Os 30 anos do Condomínio Suinícola Progresso: pioneirismo e modelo

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O Brasil sempre foi um país consumidor de carne suína e, durante muito tempo, era abastecido pelo que aqui chamamos de ‘porco da colônia’, aquele criado em casa. Mas, a partir da década de 1980, a produção industrial em grande escala também impactou o setor.

O mercado de suínos cresceu em quantidade e competitividade, principalmente no oeste de Santa Catarina, onde estão, até hoje, as maiores marcas alimentícias do país. Consequentemente, para ‘sobreviver’ em meio a esse sistema de demanda em escala, os pequenos produtores também precisaram se mexer. Assim, ganharam força as associações, cooperativas e condomínios para criação conjunta de animais.

Em Venâncio Aires, tal cenário foi vivido por cerca de 40 famílias que, no fim da década de 1980, não tinham mais a rentabilidade esperada com a criação individual de porcos. A partir de uma sugestão da então Cooperativa dos Suinocultores de Encantado Ltda (Cosuel) – hoje Dália Alimentos -, a qual comprava os leitões nascidos nessas propriedades, os produtores se uniram e fundaram, em 19 de dezembro de 1991, o Condomínio Suinícola Progresso, em Linha 17 de Junho, o primeiro do município.

“A fundação aconteceu no Pavilhão São Sebastião Mártir. Já veio com bênção, nada é por acaso e seguimos até hoje”, comenta Lucimar Puhl, 51 anos, tesoureiro do condomínio. Ele é um dos atuais 24 associados, mas, há 30 anos, participou da formação como Técnico em Agropecuária.

Um dos primeiros associados e atual presidente, Irio José Frey, 66 anos, destaca que a decisão foi uma questão de sobrevivência. “Naquele tempo já se falava em ter uma escala maior de produção, mas como o pequeno produtor ia conseguir com poucos bichinhos em casa? Então, foi a saída para que a gente continuasse com suínos e alcançasse esse crescimento que a empresa [Dália] esperava.”

Início

As primeiras reuniões dos associados aconteceram no antigo mercado que a Cosuel tinha no Centro de Venâncio. Sentados sobre os sacos de ração, os produtores começaram a se organizar. O nome ‘Progresso’ foi escolhido porque, mais do que manter a atividade, todos queriam crescer com o novo empreendimento.

O início foi mais modesto, com apenas 240 matrizes (hoje a capacidade é para 1,4 mil) em quatro galpões. “Foi o que o financiamento deu, porque mais de 80% dos investimentos foi do próprio bolso dos associados”, recorda Irio Frey.

No Condomínio Suinícola Progresso, leitões nascem e permanecem até os 21 dias de vida (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Estrutura

O Condomínio Suinícola Progresso está localizado em uma área de 8 hectares, em Linha 17 de Junho. Além de uma sede com escritório, sala de reuniões e vestiários, na parte alta da propriedade estão os nove galpões. Cada um tem cerca de 85 a 100 metros de comprimento.

No Progresso funciona a primeira parte da produção suína, a maternidade. São atuais 1,2 matrizes da cor branca (Agroceres Pic) que emprenham por inseminação artificial. Os leitões nascem lá e ficam com as mães até 21 dias. Depois, saem do condomínio para a chamada ‘creche’ e, por fim, até a terminação.

No pavilhão da gestação, onde ficam as futuras mães, a alimentação é automatizada (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Conforme Irio Frey, essa era a ideia inicial do condomínio. “Chegamos a ter a creche aqui um tempo, mas isso não foi mantido devido à inviabilidade com a sanidade animal. Hoje tem dois associados que têm a terminação. Sempre se pensou no ciclo completo, mas ainda não foi possível.”

Dos atuais 24 associados, todos estiveram representados na fundação, em 1991. Mesmo quem já faleceu, a sociedade permanece com as mulheres ou com os filhos. Há sócios que moram em Linha 17 de Junho, Cecília, Santa Emília, Travessa, Saraiva, Deodoro e até Mato Leitão.

Um modelo para outros

“Ele tem uma importância enorme para Venâncio e toda a região. Quando iniciou foi um dos primeiros no Rio Grande do Sul que deu certo e desencadeou novos processos. Depois disso teve a criação de vários outros, como os da avicultura, que foram copiados devido ao sucesso dele.”

A fala é do engenheiro agrônomo e chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin, ao comentar sobre o condomínio que se mantém atuante 30 anos depois. Para ele, o fato de o local ser gerido pelos próprios produtores também um diferencial.

“Quando é administrado e tocado pelos produtores, isso é o ideal. Que eles tenham a gerência e a determinação sobre isso. E os condomínios são importantes porque permitem a união de vários produtores para fazer, em conjunto, todo o investimento.”

Vicente Fin destaca ainda os modelos que se seguiram depois da implementação do Progresso. “Muita coisa se buscou em Santa Catarina, nos anos 90, que foi onde praticamente tudo começou. Mas depois de feito aqui, ele serviu de modelo para outros. O próprio Condomínio Avícola de Venâncio teve o modelo copiado de lá.”

Outra referência do chefe da Emater é a estrutura do pavilhão agropecuário do Parque do Chimarrão. Segundo Vicente Fin, o espaço é um típico modelo de baia de recria de leitões.

42,6 mil – foi o número de leitões entregues em 2021.

Organização e novos investimentos

O condomínio tem nove funcionários, entre homens e mulheres, que trabalham diretamente no manejo e trato com os leitões e as porcas. Além disso, tem um contador que está na Linha 17 de Junho todas as tardes.

Por mês, tem duas reuniões: uma do Conselho Fiscal e outra entre todos os associados, onde os números são analisados. “Cuidamos da gestão, sempre se tem diálogo entre diretoria e cooperativa [Dália Alimentos]. Nos preocupamos sempre em ter um capital de giro, porque na suinocultura tem altos e baixos. Então se a gente não mantivesse essa organização, talvez não teríamos chegado até aqui”, destacou o tesoureiro, Lucimar Puhl.

Pensando em fazer jus ao nome ‘progresso’, os associados querem continuar crescendo. Para isso, novos investimentos foram e serão necessários. Recentemente, o grupo investiu cerca de R$ 400 mil para instalação de 180 placas solares. “Isso vai dar para a metade da conta de luz [atualmente em R$ 14 mil]”, revelou o presidente, Irio Frey. Outra preocupação é com a questão ambiental e por isso o objetivo é comprar um biodigestor para dejetos suínos, que vai transformar a matéria armazenada em biogás ou biofertilizante. O item já foi orçado e custa em torno de R$ 350 mil.

Para o presidente, um ponto que também precisa atenção foge da alçada do condomínio: o acesso à propriedade. Segundo Frey, o poder público precisa ‘caprichar’ mais nesse quesito. “Não lembro a última vez que teve uma máquina trabalhando nesse acesso. Isso precisa melhorar, de forma geral, em todo interior. É urgente”, avaliou.

Ranking

Na lista dos 100 maiores produtores rurais por retorno de ICMS em Venâncio Aires em 2020, o Condomínio Suinícola Progresso ficou em segundo lugar. A relação foi divulgada em novembro passado, na revista Perfil Socioeconômico, produzida pelo jornal Folha do Mate.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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