnico habilitado, capacitado e experiente”, comenta. Ele diz que a área não precisa ser descartada, mas destaca que, em caso de concretização do reservatório, “teríamos uma demanda de controle bem maior, tanto construtivo quanto de manutenção”.
Assoreamento
Cardozo salienta ainda que, nos períodos de cheias, o reservatório seria inundado pelo manancial, o que acarretaria no acúmulo de sedimentos. “Dessa forma, teríamos um cenário muito semelhante ao que já acompanhamos atualmente, nas partes baixas do arroio, onde frequentemente é preciso fazer o trabalho de desassoreamento, que é natural e esperado para um curso d’água como o Castelhano”. Levando em consideração a declividade ao longo do curso d’água, o mais recomendado, conforme o especialista, seria construir o reservatório entre o bairro Santa Tecla e a região serrana, a jusante do ponto de captação de água da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), localizada no Acesso Grão-Pará.
Ele sugere que o problema da escassez de água na Capital do Chimarrão poderia ser resolvido “com alguma intervenção de engenharia, talvez uma barragem ou um lago de amortecimento. Só que esta área também não seria ideal, justamente pelo fato da topografia e das inundações. A tendência seria de alagamento e de impacto a uma área muito grande. Por isso, se a opção for pela barragem, uma área mais acima seria ideal”.
“O arroio Castelhano tem uma declividade bem variada. É alta na região da serra e começa a ficar baixa nas proximidades da área urbana e até desaguar no Taquari. Isso explica os episódios de inundações que temos rotineiramente.”
FERNANDO ALVES CANTINI CARDOZO – Engenheiro civil e de minas, mestre e doutorando pela UFRGS
O que diz a Corsan
A cúpula da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) elegeu o gerente da unidade de Venâncio Aires, Ilmor Dörr, para falar a respeito do projeto do reservatório de água na área doada pela família Henckes.
De acordo com Dörr, “a atitude da família Henkes é louvável e a Corsan tem total interesse de participar desta construção”. Ele também salienta, no entanto, que o ideal seria uma área antes do ponto de captação de água.
O gerente local da estatal diz que esta à espera de um contato da Prefeitura de Venâncio Aires para assumir papel de protagonismo em relação ao projeto. “Primeiro o Município terá os trâmites para receber a área, depois podemos avançar”, observa.
Dörr lembra que representantes da Prefeitura de Venâncio Aires e do corpo técnico da Corsan devem se reunir para analisar de que forma a proposta pode sair do papel. “Temos que ver o custo-benefício, questões ambientais, profundidade e autonomia”, diz.
Como exemplo, o gerente da unidade venâncio-airense cita o reservatório de Itaara, município próximo de Santa Maria. “São 180 hectares de área, com 38 metros de profundidade, o que garante uma autonomia de 400 dias em caso de escassez de água”, calcula. No caso dos 20 hectares às margens da RSC-453, com profundidade de 1,5 metro seria possível ter uma autonomia de até 30 dias, ressalta Dörr.
“A Corsan tem total interesse em um ponto de maior captação. Se for na área que está sendo doada, vamos adequar o sistema para que a água chegue até a estação de tratamento localizada no bairro Morsch. Não podemos descartar nenhuma possibilidade.”
ILMOR DÖRR – Gerente da unidade de Venâncio Aires da Corsan