Uma janela de oportunidade. Um período de ouro. A chance de prevenir o surgimento de doenças e de garantir o melhor desenvolvimento possível. Essas são algumas das definições para se referir aos primeiros mil dias da vida – período que compreende os nove meses da gestação e os primeiros dois anos de vida da criança. Mas, afinal, por que essa fase é considerada tão importante?
A pediatra Vívian Wunderlich explica que, nesses primeiros anos, o ser humano está em intenso desenvolvimento. Os estímulos e nutrientes que a criança recebe no período, assim como o contexto social e familiar nos quais está inserida, podem fazer com que ela atinja seu máximo potencial genético. Isso vai refletir no seu crescimento, na saúde física e na parte cerebral.
“Há uma ênfase nesse período, pois é uma fase de grande desenvolvimento cognitivo, realmente muito importante para a maturação cerebral da criança e o desenvolvimento em todas as etapas da vida. Caso se perca esse tempo, não recupera mais”, ressalta a médica.
Na prática, isso significa que tudo o que o bebê vive nos primeiros mil dias tem um reflexo em toda a sua vida. Todas as crianças, por exemplo, têm potencial genético para atingir determinada altura, conforme a estatura dos pais. Entretanto, se não tiverem a alimentação adequada, podem não conseguir alcançar essa altura e o desenvolvimento previsto do seu corpo. “Deficiências em determinados nutrientes podem ser muito prejudiciais. Falta de vitamina D pode causar raquitismo; ausência de vitamina A pode levar à cegueira; e de vitamina C, doenças como escorbuto”, exemplifica Vívian.
Ao encontro disso, ela ressalta a importância de as crianças receberem suplementação de ferro e de vitamina D nos primeiros anos. “Elas são essenciais para o crescimento”, argumenta. Da mesma forma, a pediatra reforça que os hábitos alimentares saudáveis são necessários, a fim de evitar o surgimento de doenças como obesidade, diabetes e hipertensão.
Da mesma forma, Vívian lembra que o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e aliado à alimentação, pelo menos, até os dois anos, contribui muito para prevenção de doenças. “Principalmente pela questão dos anticorpos”, explica.
Pequenas ações de olho no futuro
Antes mesmo de engravidar, Vanusa Juliana Kolberg, 26 anos, já buscava se informar sobre todo o universo da maternidade e do desenvolvimento dos bebês. Quando Benício nasceu, em 12 de julho do ano passado, ela e o marido Gaspar Maria Vedoy, 29 anos, começaram a colocar em prática o que tinham aprendido na teoria, para garantir o bem-estar físico, mental e emocional.
A amamentação foi o primeiro desafio superado, com a ajuda de Gaspar e das enfermeiras da Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) do Hospital Santa Cruz – Benício ficou internado por conta da icterícia (amarelão). Atualmente, com quase nove meses, ele segue mamando em livre demanda. Desde que fez meio ano, o leite materno é complementado com alimentos.
Antes mesmo da orientação da pediatra, Vanusa já sabia a importância da alimentação saudável desde as primeiras refeições, sem nada de açúcar até os dois anos, como recomendam a Sociedade Brasileira de Pediatria e Ministério da Saúde, e sem sal até um ano. “Gosto muito de ler e buscar informação, e isso ajuda muito. Algumas pessoas questionam, dizem que antigamente os bebês comiam e não fazia mal, mas não fazem a relação disso com os casos de hipertensão e diabetes atualmente, nos adultos”, analisa.
Para Vanusa, que se dedica exclusivamente aos cuidados do filho, não há trabalho no mundo que traga maior recompensa. “É muito gratificante ver o crescimento do meu filho de forma saudável”, afirma. Ela destaca a importância da parceria com o marido e o quanto o envolvimento do pai também é importante para a criança. “Sempre conversamos muito sobre como queremos agir e se os dois têm a mesma visão, fica muito mais fácil. Tem momentos que são só deles, como o banho, isso ajuda no vínculo entre pai e filho”, comenta.