Fundada em 1200, Riga é uma cidade pequena comparada a outras capitais europeias, com pouco mais de 600 mil habitantes. Seu passado, no entanto, é gigantesco nos transportando ao tempos medievais com história riquíssima e arquitetura preciosa, bem preservada. O centro antigo de Riga é um labirinto de ruas estreitas charmosas, impregnadas de detalhes históricos, destacando estilos arquitetônicos de diversos séculos. Entre uma ruela e outra pequenas praças e largos convidam os visitantes a apreciar a gastronomia local, nos diversos barzinhos e restaurantes em torno das magníficas construções.
Localizado no largo mais importante da capital letã, a praça da Prefeitura, encontra-se o Palacete das Cabeças Negras, uma construção de fachada esplêndida e um dos pilares do crescimento econômico de Riga. Edificado originalmente em 1334 este ícone letão retrata a riqueza e importância de Riga nos tempos medievais. Inicialmente, bem menor que o edifício atual, era usado para encontros e grandes comemorações públicas em Riga. O nome Cabeças Negras surgiu a partir do século XIV quando o Palacete se transformou na sede principal da Irmandade das Cabeças Negras, uma associação mercantil poderosa que reunia comerciantes burgueses solteiros de descendência alemã e politicamente influente na administração da cidade. São Maurício, retratado como uma figura de pele escura, era o padroeiro da irmandade e dai o nome cabeças negras.
Ao longo dos séculos o palacete foi continuamente danificado e reconstruído, como em 1710 durante o bombardeio de tropas russas. A destruição total ocorreu em 1941, quando Riga fora ocupada pelos nazistas e mais tarde durante o regime soviético em 1948 a construção foi extinguida. O prédio atual foi reconstruído a partir de 1995 usando fotos antigas e cartas que descreviam a fachada externa e interior do palacete mantendo assim as características originais. A reabertura aconteceu em 2000 para o aniversário de 800 anos de Riga trazendo esplendor à famosa praça no coração do centro histórico de Riga. Desde o século XIII a praça da Prefeitura era considerada o centro administrativo e econômico da capital devido à proximidade do rio e área portuária e local onde eram recebidas as caixas abarrotadas de produtos a serem exportados. A primeira árvore de Natal de todo mundo foi montada nesta praça da capital da Letônia. A liga hanseática contava com mais de 90 cidades espalhadas ao longo do mar do Norte do mar Báltico, incluindo Riga.
O impressionante Palacete das Cabeças Negras está aberto à visitação e no último fim de semana gelado e com muita neve aproveitamos para conhecer o interior deste ícone da capital letã. Se a fachada e primeiro andar foram totalmente reconstruídos, o subsolo mantém suas características medievais intactas pois foi preservado depois do bombardeamento das tropas nazistas. Paredes sem reboco, teto baixo e pequenos arcos nos convidam a viajar no tempo, a caminhar num pedacinho da história de sete séculos atrás. Os ambientes mostram utensílios da cozinha, brasões, balanças que eram usadas para pesar as mercadorias a serem exportadas e contam detalhes sobre a vida dos cabeças negras no palacete. Desde os rituais religiosos até as comemorações com a mesa farta são retratados.
No primeiro andar somos transportados ao mundo da burguesia do século XVIII, nos salões cercados por molduras gigantes e vitrais coloridos. No salão principal, lustres magníficos denotam a riqueza de outrora iluminando as molduras cintilantes enquanto a pintura “Apoteose de São Maurício” domina o vasto teto. Por alguns minutos podemos imaginar as recepções requintadas de outros tempos com casais em trajes de gala dançando pela imensidão. Quantos corações apaixonados por ali passaram, me pergunto. Em todos ambientes percebe-se os símbolos da Irmandade das Cabeças Negras, destacados em pequenos objetos, quadros, tapeçaria e na coleção de artefatos e prata no andar térreo nos gabinetes históricos. Até pouco tempo neste andar encontrava-se a sede oficial do presidente da Letônia e o palacete não estava aberto para visitação. Hoje em dia, no entanto, os gabinetes foram restaurados e o Palacete das Cabeças Negras foi transformado num museu do Estado.