Clima de apreensão nas repúblicas bálticas

A quinta-feira, 24 de fevereiro 2022, ficará gravada como um dia negro na história da Europa. O dia em que os russos invadiram o território da Ucrânia, um país independente e que compartilha sua história e cultura com a Rússia, país vizinho e agora inimigo sangrento. Para entender melhor este conflito temos que voltar um pouco no tempo e observar a geopolítica desta região. Parte da Ucrânia fora ocupada durante o Império Russo, assim como, parte da Polônia, as repúblicas bálticas e Finlândia. Até 1991 a Ucrânia fazia parte da União Soviética, juntamente com outras 15 repúblicas, entre elas a Lituânia.

Aos olhos do presidente russo, Vladimir Putin, estes países não deveriam ter conquistado sua própria independência. Com algumas das repúblicas soviéticas rapidamente se voltando ao ocidente e aderência à União Europeia, os russos se viram isolados no leste e a Ucrânia continuava a desejar seu ingresso na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança militar internacional fundada em 1949 e que conta com 30 países-membros, entre eles: Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Turquia e os três países bálticos. Desta forma durante décadas a Rússia tentou se infiltrar nos governos ucranianos e criou conflitos congelados para dividir a nação e abafar o anseio de fazer parte da Otan. Com esta guerra a Rússia pretende preservar sua influência sobre uma área que já foi a cabeça da União Soviética e seu objetivo final, acreditam os cientistas políticos, é de resgatar o território do antigo Império Russo.

Milhares de participantes caminharam pelas ruas da capital.

O clima de apreensão na Lituânia é compreensível pois esta pequena república foi russificada durante um século e fez parte da URSS. Esta história sombria continua bem viva para muitos aqui e o temor de ter que sobreviver a outra ocupação é palpável. Desde o início de sua história lá nos tempos pagãos, os lituanos sempre lutaram pela própria identidade e pela liberdade. E nesta semana, na quinta-feira à noite na maioria das grandes cidades da Lituânia o povo foi às ruas em solidariedade aos ucranianos. Aqui em Vilnius milhares de jovens e famílias caminharam com lanternas e bandeiras da Lituânia e Ucrânia até a sede da embaixada da Rússia na capital, demonstrando resiliência e desafiando qualquer possibilidade de invasão aqui. Monumentos, embaixadas e prédios oficiais estão iluminados com as cores azul e amarelo, da bandeira ucraniana. O mundo inteiro vem se proclamando contra esta guerra absurda. Por aqui, o governo lituano decretou estado de emergência em todo país em preparação para qualquer movimento que possa afetar a segurança pública. Isso significa que o controle nas fronteiras será intensificado e dá poder de armamento às autoridades militares. Se o objetivo desta guerra for realmente o de resgatar as fronteiras durante o domínio russo dos anos de 1800, as repúblicas bálticas serão provavelmente os primeiros alvos, mas em pleno 2022, fazendo parte da Otan e da União Europeia, é muito difícil de imaginar tal feito. A preparação, no entanto, para qualquer eventualidade, já está à caminho.

Enquanto a primeira-ministra lituana tentava repassar tranquilidade à nação em pronunciamento na quinta-feira à noite, ao conversar com amigos percebe-se a preocupação de viver um possível ataque, a longo prazo, por exemplo. Vilnius está localizada a 50km da fronteira com a Bielorrússia e desta forma se transformaria numa porta de entrada, visto que o governo bielorrusso é o aliado mais importante dos russos nesta guerra. A Bielorrússia faz fronteira com a Ucrânia e construiu uma ponte clandestina entre os dois países para transportar armamento aos soldados russos. O risco de eles tentarem o outro lado, na fronteira com a Lituânia, existe, embora mínimo neste momento. As tropas extras e tanques da Otan já estão se instalando ao longo da fronteira dos países aliados da região do báltico, Lituânia, Letônia e Estônia, reforçando assim uma linha vermelha em torno da guerra na Ucrânia.

Nunca imaginei que estaria escrevendo sobre a possibilidade de ataques neste pequeno país banhado pelo mar Báltico onde moramos desde 2018. Eu continuo a acreditar, no entanto, que esta jovem democracia irá superar este clima de apreensão.

Muitos prédios iluminados pela bandeira ucraniana.

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