As dificuldades das escolas na implementação do Novo Ensino Médio, que passará por reestruturação

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Em 2017, foi aprovado o Novo Ensino Médio e, desde o ano passado, a modalidade vem sendo implementada de forma gradual nas escolas estaduais de todo o país. No entanto, no início desta semana, entidades de trabalhadores da educação se reuniram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo a revogação da política. Na semana passada, o Ministério da Educação (MEC) reconheceu que houve falta de diálogo no processo que levou à lei do Novo Ensino Médio e anunciou a criação de um grupo de trabalho com todos os setores educacionais interessados em discutir o andamento da modalidade.

Para isso, o MEC abriu uma consulta pública que avaliará e reestruturará o formato do Ensino Médio. O prazo é de 90 dias para manifestações, com a possibilidade de prorrogação. A consulta será implementada por meio de audiências públicas, oficinas de trabalho, seminários e pesquisas nacionais com estudantes, professores e gestores escolares sobre a experiência de implementação do Novo Ensino Médio em todo o Brasil. Após, a Secretaria de Articulação Intersetorial, com os Sistemas de Ensino (Sase), terá 30 dias para elaborar o relatório final a ser encaminhado ao ministro da Educação, Camilo Santana.

O objetivo da consulta é abrir o diálogo com a sociedade, comunidade escolar, profissionais, equipes técnicas, estudantes, pesquisadores e especialistas da educação para tomar uma decisão por parte do Ministério da Educação sobre as normas que regulamentam o Novo Ensino Médio. Quando criado, a meta era de tornar a etapa mais atrativa e evitar que os estudantes abandonem seus estudos.

*Com informações da Agência Brasil

Mudança

• Com a implementação do Novo Ensino Médio, a nomenclatura das turmas também mudou. Antes, o que chamávamos de 1º ano do Ensino Médio, agora é primeira série do Ensino Médio, e assim acontece com as demais turmas de 2º e 3º anos, que passam a ser chamadas de segunda e terceira séries do Ensino Médio.

Mais informações

1 No momento, a implementação do Novo Ensino Médio acontece de forma escalonada, até 2024. Em 2022, começou pela 1ª série do Ensino Médio, com a ampliação da carga horária para, pelo menos, cinco horas diárias. Pela lei, para que o novo modelo seja possível, as escolas devem ampliar a carga para 1,4 mil horas anuais, o que equivale a sete horas diárias. Isso deve ocorrer aos poucos.

2 No novo modelo, parte das aulas será comum para todos os estudantes, direcionadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Já na outra parte da formação, os próprios alunos devem escolher um itinerário para aprofundar o conhecimento. Entre as opções, está dar ênfase, por exemplo, às áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ao ensino técnico. A oferta de itinerários, entretanto, depende da capacidade das redes de ensino e das escolas.

3 Neste ano, a implementação segue com a 1ª e 2ª séries e os itinerários devem começar a ser implementados na maior parte das escolas. Em 2024, o ciclo de implementação termina, com as três séries do Ensino Médio.

Dificuldade com a carga horária e organização

Entre as escolas estaduais de Venâncio Aires, a primeira que passou a oferecer a modalidade – chamada de Ensino Médio Gaúcho no RS – foi a Escola Estadual de Ensino Médio Wolfram Metzler. De acordo com a diretora, Daiane Soda, e os professores do educandário, o modelo de ensino tem contribuições importantes ao pensar em sociedade, na autonomia e no protagonismo do estudante. No entanto, segundo ela, os professores relatam um desalinhamento na carga horária de algumas disciplinas, comparando com outras, o que dificulta a organização do plano de ensino, já que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) não apresenta uma ordem contínua. Também, há falta de materiais didáticos.

Na Wolfram, o processo de implementação do modelo iniciou em 2022, quando foram apresentado aos estudantes em uma Feira das Trilhas (aquelas que compõe o Ensino Médio Gaúcho). “Nesse momento, os docentes apresentaram, usando atividades diferenciadas, interação dos estudantes e oficinas, as 24 trilhas previstas no nosso estado, divididas em quatro áreas do conhecimento: Matemática, Linguagens e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Ciências da Natureza”, explica Daiane. Após, conforme a diretora da Escola Wolfranm Metzler, os estudantes puderam fazer a escolha de duas trilhas e a implementação delas começou neste ano, quando os alunos estão na segunda série do Ensino Médio.

Daiane afirma que, no momento, há duas turmas de Ensino Médio, nos turnos da manhã e da tarde, cada uma com um itinerário para aprofundar o conhecimento. A turma 201 tem a trilha Cidadania, Comunicação e Relações Interpessoais como área focal de Ciências Humanas, e área complementar a de Linguagens e suas Tecnologias; e a 202 está com a trilha Saúde e Estudos Qualitativos Aplicados, com Ciências da Natureza a área focal e a Matemática a área complementar. A diretora lembra que a escola oferece apenas estas duas trilhas, escolhidas pelos alunos através do aplicativo Escola RS Estudante, mas não é polo em nenhum eixo. Sobre as mudanças sugeridas nesta semana, a diretora afirma que a participação da comunidade escolar é de extrema importância no processo de construção do Novo Ensino Médio.

O que dizem os alunos?

Os estudantes da Escola Wolfram Metzler, Larissa Kessler da Silva e Bernardo José Schwengber, ambos com 16 anos, fazem parte de uma das turmas de segunda série do Ensino Médio do educandário. Na opinião deles, o Ensino Médio Gaúcho é uma experiência nova e também traz disciplinas diferentes, como Expressividade e Autoconhecimento; Direitos Humanos e Diferentes Culturas; Iniciação Científica; e Relações de Gênero e Vida Em Sociedade. “Na minha opinião, essas disciplinas trazem conhecimentos e análises de situações do nosso cotidiano e são relevantes para a nossa formação”, afirma Larissa.

Mesmo assim, os colegas entendem que existem desafios para a adaptação destas disciplinas, já que são novas e agora começam a ser oferecidas ‘do zero. “Sentimos falta de materiais específicos, pois muitas vezes o governo faz as mudanças e os professores têm que ‘se virar’ para organizar a disciplina. É uma falta de respeito com a gente e com eles”, destaca Bernardo.

Outro fator negativo, segundo os alunos, é que algumas disciplinas tiveram redução da carga horária para que as novas fossem contempladas. “Por exemplo, Direitos Humanos tem três períodos, e Física, apenas um. Não estamos dizendo que uma é mais importante que a outra, mas em Física temos mais dificuldades, principalmente após à pandemia e, agora, nos sentimos prejudicados”, concordam os estudantes. O desejo deles é que estas questões sejam ajustadas, para que os próximos alunos possam usufruir de um Ensino Médio mais organizado e terem uma aprendizagem mais significativa no período.

Sem retorno

• A reportagem tentou contato com a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), que responde pelas escolas estaduais da região, mas até o fechamento desta edição, por volta das 21h, não havia recebido retorno.



Luana Schweikart

Luana Schweikart

Jornalista formada pela Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul. Repórter do Jornal Folha do Mate e da Rádio Terra FM

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