Cultura da erva-mate em evidência

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O cultivo de erva-mate envolve 530 famílias de agricultores, em Venâncio Aires. O município conta com 1.300 hectares de área plantada, com uma produtividade média de 6,6 toneladas por hectare. Neste ano, no entanto, deve ficar em torno de 6,3 toneladas, por conta da estiagem. Do total, 720 toneladas são nativas. Entre as principais regiões produtoras estão os distritos de Vila Santa Emília, Palanque e Deodoro.

Em décadas anteriores, Venâncio já chegou a ser o município gaúcho com maior área plantada de erva-mate, com 4.700 hectares. A emancipação do distrito de Mato Leitão, em 1992, o qual concentrava boa parte dos ervais, e mudanças no mercado que levaram muitos produtores a desistirem da atividade, contribuíram para uma mudança no cenário.

Venâncio Aires e a tradição do chimarrão

O chefe do escritório da Emater/RS-Ascar, Vicente Fin, comenta que grande parte dos produtores acabou trocando a produção da erva por culturas mais rentáveis, como aipim, soja e milho verde. Desde 2013, no entanto, com a criação da Associação dos Produtores de Erva-mate do Polo Ervateiro dos Vales (Aspemva), o cultivo tem sido fomentado na Capital do Chimarrão. A distribuição de mudas para as famílias é uma das políticas públicas ativas em Venâncio, por meio do Programa Municipal de Reflorestamento. Todos os anos, a Prefeitura subsidia 50% do valor de até mil mudas de erva-mate, por produtores. Em 2019, foram 31 famílias contempladas; em 2020, 34 famílias e, no ano passado, 27.

Fin observa que o foco tem sido na recomposição e no adensamento dos ervais. “A área plantada permanece, mas a tendência é de aumento na produtividade, com adensamento desses ervais. Em geral, há espaço nos ervais, pois antigamente o plantio era mais longe.”

• A produção de erva-mate é um dos fatores que contribuíram para consolidar a identidade de Venâncio Aires com o chimarrão. Desde 2009, o município ostenta o título de Capital Nacional do Chimarrão, por meio da lei estadual 13.281. O projeto teve autoria do deputado estadual Giovani Cherini.

• Além da produção agrícola, há grande destaque das ervateiras locais, que são reconhecidas no Rio Grande do Sul, comercializam para outros estados e inclusive para fora do país. Atualmente, as marcas Madrugada e Elacy vendem erva-mate para chimarrão e tererê, além de compostos com chá. A Ervateira Rainha, de Linha Travessa, atua com foco apenas de erva-mate para tererê, para o Paraná e Mato Grosso do Sul.

• Entre os fatos que ajudam a entender a ligação cultural com o chimarrão, a historiadora Angelita da Rosa destaca que o município teve uma grande população indígena. “O chimarrão é um hábito indígena e que se perpetuou pois foi assimilado pelos imigrantes povoadores luso-portugueses, que receberam terras e se instalaram no território, e pelos colonizadores, principalmente alemães que chegaram depois”, comenta.

• A historiadora observa que o hábito do chimarrão poderia ter desaparecido, assim como tantos outros hábitos indígenas, mas foi preservado por diferentes povos. Presume-se que como a alimentação da nova terra era muito diferente da qual os imigrantes estavam acostumados, os benefícios do chimarrão como um chá digestivo fizeram com que ele fosse incluído na rotina.

• Paralelamente, a partir da realização da Festa Municipal do Chimarrão (Femuchim), que teve edições em 1971 e 1976, e com a Fenachim, que teve a primeira edição em 1986, o aspecto cultural do chimarrão passou a se consolidar ainda mais no município.

Atuação da Aspemva

A Associação dos Produtores de Erva-mate do Polo Ervateiro dos Vales (Aspemva) foi criada no dia 13 de maio de 2013 e conta atualmente com 21 associados. Segundo o presidente da entidade, Cleomar Henrique Konzen, são aproximadamente 100 hectares de plantio de erva-mate, todos de agricultores familiares. As propriedades ficam em Vila Palanque, Linha Travessa, Vila Santa Emília e Linha 17 de Junho.

A associação representa a região dos vales do Taquari e Rio Pardo, um dos cinco polos ervateiros do Rio Grande do Sul. Os objetivos da Aspemva são organizar, orientar, desenvolver e fortalecer os produtores de erva-mate. “Isso buscando parcerias que possam auxiliá-los trazendo benefícios econômicos, sociais e ambientais”, salienta Konzen.

A entidade é mantida por meio da contribuição dos associados e algumas fazem parte, inclusive, dos pontos de visitação da Rota do Chimarrão. O presidente reforça que novos associados são bem-vindos ao grupo e interessados podem entrar em contato com os sócios para orientação.



Juliana Bencke

Juliana Bencke

Editora de Cadernos, responsável pela coordenação de cadernos especiais, revistas e demais conteúdos publicitários da Folha do Mate

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