A estação do frio no norte da Europa é longa e arrepiante. Durante quase seis meses vivemos dias cinzentos, gelados que parecem infindáveis. A neve sempre aparece, seja durante as madrugadas congelantes ou nos dias invernais curtinhos, carecendo luz. Para os brasileiros acostumados ao calor dos trópicos é quase impossível de imaginar a geleira daqui. É claro que dentro de casa não passamos frio pois a calefação se encarrega de manter a temperatura ambiente. Para sair na rua, no entanto, é necessário agasalhar-se com casacões forrados e botas impermeáveis além da longa lista de acessórios como touca, manta e luva. Pois a vida lá fora continua seja no trabalho, escola, compras, passeios e diversão. É verdade que boa parte da programação cultural durante o longo inverno no norte da Europa se restringe a eventos em locais fechados.
A exceção, no entanto, destaca justamente o clima frio ao ar livre nos rinques de patinação de gelo na maioria das cidades, caminhadas pelos lagos congelados, esquiando nas montanhas ou simplesmente fazendo bonecos de neve no parque ou descendo ladeiras de trenó. Ou seja, a diversão se adapta à longa estação enquanto a arte também vai às ruas durante o clima gelado com instalações de luzes e exposições no gelo. E foi assim que no último fim de semana fomos visitar o festival de esculturas de gelo em Jelgava, no interior da Letônia.
Com a neve caindo sem parar durante os 45 minutos da nossa viagem de trem de Riga, fomos acolhidos em Jelgava com a paisagem branquinha e congelante. Ou seja, clima perfeito para apreciar as obras de arte esculpidas em blocos de gelo. Em sua 24ª edição, a exposição deste ano destacou o tema “Divindades Antigas” e contou com a participação de 30 escultores de vários países, entre eles Indonésia, República Tcheca, Reino Unido, Finlândia, Holanda, Alemanha, Irlanda, Ucrânia, Polônia, Mongólia, Lituânia e Letônia.
Espalhadas em tendas parcialmente cobertas, na pequena ilha Pasta circundada pelo rio Lielupe, encontravam-se mais de 65 obras incríveis retratando divindades e criaturas mitológicas evocando várias culturas entre a grega, egípcia, asteca, nórdica e outras. Cerca de 80 toneladas de gelo foram usados pelos artistas na produção das obras. O festival premiou os três melhores trabalhos na categoria individual além de destacar a melhor obra esculpida na categoria de grupo. A exposição mostrou o incrível talento dos artistas, ressaltando cada detalhe esculpido no gelo inclusive com algumas obras em três dimensões. Além de admirar o trabalho dos escultores, os visitantes tiveram também oportunidade de posar junto algumas esculturas, que foram especialmente construídas para o registro fotográfico de quem por lá esteve.
Com cerca de 55 mil habitantes Jelgava é uma pequena cidade no interior da Letônia mas que demonstra afinidade com eventos culturais pois durante todo o ano sedia inúmeras exposições, festivais, concertos de músicas e feiras destacando o folclore letão. Durante os meses de verão, outro festival tão popular quanto o de esculturas de gelo, apresenta obras magníficas feitas de areia, atraindo grande número de visitantes à quarta maior cidade do país.