Por Cassiane Rodrigues e Luana Schweikart
A Padaria Schuh tem, atualmente, mais mais de 80 colaboradores. Alguns acompanharam boa parte da história da empresa e sua evolução. Neste grupo seleto de trabalhadores estão Jacó Sehnem e José Arli Sehnem, 56 e 59 anos, respectivamente. Eles têm mais de três décadas de experiência no local. Os irmãos começaram a fazer ‘bicos’ na padaria ainda jovens, quando parte do funcionamento, como a fabricação de bolachas e pães de milho, acontecia em Vila Palanque, no interior de Venâncio Aires.
Praticamente toda família deles já trabalhou na padaria, incluindo a mãe, Irena Sehnem. Dos seis irmãos, cinco passaram pelo empreendimento. José começou aos 14 anos, acompanhando o proprietário da padaria, José Pedro Schuh, nas entregas pelo interior. “Naquele tempo era tudo feito de charrete e cavalos cedidos pela empresa e que ficavam no potreiro que tinha do lado. As pessoas esperavam a nossa chegada, pois sempre tínhamos dias e horários específicos para as entregas.” Depois passaram a usar uma Kombi, que ficava com pouco espaço para sentar, de tanta mercadoria transportada. “Era de porta em porta no interior e de bodega em bodega na cidade”, conta.
De início, Jacó e José acompanhavam o irmão mais velho, Pedro Roni Sehnem, para aprender as funções e faziam apenas ‘bicos’. Entre as atividades estavam peneirar farinha, arrumar as cargas, empacotar pães, untar formas, ajudar nas entregas e empilhar a lenha dos fornos. Jacó comenta que no prédio do Centro era feita a fabricação dos pães e os dois trabalhavam no local. Quando o serviço era escasso, se deslocavam para ajudar em Palanque. Os dois jovens assumiram os cargos de padeiro pouco depois, quando José estava com 17 e Jacó com 20 anos. Hoje, aposentados, os irmãos seguem na profissão porque gostam do que fazem e esperam permanecer até quando puderem.
Na avaliação de Jacó, o início do café colonial, bem como a ampliação da matriz da padaria Schuh, foi uma revolução. Os irmãos, inclusive, ajudaram os pedreiros na obra. “Acompanhamos toda a história da família Schuh, o nascimento dos filhos e agora dos netos”, afirma José.
Os anos de padeiro fizeram com que a dupla praticamente decorasse as receitas. Só de pães são mais de 30 tipos. “Já recebemos elogios de clientes, e isso é muito bom, gosto bastante de ser padeiro. E as críticas vêm para evoluirmos, é sempre importante”, afirma José, que também já atuou na produção de tortas e no atendimento do balcão.
Evolução
Nestes tantos anos de trabalho, a dupla observa que os equipamentos tiveram bastante evolução, o que facilita o trabalho e diminui o esforço braçal. Mesmo assim, a ‘mão na massa’ permanece. O forno a lenha foi substituído pelo elétrico industrial.
Outra mudança foi o aumento da escala de alguns produtos. O pão d’água, por exemplo, tinha muita saída, no passado, e hoje o mais vendido é o cacetinho. A farinha chegava em carregamentos de Kombi ou de carreta, tamanha era a quantidade utilizada, cerca de 30 mil quilos em 60 sacos. Agora, o ingrediente vem em menor quantidade e o consumo de leite na produção aumentou bastante, a ponto de quase empatar com a demanda de farinha.
Sobre os horários, José e Jacó Sehnem lembram que, antigamente, era bem mais ‘puxado’ – havia colaboradores que iniciavam o turno às 18h e paravam às 8h do dia seguinte. “Hoje nós dois trabalhamos só de dia, é bem mais tranquilo”, garante Jacó. Com o passar dos anos, quando a empresa contratava novos padeiros, eles foram os ‘professores’ dos novatos.
Promessas
José conta que, em 1998, seu filho Marcelo nasceu prematuro em 20 de janeiro. Era o último dia da Festa de São Sebastião Mártir. E como o menino estava internado e passava por dificuldades, ele fez uma promessa: se o filho sobrevivesse e ficasse saudável, no ano seguinte, ajudaria a fazer os pães doados para o evento do padroeiro da cidade. E assim foi. Situação semelhante também aconteceu com o sócio-proprietário da padaria, Júnior Schuh, que, por três anos, doa os pães das missas da trezena do Bastião, devido a sua esposa e seus filhos sobreviverem às complicações na hora do parto.
Nos tempos do pão de milho
Guido Schuh, 74 anos, começou como padeiro em 1973, ainda quando o empreendimento ficava em Vila Palanque. Trabalhava em uma fumageira, mas foi convidado a atuar na padaria, mesmo sem experiência no ramo. “Tudo que sei, aprendi na prática”, comenta.
O padeiro aposentado trabalhou no estabelecimento na época em que o pão de milho era o carro-chefe. Chegavam a ser utilizados 130 quilos de farinha por dia apenas para a produção de pão de milho, numa espécie de ‘cochos’. Alguns anos depois foi adquirida uma máquina pequena para amassar. Além disso, faziam pão d’água, doce, sovado e cuca. “Nas terças e sábados fazíamos as entregas na cidade”, relata.
As vendas eram realizadas para mercados, mas a maioria delas para clientes com entrega diretamente nas residências. Até 1982, toda a produção era feita em Palanque, depois ficou concentrada na matriz da padaria. “Com isso eu me mudei para a cidade para trabalhar”, conta.
Aprendizado
Quando começou na profissão, Guido era auxiliar de Alfredo Schuh. Com o passar dos anos, Alfredo era quem auxiliava, diariamente, mesmo com o avançado da idade. “Ele vinha todos os dias para untar as formas, fez isso durante muitos anos, enquanto teve força. Isso ajudava muito no trabalho. Ele aproveitava e levava um pão de milho pra casa, era tradição”, recorda o ex-funcionário.
Aposentado, Guido mantém as lembranças das mais de três décadas como padeiro. A farinha, ingrediente que utilizava diariamente, agora é uma ‘inimiga’ por conta de questões de saúde. “Eu falei para o médico, trabalhei minha vida toda com farinha e agora não posso comer nada com ela? Não é possível”, brinca, saudoso.