Descoberta em 1958, a varíola do macaco é um vírus transmitido dos animais aos seres humanos, com sintomas semelhantes aos da varíola tradicional, apesar de mais leves. Entre eles estão a febre, dor de cabeça, dores musculares e exaustão. A principal diferença entre os sintomas é que a varíola do macaco faz com que os gânglios linfáticos inchem (linfadenopatia).
O Brasil confirmou o primeiro caso da doença na quarta-feira, 8. Trata-se de um homem de 41 anos que viajou à Espanha, segundo país com o maior número de casos da doença. O paciente foi colocado em isolamento no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) informou, também na quarta-feira, 8, que já são mais de mil casos relatados em 29 países fora da África, onde a doença é endêmica. Apesar disso, a OMS afirma que nenhuma morte pela doença foi registrada e que o surto ainda é controlável.
Segundo a professora de virologia dos cursos de Farmácia e Biomedicina da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e do Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde, Lia Possuelo, a transmissão de humano para humano pode resultar de contato próximo com secreções respiratórias, lesões na pele de uma pessoa infectada ou objetos recentemente contaminados. “A transmissão por partículas respiratórias por gotículas geralmente requer contato pessoal prolongado, o que coloca em maior risco os profissionais de saúde, membros da família e outros contatos próximos de casos ativos.”
Cuidados
De acordo com a professora de Virologia dos cursos de Farmácia e Biomedicina da Unisc e do Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde, Jane Renner, deve se aumentar a conscientização sobre os fatores de risco e educar as pessoas sobre as medidas que podem tomar para reduzir a exposição ao vírus. “Estudos científicos estão em andamento para avaliar a viabilidade e adequação da vacinação para a prevenção e controle da varíola do macaco. Alguns países têm, ou estão desenvolvendo, políticas para oferecer vacina a pessoas que possam estar em risco”, pontua.
Essa doença dura, geralmente, de duas a quatro semanas. Jane conta que, como a transmissão ocorre mais na fase sintomática, é preciso treinar profissionais de saúde e orientar a população para que o diagnóstico precoce aconteça. “É necessário isolar e receber adequadamente os primeiros pacientes, além de rastrear adequadamente seus contatos.”
Transmissão
Lia cita que a cadeia de transmissão em uma comunidade aumentou nos últimos anos de seis para nove infecções sucessivas, de pessoa para pessoa. “Isso pode refletir o declínio da imunidade em todas as comunidades devido à cessação da vacinação contra a varíola.”
A transmissão também pode ocorrer através da placenta da mãe para o feto (o que pode levar à varíola congênita) ou durante o contato próximo durante e após o nascimento. “Embora o contato físico próximo seja um fator de risco bem conhecido para a transmissão, não está claro neste momento se a varíola do macaco pode ser transmitida especificamente por meio de vias de transmissão sexual. Estudos são necessários para entender melhor esse risco”, frisa Lia.
No Brasil
De acordo com Lia, devido às características virais, a doença não deve se espalhar tão rapidamente quanto a Covid-19. “É um momento em que precisamos realizar pesquisas para entender melhor as características do vírus, para que seja possível agir corretamente e evitar um problema de saúde pública. Além disso, o Brasil deve preparar seus profissionais para atuar em programas de vigilância e detecção de casos, ferramentas essenciais para compreender a epidemiologia e conter a disseminação”, cita Lia.
“Cabe ressaltar que é uma doença emergente, que estudos científicos estão em andamento para entender melhor a epidemiologia, as fontes de infecção e os padrões de transmissão. Por este motivo devemos ficar atentos às informações falsas que muitas vezes são disseminadas nas redes sociais causando pânico à população.”
JANE RENNER
Professora de Virologia dos cursos de Farmácia e Biomedicina da Unisc
Os sintomas
- Febre, dor de cabeça, dores musculares, linfonodos inchados, arrepios e exaustão;
- Gânglios linfáticos inchados (linfadenopatia);
- O período de incubação (tempo desde a infecção até os sintomas) é, geralmente, de sete a 14 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias;
- De um a três dias após o aparecimento da febre, o paciente desenvolve uma erupção cutânea, geralmente começando no rosto e se espalhando para outras partes do corpo.
- As lesões progridem através de diversos estágios antes de cair. As feridas em geral começam vermelhas e planas, depois viram pústulas (bolhas com pus) e, por fim, cicatrizam.
Saiba mais
De acordo Jane, as deficiências imunológicas preexistentes podem levar a resultados piores. Ela cita que, embora a vacinação contra a varíola tenha sido eficiente no passado, hoje pessoas com menos de 40 a 50 anos (dependendo do país) podem ser mais suscetíveis à varíola devido à cessação das campanhas de vacinação em todo o mundo após a erradicação da doença. “As complicações podem incluir infecções secundárias, broncopneumonia, sepse, encefalite e infecção da córnea com consequente perda de visão. A extensão em que a infecção assintomática pode ocorrer é desconhecida”, conclui.
A varíola foi erradicada em 1980 com a vacinação em massa da população mundial. A varíola dos macacos vem sendo relatada em humanos em 11 países da África, onde tem o caráter endêmico. O principal país responsável por infecções é a República Democrática do Congo, na África Central. No continente africano, ela causa a morte de até uma em cada dez pessoas que contraem a doença.