Como o mercado deve reagir à eleição de Lula

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As urnas apontaram um Brasil dividido. Quase que, literalmente, 50 a 50. Entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o petista conquistou a vitória com 50,90% dos votos. No entanto, o impacto inicial – para além das manifestações populares – é a reação do mercado interno e externo com a mudança no comando da presidência da República. Nas primeiras 24 horas, houve uma leve queda no dólar e um crescimento do Ibovespa, e, após este período, a estabilização voltou a fazer frente.

O professor, empresário e economista Carlos Giasson explica as diferenças entre os dois governantes e, também, qual deve ser a consequência na economia. Para começar, ele enfatiza que, ao contrário das eleições para os dois primeiros governos de Lula, esta não foi marcada pela força do PT, mas pela união de diversos partidos e nomes políticos, entre eles Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e Simone Tebet. Dessa forma, o olhar para a economia também deve ser diferente.

De acordo com Giasson, Lula tem uma visão voltada ao mercado interno e poder de compra do trabalhador brasileiro, mas sem abrir mão da política externa. “Lula deve formar mais parcerias externas e olhar de forma mais ampla para os setores da economia. Bolsonaro tem ligação direta com o agronegócio e favoreceu amplamente o crescimento. Por outro lado, outras áreas têm sofrido. Lula deve focar no crescimento da indústria, comércio e serviços”, explica.

Promessas

Dois dos temas mais comentados durante a campanha foram o Auxílio Brasil e o Bolsa Família. Segundo o economista, Lula se elegeu prometendo ampliar o acesso dos pobres aos recursos públicos, como os projetos citados. Ele relembra que um dos pontos fortes do Bolsa Família era a fiscalização e controle sobre os cadastros e, por isso, acredita que o principal dessa ação esteja na melhor distribuição dos valores e não no aumento em si. “Tendência é de retorno desses projetos sociais. Outra promessa era o Imposto de Renda, que é uma discussão antiga e a tabela não é atualizada há anos, mas é complicado de resolver”, destaca.

Atualmente, Jair Bolsonaro unificou diversos ministérios e criou uma espécie de ‘Superministério da Economia’, encabeçado por Paulo Guedes. No entanto, Giasson acredita que deve existir uma nova separação, para o Ministério do Trabalho e o Ministério da Fazenda, por exemplo. Entre os nomes mais cotados para assumir a Economia estão Henrique Meirelles (ministro da Fazenda entre 2016 e 2018 e presidente do Banco Central entre 2003 e 2010, no governo Lula) e Geraldo Alckmin, vice de Lula e ex-governador de São Paulo.

A queda do dólar e o aumento de algumas ações nas primeiras horas após a eleição são conhecidos como movimentos especulativos, explica Giasson. Conforme o economista, o mercado se movimenta de maneira complexa e pronunciamentos, por exemplo, alteram o andar a curto prazo, mas não são impactantes a longo prazo. “O dólar está em alta e deve ser ajustado para um patamar menor, abaixo de R$ 5. A bolsa deve se movimentar no crescimento de ações de empresas relacionadas ao consumo, baseado nas promessas de Lula. No varejo e supermercados, por exemplo”, destaca.

A indústria, no mercado interno, deve reagir, afinal, tem tido dificuldades para competir com o mercado internacional. Entre as ações que Lula deve realizar estão linhas de crédito e formação de profissionais. No mercado externo, ele cita que vários presidentes parabenizaram Lula, mas que a política do presidente eleito sempre foi olhar para os países periféricos – mesmo sem abandonar os países do G8.

“Como em todos os governos, as decisões de Bolsonaro vão impactar o primeiro ano de Lula. A questão do ICMS, por exemplo, tem um impacto que não foi totalmente medido e os estados vão querer uma compensação. O primeiro ano é uma execução de orçamento do governo anterior.”

CARLOS GIASSON

Professor, empresário e economista



Leonardo Pereira

Leonardo Pereira

Natural de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, jornalista formado na Universidade de Santa Cruz do Sul e repórter do jornal Folha do Mate desde 2022.

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