Em um município com cerca de 40% da população residindo no interior e com mais de 13% da economia atrelada à produção agrícola, a produção rural não poderia deixar de ser um dos protagonistas do maior evento da cidade. Produtos de agroindústrias, turismo rural e máquinas e implementos e agrícolas estão entre os destaques da 16ª Festa Nacional do Chimarrão (Fenachim), que se estende até este domingo, 15.
O espaço que mais tem a ‘cara’ e o gostinho do interior venâncio-airense é o Pavilhão Agroindustrial Leci Siebeneichler. Cuca, rapadura, queijo, pasteis, produtos à base de nozes e de aipim são algumas das opções. Localizado na parte inferior do Parque do Chimarrão, o local conta com 20 boxes, onde 22 agroindústrias comercializam produtos. O espaço é coordenado pela Emater/RS-Ascar, Secretaria de Desenvolvimento Rural, Cooperativa de Produtores de Venâncio Aires (Cooprova), Sindicato Rural e Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR).
“São 16 agroindústrias locais, seis de fora de Venâncio e três expositores de artesanato rural”, destaca o chefe da Emater, Vicente Fin. Além disso, oito floriculturas e viveiros de mudas, o grupo de sementes crioulas e um meliponário participam da mostra. “Com a exposição, buscamos promover quem está presente com seus produtos e despertar para as áreas que não estão contempladas, para que possa haver investimento nisso”, observa Fin.
No Pavilhão Agroindustrial, está uma amostra do interior de Venâncio. “Já tem agroindústrias familiares que se expandiram muito e já empregam mais pessoas”, comenta Fin. Atualmente, são 26 agroindústrias no município, todas vinculadas à Cooprova. A cooperativa, aliás, também marca presença no Pavilhão Agroindustrial com a venda de filé de tilápia frito.
Visitantes aprovam
A santa-cruzense Rosane Mallmann, 64 anos, e o esposo Odilo Mallmann, 68 anos, visitaram a festa na quinta-feira, 12, acompanhados do casal de amigos Laurena, 69 anos, e Carlos Jordan, 70 anos. Os produtos coloniais estiveram entre os itens que mais chamaram atenção deles. Linguiça, chips de aipim e pão de erva-mate com açafrão estiveram entre os produtos adquiridos pelos amigos. “O pão de erva-mate é uma novidade, algo que não conhecia. Provei e gostei, então resolvi comprar”, comenta Rosane.
Vitrine para os produtos e contato com o público
A oportunidade de mostrar os produtos em uma vitrine importante como a Fenachim e ter contato presencial com os clientes estão entre os aspectos mais destacados pelos produtores rurais que comercializam os produtos na festa.
“O contato direto com o cliente é incomparável. É uma quebra de barreiras, uma forma de divulgar o produto. As pessoas adquirem e buscam saber onde podem comprar. Como a maioria dos produtores faz feira, é uma boa forma de divulgar”, considera o presidente da Cooprova, Marnei Rubens Becker, da agroindústria Bolachas Tia Leci, de Linha Maria Madalena. “Estávamos receosos por causa da pandemia, mas está tudo se encaminhando de forma positiva”, comemora.
Ledi Maggioni, de Linha Arroio Grande, também está satisfeita com as vendas. Por conta do interesse do público, passou a vender pão de erva-mate com açafrão, além da torta de erva-mate com calda de morango. O item mais vendido por ela, no entanto, é a cuca.
Para poder estar no estande em alguns momentos e seguir na produção dos itens, ela se desdobra em uma rotina intensa. “Vou dormir e acordo de madrugada, para poder trazer os produtos fresquinhos, mas gosto muito de estar presente, pois é muito bom conversar com as pessoas, explicar o processo e também ouvir os elogios”, salienta.
Esta é a terceira vez que ela participa da Fenachim com a agroindústria. “Está sendo a melhor. Acho que a pandemia despertou isso nas pessoas, de que precisam aproveitar cada dia. Por isso estão passeando e consumindo”, analisa a empreendedora.
Estreia na Fenachim
Diferente de Ledi Maggioni e de Marnei Becker, que já têm ‘experiência’ de Fenachim, esta é a primeira vez que Silvana e Cândido Gonçalves participam do evento. Junto do filho, da nora e da neta, o casal de Linha Picada Nova tem produção de nozes e agora conta com a Container’s Nozes, agroindústria de derivados de nozes.
Há opções salgada, doce e agridoce, além de nozes in natura, com chocolate e em trufas. “Há uns três anos estamos trabalhando com as nozes, mas é a primeira exposição como agroindústria”, explica o produtor. De acordo com ele, a ideia é seguir para outras feiras, como a Expobento, em Bento Gonçalves.
Foco nos agricultores
Os produtores rurais também são o principal público aguardado para diversos expositores, com implementos agrícolas, máquinas, veículos e insumos. Grande parte deles está instalado na área externa superior do Parque do Chimarrão. No espaço da Cooperativa Languiru, o setor de máquinas chama atenção. “Como temos o Agrocenter Languiru em Venâncio, viemos para a feira buscando evidenciar esse segmento”, explica Andressa Wahlbrinck, do setor de Marketing da cooperativa.
No estande da Afubra, equipamentos como motosserras e roçadeiras, sistemas de energia solar e mudas do Viveiro Agroflorestal são destaque. Opções de forrageiras, cana de açúcar, batata-doce, árvores nativas e frutíferas, plantas ornamentais e bioativas podem ser conferidas no local. “É uma oportunidade de as pessoas conhecerem essas mudas da Afubra, adquirirem no próprio local ou encomendarem para outro momento”, destaca o técnico em Agropecuária Cleiton Calheiro.
“A feira não são apenas as vendas durante o evento. É uma oportunidade de estar em uma grande vitrine da região.”
CLEITON CALHEIRO – Técnico em Agropecuária da Afubra
Tia Leci, uma pioneira
A empresa Bolachas Tia Leci, agroindústria familiar de Linha Maria Madalena, participa da Fenachim desde a primeira edição da festa, em 1986. Não por acaso, o Pavilhão Agroindustrial é uma homenagem à Leci Siebeneichler, já falecida. O genro de Leci, Marnei Becker, explica que a família mantém a tradição, pois a festa é uma vitrine para os produtos. “A Fenachim sempre teve essa característica e acredito que isso pode ter inspirado feiras que vieram depois, como a própria Expoagro Afubra, que hoje é muito forte”, destaca.
Foi justamente durante uma Fenachim que a família conheceu uma antiga cliente de tia Leci, que foi uma das incentivadoras do início da produção de panificados. A história relatada pela cliente foi de que, em um dos dias em que Leci vendia verduras, na feira, ela viu que havia bolacha – a tradicional rosca com cobertura de merengue. “Ela viu a bolacha e quis comprar, mas na verdade era o lanche que a Leci tinha levado. Por insistência, ela acabou vendendo”, relata Becker.
Assim começou um pequeno negócio que se tornou o carro-chefe da família e hoje já tem mais de 40 anos. Mais tarde, a família interrompeu a venda de verduras e focou nas bolachas, no pão e na cuca, trabalho que hoje segue coordenado por Becker, a esposa Lisiane e o viúvo de Leci, Eleutério.