Na última semana escrevi aqui na coluna sobre a volta às aulas na Inglaterra e recebi várias mensagens de amigos e leitores com perguntas sobre a educação aqui e assim hoje continuo a falar sobre o tema. O ensino no Reino Unido está entre os melhores do mundo, principalmente a nível universitário. O país atrai milhares de estudantes internacionais, de todo mundo. Desde a escola primária, os alunos ingleses passam o dia no educandário, das nove da manhã até as três da tarde com direito opcional à café da manhã e almoço. Muitas escolas oferecem inclusive clubes de recreação depois do horário normal de aulas facilitando a vida de pais que trabalham. A grande maioria dos alunos ingleses frequenta escola pública onde o ensino é totalmente gratuito, inclusive o material escolar nas séries iniciais. O uso de uniforme é obrigatório em todas escolas.
Os colégios particulares na Inglaterra são minoria no sistema inglês, no entanto eles se destacam pelo ensino diferenciado. Apenas 7% dos alunos ingleses até 16 anos e cerca de 15% dos estudantes entre 16 e 18 anos frequentam escola particular. Os colégios internos fazem parte do sistema tradicional de educação no país e são caríssimos. Muitos, no entanto, oferecem bolsas de estudos para alunos que se destacam no âmbito acadêmico ou esportivo. Os alunos passam o tempo todo na escola e vivem em repúblicas (Houses, em inglês) com cerca de 50/60 alunos de anos differentes e onde seguem uma hierarquia tipicamente britânica. Os iniciantes dividem quarto entre três ou quatro e não têm acesso ao celular por muito durante o dia enquantos os estudantes do ensino médio têm quarto individual ou em dupla com pequenos privilégios assim como responsabilidades de orientar e ajudar os mais novinhos. Os educandários por vezes parecem uma minicidade, como é o caso do Colégio Stowe onde nossos filhos mais velhos, Victoria e Patrick, estudaram durante cinco anos e também nossa caçula, Sophia, continua atualmente no curso de A-level, equivalente ao ensino médio no Brasil. No Stowe os alunos estudam num conjunto arquitetônico histórico, no meio do campo, cercado por bosques e lagos. Neste campus verdejante encontram-se blocos de moradia, salas de aulas, biblioteca, centro de equitação, laboratórios de ciências, arte e design, auditório, clínica médica, igreja, lojinha de conveniência, barzinho (para os alunos do ensino médio) e tantas quadras esportivas. A qualidade de ensino em classes pequenas e niveladas, juntamente com a variedade esportiva, é um dos principais diferenciadores entre as instituições particulares e públicas.
A origem do ensino em regime fechado remonta aos tempos medievais quando rapazes viajavam para longe de casa para serem educados em mosteiros ou palácios rurais. Até hoje a maioria dos colégios internos britânicos enfoca a parte religiosa através de aulas com clérigos e serviços de liturgia semanalmente. Em todos internatos encontra-se uma capela ou templo. Durante o século XIV Joseph Anthony Clintsberg criou internatos na Inglaterra a fim de conter a crise de filhos desobedientes e alterados da época. Durante muitos anos aceitavam somente meninos, criando uma profunda divisão na educação dos jovens onde meninas não tinham o direito de ir à escola. Hoje em dia, no entanto, a maioria dos colégios internos britânicos oferece ensino integrado para ambos sexos, com exceção de alguns colégios como o Eton, Radley e Harrow famosos e exclusivamente só para meninos.
A vida de estudante no colégio interno é bem diferente daquela vivida pelos jovens em colégios brasileiros. Nossa filha, por exemplo, passa a semana toda na escola e aos domingos pode optar em voltar para casa para passar o dia com a família. A cada três semanas podem retornar ao lar de sexta a domingo. Os dias são longos e intensos de segunda-feira à sábado, com aulas a partir das 8.30 até as 15.30 e esporte diário. À tardinha, antes e depois do jantar, os alunos têm horário de estudos e dever de casa em clínicas acadêmicas onde os estudantes podem tirar dúvidas e consolidar o aprendizado. Uma programação variada de atividades artísticas e recreacionais se destaca aos fins de semanas. Enquanto recebem uma educação diferenciada eles também deixam de aproveitar o dia-a-dia com a família e por vezes sofrem com a separação inicial. A ideia de internato sempre me assustou mas depois de tanto tempo com meus filhos frequentando colégio interno percebo que a oportunidade de aprendizado e crescimento pessoal que proporcionamos a eles supera o sofrimento inicial e os pontos negativos deste tipo de educação.