Nos três últimos janeiros o cenário é o mesmo: dá para contar nos dedos quantos dias choveu nas primeiras semanas do ano desde 2020. E se essa contagem ficar apenas em quantidades maiores, o índice pluviométrico é ainda mais escasso em Venâncio Aires todo início de ano.
Mas a falta de uma chuva ‘encorpada’ já vem da primavera e a seca vem penalizando a agricultura desde novembro. Conforme relatório divulgado nesta segunda, 24, pela Emater, o município já passou de R$ 52 milhões em prejuízos com a estiagem.
Os dados abrangem o período de 1º de novembro de 2021 a 17 de janeiro de 2022. Só no milho safra são 19,2 mil toneladas, o que dá R$ 29,8 milhões – 57% do total das perdas financeiras. Quem está prestes a ‘incrementar’ mais esse dado negativo é Marcus Antônio Hinterholz, 53 anos, de Vila Santa Emília. Nos próximos dias ele irá colher 4,2 hectares de milho e já projeta uma perda de 70%.
“Uma média boa seria uns 130 sacos por hectare. Mas com espigas que não chegam a 15% da sua formação no grão, vai ficar muito abaixo disso”, avalia o engenheiro agrícola e extensionista rural da Emater, Diego Barden dos Santos, que esteve ontem à tarde da propriedade de Hinterholz para fazer a estimativa de produtividade.
O agricultor de Santa Emília relata que devido às dificuldades do últimos verões e, temendo novas perdas, optou por financiar o custeio da lavoura, através Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). “Ninguém faz um ‘custeio’ para aproveitar o seguro. Mas pensando que é na terceira seca seguida e essa é a pior, o jeito foi tentar se ‘defender’ um pouco”, revelou.
A seca também trouxe graves prejuízos em outra produção de Hinterholz: em um hectare onde cultivava 300 pessegueiros a perda chegou à metade. “Eu molhava pé por pé, mas não adiantou.” Sobre irrigação, aliás, o agricultor entende que não adianta investir em um sistema se não tiver uma fonte de água suficiente. “Eu tenho açude, mas ele não me garante água o tempo todo.”
Outros
Considerando a parte econômica, o tabaco aparece na sequência do milho, com R$ 8,4 milhões de prejuízo. As perdas poderiam ser ainda maiores se não tivesse chovido um pouco na última semana. Ainda que de forma espaçada e irregular sobre o território do município, houve precipitação na terça, 18, e no sábado e domingo. Somando os três dias, de acordo com o pluviômetro do Corpo de Bombeiros, foram 35 milímetros na área central da cidade. Mas, o que se sabe de relatos, que em algumas localidades do interior choveu mais de 100 milímetros.
“O caso do arroz, por exemplo, estava num ponto de perdas acentuadas, menos mal que as áreas próximas do arroio Castelhano tiveram um pouco mais de chuva. Ainda assim, algumas partes são irreversíveis, dentro dos 650 hectares atingidos. Se não tivesse chovido semana passada, as perdas iam para 50% da área total. Já na soja, se passasse mais duas semanas sem chuva, dava 50% de perda”, avaliou o chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin.
Pelo relatório divulgado ontem, a estiagem causou perdas de 30% no arroz – R$ 2,34 milhões. Já na soja, dos 250 hectares atingidos (referentes ao replantio), os danos são de 70% – R$ 312 mil.
Houve um aumento geral nos danos desde 20 dezembro, quando a Emater divulgou relatório parcial de R$ 39,8 milhões em prejuízos. Há um mês, só o milho contabilizava R$ 24 milhões em perdas.
1.850 – é o número de famílias de Venâncio Aires atingidas pela estiagem, com perdas irreversíveis nas suas respectivas lavouras.
Mais um tanque para levar água ao interior
Uma reunião na manhã desta terça-feira, 25, pode determinar o reforço no abastecimento do interior de Venâncio Aires. Segundo a prefeita em exercício, Izaura Landim, a situação será avaliada junto com a Secretaria de Desenvolvimento Rural. “Vamos avaliar a necessidade de ter mais um tanque ou não, para levar água ao interior. Enquanto isso o trabalho segue, embora estamos com dificuldades, porque tem funcionários afastados devido à Covid”, revelou Izaura.
Na parte urbana, a prefeita destacou que ainda nesta quarta-feira, 26, existe a possibilidade de mudança no decreto referente ao racionamento de água. “Os níveis de água não são bons, mas estamos avaliando a possibilidade de os postos de lavagem poderem retomar o trabalho, pensando no fator econômico dessas atividades. Mas vamos aguardar a situação até quarta.”
Agilidade*
O presidente da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar, deputado Heitor Schuch (PSB) cobrou agilidade no anúncio de medidas de socorro aos agricultores. O assunto foi discutido ontem, durante reunião on-line entre as Federações dos Trabalhadores na Agricultura da Região Sul e Confederação dos Trabalhadores na Agricultura, com os secretários do Ministério da Agricultura.
A pauta inclui pedido de renegociação das dívidas e crédito especial de R$ 80 mil por família, com juro zero e prazo de 10 anos para pagamento. No Rio Grande do Sul, já são quase 350 municípios em situação de emergência. O parlamentar reforçou a urgência da situação e a necessidade de ajuda imediata do governo.
“O cenário é dramático, os agricultores não podem mais esperar. A própria Ministra Tereza já esteve no Estado, verificou os prejuízos. As perdas não param de crescer”, destacou Schuch. Na última semana,ele já havia pedido ao relator do Orçamento, Hugo Leal, a liberação de R$ 1,5 bilhão dos recursos das emendas especiais para ajudar nos programas de captação de água dos municípios.
*Com informações AI Deputado Heitor Schuch.