Quem mora em Vila Palanque, no interior de Venâncio Aires, com certeza já deparou com a figura de Eusebio Irineu da Silva, 88 anos, sentado nos bancos em frente ao Mercado da Susi. Zébio, como é carinhosamente chamado, está sempre sorridente e disposto a dar um ‘adeus’ a quem passa por lá. O mesmo fazia o filho dele, Sebastião Luís da Silva, o Bastião, 58 anos, antes de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Também não há morador da localidade que não conheça Paulo Airton, 55 anos, aficionado por esportes e apaixonado pelo Esporte Clube Palanque.
De vida simples e humilde, a família mora em um lugar especial para muitos de Vila Palanque: quase dentro do campo do Estádio Ricardo Reckziegel. E, em virtude da proximidade, não há quem não conheça ou saia de algum jogo do clube sem conhecer ou ouvir falar dos três. Depois de anos muito difíceis, 2023 será repleto de alegrias para pai e filhos.
Vida
Zébio vive no 6º Distrito há mais de 70 anos e, mesmo que tenha servido o Exército, na cidade de Santa Maria, quis retornar a Palanque. “Fiz toda a minha vida aqui. Trabalhei para a fumageira dos Reckziegel até o fim da empresa. Aqui é o meu chão. Um lugar maravilhoso, tenho muitos amigos”, diz. Para o aposentado, as melhores lembranças são das festas de fim de ano da empresa em que trabalhava. Também viu a fundação do Esporte Clube Palanque, em 1958, time do qual é torcedor e já teve oportunidade de ser jogador. Atualmente, tem o privilégio de poder assistir aos jogos da varanda da nova casa.
Do casamento com Normelina da Silva – falecida há 17 anos -, Eusebio teve os dois rapazes e Maria Teresa da Silva Rocha, 60 anos, moradora da Estância São José. Foi na casinha próxima ao campo que os filhos cresceram e criaram as memórias da infância. Aliás, da casa construída há mais de 45 anos, os três se despediram no início deste ano. Por conta das más condições de habitação que o local apresentava – segundo Paulo Airton, apresentava goteiras e assoalhos quebradiços -, ele, o pai e o irmão tiveram que sair da residência. “Não tinha mais como viver ali. Nossa, não tem nem como pensar na situação que era”, afirma o marceneiro.
Mobilização
O desejo de Zébio era ter uma casa melhor há muitos anos. Contudo, em razão de diversos fatores, não era possível. Em fevereiro deste ano, quando a família se mudou para um outro lugar, em Vila Palanque, houve uma mobilização de moradores da localidade para ajudar na construção da casa nova, uma vez que o terreno já era da família.
Tudo começou pelo orçamento. A partir daí, os moradores foram discutindo oportunidades de conseguir auxílio financeiro e outros materiais. Buscaram recursos junto à assistência social da Diocese de Santa Cruz do Sul e da Prefeitura de Venâncio Aires, por meio da Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Social. Além disso, uma empresa de materiais de construção tornou acessível as condições de pagamentos dos materiais necessários; uma moradora doou algumas partes de uma casa que tinha em Venâncio e que estava para desmanche; e, de forma geral, houve ajuda com mão de obra e doações das mobílias para a residência. “Eram pessoas daqui e de fora, que de alguma forma simpatizam conosco”, salienta Paulo Airton.
A construção da nova casa iniciou em junho e foi finalizada no mês de outubro. A mudança para a nova moradia ocorreu em novembro. “Nunca vamos esquecer. No dia que o pai completou 88 anos, no dia 15 deste mês, algumas pessoas vieram na nossa casa e fizeram uma festa surpresa. Naquela noite, depois de muitos anos, dormimos aliviados e com o coração cheio”, relata o filho mais novo.
“A comunidade é muito solidária. Não há nenhuma forma de agradecer”
Paulo Airton é o responsável por cuidar do irmão do meio e do pai. Isso porque, há quatro anos, Sebastião sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e ficou com dificuldades de locomoção. Há poucos meses, quem deu um susto foi o pai: diagnosticado com anemia profunda e pedra na vesícula.
“Foi um baque. A médica falou que ele precisava de, pelo menos, seis bolsas de sangue. Eu me desesperei. Era uma circunstância nova pra mim”, diz. Foi aí que os moradores, por meio de uma postagem no Facebook, compartilharam a publicação e disseminaram a necessidade de sangue para Zébio. “Foram muitas pessoas que doaram”, recorda.
Agora, com a saúde predominando, os três desejam ao máximo aproveitar a nova oportunidade. “Eu fico sem palavras. Não sei como agradecer por tudo isso”, comenta Zébio. “A comunidade de Palanque é muito solidária. Não tenho como agradecer. Só tenho gratidão, gratidão, gratidão”, completa Paulo Airton. “Quero que todos tenham muita saúde”, deseja Sebastião.