Quem está por volta dos 30 anos de idade nunca vai esquecer o dia 28 de novembro de 1993. Há 20 anos, uma página ficou marcada na história do futebol gaúcho, porém de forma negativa. O Estádio Edmundo Feix recebeu a segunda partida da fase semifinal da Copa Governador, competição que a Federação Gaúcha organizava no segundo semestre apenas com os clubes do interior.
Cada torcedor, independente de Guarani ou de Brasil de Pelotas, tem uma história para contar do dia que não foi totalmente fatídico porque não houve mortes, mas ficou marcado por uma batalha que iniciou no campo de jogo e se estendeu às principais ruas do centro da cidade, num tenso mar de rubro-negros. Foi uma tragédia anunciada.
Já pela manhã de domingo, pelotenses chegavam em diversos ônibus e carros particulares. Obras inacabadas foram invadidas e por ali iniciava a bebedeira e um churrasquinho improvisado. Contava-se que os xavantes mais inflamados misturavam cachaça com pólvora, deixando-os mais explosivos do que nunca. Do primeiro ao último minuto de partida, os caras pularam sem parar na arquibancada geral. Posso dizer que era um verdadeiro espetáculo.
é bom observar que durante os 90 minutos houve bom futebol no gramado do Edmundo Feix, com o Guarani procurando o gol, já que havia perdido por 1 a 0 no Bento Freitas e precisava pelo menos devolver o escore. Os xavantes se defendiam a todo custo e o escore por 0 a 0 levou a equipe visitante a decidir o título contra o Brasil de Farroupilha.
O apito final do árbitro Carlos Eugênio Simon foi o estopim para a torcida do Brasil iniciar a desforra. Provocações, grade de proteção da arquibancada arrebentada e pedaços de concreto arremessados contra o setor social. Centenas de xavantes saltaram de uma altura de pelo menos quatro metros em direção ao campo.
Em maior número, o torcedor do índio avançou sobre os Xavantes numa batalha nunca vista em Venâncio Aires. Não havia contingente policial para segurar a confusão, que se alastrou até a Rua General Osório, nas imediações do Posto Atlantic. Atos de vandalismo por parte das duas torcidas, carros e ônibus apedrejados, casas invadidas, lojas saqueadas, vários feridos e torcedores xavantes ameaçando atear fogo no posto foram os maiores incidentes.
Um efetivo de policiais militares de municípios vizinhos foram convocados e uma barreira dividiu as duas torcidas; a do Guarani instalada no estacionamento do antigo Super Marquetto e a do Brasil sitiado entre as bombas de combustível. As horas se arrastavam e quase à meia-noite de domingo os torcedores do Guarani se dissiparam para alívio geral dos visitantes, que puderam se deslocar a Pelotas escoltados até as principais saídas da cidade. Alguns deles se perderam e retornaram somente no dia seguinte.
Após esta verdadeira batalha campal, o violento e problemático torcedor do Brasil passou a respeitar todas as outras torcidas do Estado. Vinte anos depois, os apaixonados de Guarani e Brasil voltaram a se encontrar de forma esporádica e tudo voltou à normalidade. Atualmente os xavantes estão mais revigorados com o acesso à Série A e os índios decepcionados com a condição do time na Terceirona. Salve nossos rubro-negros, salve nosso futebol do interior.
OS COADJUVANTES
Domingo, 28 de novembro de 1993, 17h, estádio Edmundo Feix, em Venâncio Aires. Arbitragem de Carlos Eugênio Simon, auxiliado por Jorge Veloso e Nadir Ascóli.
GUARANI (0) – Oneide; Jorge Luís, Zé Ricardo (Carlos), Alamir e Gilmar Nass; Alvinho, Almir (édson Luís), Carlinhos e Sérgio Oliveira; Marabá, Gérson. Técnico Paulo Sérgio Poletto.
BRASIL (0) – Cássio; Paulo Roberto, Silva, Aládio e Marquinhos; Aílton, Uana e Cléber; Leandro Guerreiro, Badico (Jabá) e Sássia. Técnico Francisco édson Rebouças Pontes (Ceará).
A renda foi de CR$ 975 mil para 1.550 pagantes. O público estimado foi de 3 mil pessoas. Cartões amarelos para Alvinho e Almir (Guarani), Cássio, Paulo Roberto, Silva, Aílton e Leandro Guerreiro (Brasil). Cartões vermelhos para édson Luís e Marquinhos.