Não tenho qualquer obsessão religiosa, porém me considero uma pessoa com uma formação espiritual sólida. Ao longo da minha vida profissional tenho convivido com milhares de pessoas com idade avançada e que passaram a se confrontar como este sentimento de finitude da sua vida. E é aqui que entra um fator de suma importância na sobrevida dessas pessoas: A espiritualidade. O que vem a ser isto?
O pesquisador Giancarlo Luchetti define espiritualidade como uma “busca pessoal para entender questões finais sobre a vida, seu sentido, sobre as relações com o sagrado ou transcendente que, pode ou não, levar ao desenvolvimento de práticas religiosas ou formações de comunidades religiosas”.
Há séculos, de uma maneira ou outra, mesmo que de forma empírica, a humanidade vem correlacionando a arte da cura com práticas religiosas e de espiritualidade, seja entre os povos antigos, na Idade Média ou entre os nossos indígenas. Portanto, este processo de doença-saúde, de longa data vem sendo correlacionado como o fator religião-espiritualidade.
Estudos observacionais feitos a partir da década de 1960 mostraram que pacientes com convicções religiosas mais sólidas passavam a apresentar uma evolução clínica melhor do que outros sem quaisquer convicções religiosas. Os dados trazidos por (Giancarlo Lucchetti) mostraram que nestes pacientes há uma menor incidência de doenças cardiovasculares, incluindo menores prevalências de depressão, maior sobrevida, menores níveis pressóricos e menores complicações pós-cirúrgicas. Neste aspecto, vale lembrar as citações deste autor de que pacientes cardiológicos, por apresentarem doenças crônicas e muitas vezes de desfechos fatais, podem se beneficiar de uma história espiritual para que o cardiologista possa conhecer como as crenças do paciente podem influenciar em seu tratamento e de que forma isso lhe traz conforto ou sofrimento.
Aliás, isto vale para todas as áreas da medicina. Infelizmente, em grande parte da população prevalece todo um pensamento envolvendo a materialização das coisas. Nesse aspecto, também os médicos, no seu dia a dia com os pacientes, raramente se lembram de que, na medida que a idade das pessoas avança, começa a aparecer a percepção da finitude da vida. Isto é, de que não vivemos para sempre. É aqui que as pessoas querem visualizar alguma perspectiva para o depois: O que existe depois daquela grande cortina pela qual todos temos que passar e da qual jamais alguém voltou?
Está aqui a grande força que a espiritualidade traz para aqueles que, de uma forma ou outra, conseguem visualizar uma continuidade de sua própria existência.
Um tema polêmico, mas, vale pensar a respeito.