Por Juliana Bencke e Alvaro Pegoraro
Quem circulou pela avenida Flávio Menna Barreto Mattos, o conhecido Acesso Grão-Pará, nos últimos dias, deve ter visto o arroio Castelhano tomado por uma vegetação verde, na área próxima à captação, na antiga Estação de Tratamento de Água (ETA). A Pistia stratiotes, popularmente conhecida como alface d’água ou ‘marrequinha’ esconde a água, deixando o arroio com um aspecto de um campo com um gramado bem verde.
Segundo o gerente da Corsan de Venâncio Aires, Ilmor Dörr, este fenômeno está presente no Castelhano há vários dias. “Esse acúmulo se dá devido à pouca chuva, mesmo que o volume de água é considerado razoável e constante”, comenta.
Naturais de Venâncio Aires, os biólogos Matheus Jantsch e Lavínia Susini dos Santos explicam que a Pistia stratiotes é uma planta estolonífera flutuante encontrada em lagoas e riachos e absorve todos os nutrientes necessários para seu desenvolvimento da água em que se encontra. Eles explicam que a planta apresenta um efeito benéfico de fixar partículas e microrganismos, contribuindo para a biodiversidade e o meio ambiente. Também tem a capacidade de ‘filtrar’ a água, à medida que absorve as substâncias do meio.
No entanto, os biólogos alertam que a presença da alface d’água também pode ser um sinal de alerta em relação ao desequilíbrio do meio ambiente e do recurso hídrico. “Quando se prolifera excessivamente, pode indicar acúmulo de matéria orgânica e de alguns nutrientes como nitrogênio e fósforo na água”, explica Lavínia, que cursa o técnico em Meio Ambiente e durante a graduação, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), trabalhou com bioindicadores de qualidade ambiental dos recursos hídricos.
Ela complementa que o efeito também pode surgir em função da diminuição de fluxo de água, que gera uma maior acumulação de matéria orgânica em um determinado ponto. “Também pode ser um indicativo de que o arroio está recebendo algum poluente em excesso – seja esgoto doméstico, efluente industrial ou fertilizantes de agricultura próximo”, observa.
De acordo com Jantsch, que é doutorando em Ciências Biológicas – Bioquímica Toxicológica pela UFSM, a falta de chuva e o represamento da água podem ter sido um dos fatores que geraram o aparecimento em excesso da planta. “O ideal seria fazer uma análise da qualidade da água e verificar se há algum ponto mais crítico de despejo de efluentes e/ou resíduos. E com isso, criar um plano de manejo para o arroio, visando o aumento da qualidade ambiental.”
Oxigênio
Outro aspecto ressaltado pelos biólogos é que a presença da planta em grande quantidade também gera um efeito negativo pois impede a passagem de luz solar para a água. Isso reduz a quantidade de oxigênio na água e contribuindo para diminuição do plâncton e fitoplâncton presentes no meio. Juntos, esses efeitos levam à diminuição da disponibilidade de alimentos para os peixes e podem causar a mortandade deles.
Benefícios e riscos
1 Quando produzida em ambiente controlado, a alface d’água pode apresentar algumas propriedades medicinais.
2 De acordo com os biólogos Matheus Jantsch e Lavínia Susini dos Santos, pesquisas demonstram os efeitos de ação antifúngica, antibactericida e diurética da planta. No entanto, em ambiente natural, ela pode absorver substâncias que podem ser tóxicas, inclusive metais pesados. Essas substâncias passam então a se acumular na estrutura da planta, mais especificamente nas folhas, e então, se ingeridas, podem causar intoxicação no organismo.
3 Além disso, essa planta também naturalmente apresenta em sua composição uma substância chamada cristais de oxalato de cálcio, que dependendo da quantidade ingerida, também podem causar intoxicação e sintomas de náusea, ardor, vômitos e diarreia.