Zero casos novos, zero casos ativos (em recuperação domiciliar) e zero internados. Foi isso que informou o último boletim oficial sobre a Covid-19 em Venâncio Aires, na última quinta-feira, 27. Desde o dia 13 de abril de 2020, quando o município registrou o primeiro caso de coronavírus, foi a primeira vez que Venâncio viveu dias de total ‘tranquilidade’ em relação à doença.
Até agora, foram imunizadas completamente (duas doses ou dose única) mais de 56 mil pessoas, dentro do público considerado vacinável, ou seja, que corresponde à população com mais de três anos. Isso dá 80%, sendo que a meta é de 75%.
Além disso, desde junho, foi encerrado o decreto de estado de calamidade pública no município. Na prática, significa que há não é mais restrição ou impeditivo em relação a eventos ou atividades. Ainda antes disso, em março, a Prefeitura determinou a desobrigatoriedade das máscaras em locais fechados. Essa liberação seguiu outras flexibilizações, como a possibilidade de frequentar eventos. Assim, mesmo os mais relutantes, não demoraram para voltar a andar de ‘cara limpa’.
Todos esses movimentos aconteceram nos últimos sete meses, enquanto também acompanhamos a queda gradativa nos índices de novas contaminações ou gravidade dos casos, especialmente de agosto em diante (veja abaixo). Por isso, o termo ‘pós-pandemia’, lidando como algo já terminado, se tornou corriqueiro no nosso vocabulário. Mas será que já podemos falar em ‘vida normal’?
“Podemos sim, mas espero que os aprendizados tenham criado raízes. Se tiver sintomas respiratórios, evite contato próximo com outras pessoas, principalmente os grupos de risco. Se isso não for possível, use máscaras. Mantenha higienização das mãos como rotina e deixe sempre suas vacinas em dia.” A afirmação, seguida de uma recomendação, é da médica infectologista Sandra Knudsen, importante nome de Venâncio Aires na linha de frente contra a Covid-19.
A opinião do também médico e prefeito de Venâncio Aires, Jarbas da Rosa, vai ao encontro de Sandra. Para ele, houve uma diminuição importante de novos casos, internações e óbitos. “Muito se deve à vacinação e já conseguimos fazer todas as atividades culturais e esportivas. Ao mesmo tempo, a população tem no pensamento a importância de certos hábitos, principalmente usar álcool em gel, não só pela Covid, mas para milhares de bactérias e vírus. Assim como, usar máscara em ambientes de risco, como certos setores hospitalares ou quando tiver sintomas respiratórios.”
Jarbas ressaltou ainda o esforço feito durante a pandemia para atender a população. “Fizemos um grande esforço, com abertura de leitos UTI, incremento de médicos e enfermeiros e mutirões de vacina. Infelizmente perdemos pessoas, mas todo aquele trabalho foi fundamental e contribuiu para hoje ter essa condição de uma vida normal.”
Ao alcance das mãos
Com escolas, indústrias, comércio e eventos trabalhando ou realizando atividades normalmente, sem necessidade de máscara, a população também tem encarado a vida com normalidade. “Acredito que já estamos vivendo como era em 2019 e acho que a máscara é o principal detalhe”, opinou a costureira Pâmela Emmel, 29 anos.
Mesmo assim, Pâmela, que tem três doses da vacina (possíveis para a idade dela), chama atenção para a ‘memória curta’ da população. “No início, todo mundo queria vacina, mas agora, mesmo quem tem oportunidade do reforço, está deixando e a procura está baixa. Mesma coisa com a higiene das mãos. Acho importante continuarmos com o álcool em gel.”
Na casa dela, mesmo sem usar há sete meses, as máscaras seguem ao alcance das mãos: estão penduradas ao lado da porta do quarto. “No início da pandemia, coloquei para não esquecer na hora de sair. Espero que não precisamos voltar a usar, mas, se tiver mudança, estão ao meu alcance.”
“A vida está normal, mas a gente cuida bem mais. Acho que o principal que ficou é a higiene, porque até 2019, álcool em gel, por exemplo, era coisa só de hospital.”
MARIA LOURDES KAPPEL – Aposentada, 65 anos
Máscara no hospital, UPA e UBSs
O mesmo decreto que liberou o uso das máscaras em ambientes fechados, em março, também estabeleceu a manutenção do item nas unidades de saúde públicas e privadas. Mas, nos últimos meses, muitas instituições têm tornado o uso facultativo.
Nesta semana, por exemplo, no Hospital Santa Cruz, o uso de máscaras passou a ser facultativo para funcionários, pacientes e acompanhantes. Internamente, o uso permanece obrigatório para os profissionais que atuam nas unidades onde já eram utilizadas antes da pandemia, como Centro Cirúrgico, Centro Obstétrico, Hemodinâmica e leitos de isolamento.
Já no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Venâncio Aires, não houve alteração desde a desobrigatoriedade do uso de máscara. Segundo o administrador do HSSM, Luís Fernando Siqueira, para famílias e visitantes, o uso é opcional.
“Áreas administrativas e de apoio que não tenham contato contínuo com o paciente, o uso de máscara também é opcional. Mas profissionais assistenciais, como enfermeiros, técnicos em Enfermagem, nutricionistas, fisioterapeutas e médicos, devem usar máscaras. Mas estamos analisando uma possibilidade de liberação também para profissionais”, relatou Siqueira.
Quantos aos postos de saúde e demais unidades básicas da rede municipal, o secretário de Saúde, Tiago Quintana, informou que o uso é facultativo (incluindo médicos e enfermeiros) desde o fim do decreto de calamidade pública.
“Situação é tranquila, mas vigilância deve permanecer”, afirma Sandra Knudsen
Apesar de considerar o momento bem mais tranquilo, Sandra Knudsen diz que o Município precisa manter a vigilância, acompanhando número de casos e evoluções, para detectar precocemente uma mudança, caso ela acontecer. “A nossa situação atual é tranquila, no entanto, a vigilância deve permanecer. Nos últimos meses, os casos diagnosticados diminuíram paulatinamente e a última internação hospitalar foi no fim de setembro. Em outubro, não houve necessidade de internar ninguém por Covid. Portanto, a liberação de uso de máscaras no nosso município ocorreu no momento certo e não teve impacto em novos surtos.”
Desde o início de 2020, a máscara virou uma espécie de símbolo no combate ao coronavírus, mas com a melhora no cenário, vieram as flexibilizações e, logo adiante, liberações completas. Nos últimos tempos, especialistas também já falam em mudança do status de pandemia para endemia, como também é o entendimento da médica Sandra Knudsen. Segundo ela, a diferença entre os termos é basicamente o número de casos e o controle deles. Na pandemia, existe uma emergência em saúde pública, as regras e a vigilância são mais rigorosas. Já endemia significa que a doença está mais controlada e há menos casos, mas não significa o desaparecimento dela.
Vacinação
Para a profissional, a grande diferença no rumo da pandemia foi a vacina e o foco é a imunização das crianças. “A nossa preocupação é com a cobertura de vacinas em crianças, principalmente. Lembro que acima de três anos têm indicação de vacina e todos devem verificar se estão com as doses de reforço em dia. Em Venâncio, a partir dos 35 anos, tem indicação de quatro doses.”
Nesta semana, a farmacêutica Pfizer entregou, para o Ministério da Saúde, 1,2 milhão de doses do imunizante contra a Covid-19 para crianças com mais de 6 meses e menos de 3 anos. A vacina foi liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no mês passado, mas, inicialmente, o governo determinou a aplicação em crianças dessa faixa etária com comorbidades.
Casos em 2022, conforme boletins da Prefeitura:
• Março: 470 (máscara foi liberada no dia 17)
• Abril: 124
• Maio: 167
• Junho: 287
• Julho: 368
• Agosto: 272
• Setembro: 53
• Outubro (até o dia 27): 8
Óbitos
• Desde abril de 2020, 148 moradores de Venâncio Aires morreram devido à doença. Nos últimos sete meses, após a liberação das máscaras, foram seis óbitos e o mais recente aconteceu em agosto.
• Vale lembrar que, praticamente, 1/3 do total de óbitos ocorreu em março de 2021, naquele que é considerado o pior momento da pandemia.
• No terceiro mês do ano passado, a rápida escalada de casos graves deixou o sistema de saúde em vias de um colapso e o HSSM chegou a ter 40 leitos exclusivos para Covid (13 UTI e 27 clínicos).
• Além das 52 mortes em março de 2021, houve recorde de internações no hospital (65 no dia 22) e na UPA (21 em determinada semana) e recorde diário de novos casos (247 confirmações no dia 15).
18.231 – é o total de casos diagnosticados em Venâncio desde abril de 2020.