Aos 24 anos, Greice Isabel Kerber tem orgulho em dizer que trabalha com a produção de leite. Moradora de Vila Sampaio, no interior de Mato Leitão, ela aprendeu a profissão com os pais, Heitor Antonio Kerber, já falecido, e Maria Noeli Capinus Kerber, 65 anos, que iniciaram o plantel de vacas leiteiras na década de 1980.
Caçula entre três filhas, a jovem tem relação com o meio rural desde criança. Entretanto, durante a infância e a adolescência a mato-leitoense não tinha tanto interesse pela área. Tanto que após concluir o Ensino Médio, com 18 anos, decidiu ‘trabalhar fora’. A experiência de dois anos em uma padaria e um ano no comércio fez a jovem perceber que gostaria de se dedicar ao trabalho do campo.
Por isso, em 2020, Greice decidiu auxiliar os pais nas tarefas com a produção leiteira. “Não pretendo parar de trabalhar com isso”, afirma. Há dois meses, Greice perdeu o pai, que há um ano fazia tratamento contra leucemia. Por causa da doença, ele já não conseguia auxiliar tanto nos afazeres, mas era o seu principal conselheiro.
“O pai que me ensinou praticamente tudo sobre a produção. Só a dirigir o trator para buscar a silagem que ele não conseguiu. Era para ele que eu sempre pedia ajuda e tirava dúvidas. Por isso, quando acontece algo inesperado com as vacas, é o momento que sinto mais saudade”, compartilha.
Ao mesmo tempo que a saudade do pai é um desafio para continuar com o trabalho, são as lembranças dele que dão força para Greice continuar com o trabalho no segmento. Para o futuro, a jovem pretende investir na nutrição do rebanho, em melhorias na estrutura da propriedade e buscar novas tecnologias para facilitar o dia a dia. Ela ainda acredita que faltam igualdade e incentivo para o trabalho no meio rural. “Tanto na roça quanto na cidade tem lugar para homem e para mulher trabalhar”, salienta.
“Trabalhar com a produção de leite é uma superação, porque é um serviço difícil. Muitos homens já me falaram que esse não é lugar de mulher. Mas eu sempre respondo que escolhi isso porque quero. Estou orgulhosa de conseguir tocar.”
GREICE KERBER – Produtora rural
Liderança
Desde que o pai faleceu, Greice ‘toca’ a propriedade com o auxílio da mãe e do namorado Leonardo Kronbauer, 30 anos, que ajuda nas atividades após o expediente de trabalho. Além disso, as duas irmãs mais velhas e um primo que é vizinho da família também a auxiliam quando há necessidade.
Inclusive, foi o primo Eduardo Kerber que a ensinou a dirigir o trator. “Meu primo foi uma das principais pessoas que me ajudou e até hoje é meu braço direito. Sempre que preciso, está pronto para me ajudar”, comenta. Por isso, desde dezembro do ano passado ela acumula a tarefa de, durante a semana, buscar silagem para alimentar os animais da propriedade. Nos fins de semana, o namorado auxilia com essa tarefa. “Precisei aprender a fazer isso quando o pai ficou doente, porque era ele quem fazia”, conta.
Além de buscar a silagem, Greice ordenha as 80 vacas que estão em lactação duas vezes ao dia. A produção diária na propriedade é de 1,9 mil litros de leite e é comercializada para uma indústria de Teutônia. Ela ainda precisa alimentar todo o plantel, que é formado por um total de 160 animais, o que engloba as novilhas, terneiras e vacas secas.
Saiba mais
• Em fevereiro de 2017 a família Kerber, de Vila Sampaio, no interior de Cidade das Orquídeas, precisou abater todo o rebanho, formado por 193 animais, por causa de um surto de tuberculose que atingiu a propriedade. Pouco mais de um ano depois, em junho de 2018, eles decidiram retomar com a produção leiteira, que é mantida até hoje.