“Competências socioemocionais mantêm as pessoas nos cargos e levam à ascensão na carreira”

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Que a qualificação técnica é fundamental para se destacar no mercado de trabalho todo mundo sabe. Entretanto, cada vez mais, está em evidência o quanto as competências socioemocionais fazem a diferença na atuação profissional. Profissionais com características como empatia, autogestão e autoconhecimento têm muito mais chance de evoluir na carreira.

Em entrevista à Folha do Mate, o professor do departamento de Gestão de Negócios e Comunicação  da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc),Julian Israel Lima, comenta que as competências socioemocionais têm sido o principal foco de recrutadores e gestores em processos seletivos.

Mestre em Administração, ele explica que a inteligência emocional é o principal componente do perfil de líderes de sucesso. “As competências técnicas, que são muito importantes e compõem a base para a realização das atividades profissionais, compreendem aspectos mais relacionados ao acesso aos cargos, ao passo que as competências socioemocionais são as que mantêm as pessoas nos cargos e as levam à ascensão na carreira”, comenta Lima, que é gestor e consultor na área de Gestão de Pessoas.

Folha do Mate: Por que, além da qualificação técnica, as competências socioemocionais são importantes para o trabalho?

Mestre em Administração, professor Julian Lima destaca a importância das competências socioemocionais no dia a dia das empresas (Foto: Arquivo pessoal)

Julian Israel Lima: O mercado de trabalho, como a vida, é composto por um complexo conjunto de relações. É por meio das relações interpessoais que os problemas organizacionais são resolvidos, clientes têm suas necessidades atendidas, novos produtos e serviços são criados. As competências técnicas, que são muito importantes e compõem a base para a realização das atividades profissionais, compreendem aspectos mais relacionados ao acesso aos cargos, ao passo que as competências socioemocionais são as que mantêm as pessoas nos cargos e as levam à ascensão na carreira.

“A maior parte da nossa qualidade profissional resulta e é evidenciada pela maneira como nos posicionamos diante do contraditório, de problemas, de mudanças e dos mais diversos desafios que mobilizam nossas emoções diariamente.”

Quais competências socioemocionais você diria que são as mais importantes, tanto para quem é empreendedor quanto para quem trabalha como colaborador em uma empresa?

Empatia, autoconhecimento, autogestão e habilidade social, que são os componentes da inteligência emocional. São competências capazes de levar profissionais, de todos os níveis de responsabilidade, a desempenhos extraordinários. A inteligência emocional, por sua vez, é o principal componente do perfil de líderes de sucesso. Além disso, destaco a flexibilidade cognitiva, que é o famoso “pensar fora da caixa” e, muito importante nos dias atuais, a inteligência cultural e de diversidade, que compreende a capacidade de respeitar e se adaptar a interações com pessoas de culturas diferentes, usando as distinções para criar relações produtivas. Essas competências são importantes tanto para empreendedores quanto para funcionários, de todos os cargos.

Como desenvolver essas competências? Elas se aprendem ao longo da vida?

Com certeza, se aprendem ao longo da vida e, também, por meio do estudo. Mas isso não significa que apenas as pessoas com mais idade tenham melhores desempenhos socioemocionais. Colocar-se desde cedo em situações que mobilizem competências como a autogestão, a empatia, a resiliência, a colaboração e a flexibilidade, por exemplo, potencializam a possibilidade de desenvolvimento do perfil dos profissionais. Por esse motivo, sempre recomendo aos meus alunos que busquem por atividades de estágio, de voluntariado, a atuação como bolsistas de ensino, de pesquisa ou de extensão, para que possam resolver problemas, negociar soluções e projetos em conjunto, construir consensos, resolver conflitos, lidar com frustrações, com o diferente e estabelecer laços desde o início da sua trajetória, de modo que, ao concluírem seus cursos, tenham melhores condições de lidarem com problemas reais e complexos, de forma profissional, humana e madura. O mesmo se aplica para profissionais de carreira, já em altos cargos. Quando me procuram para consultoria, a orientação é a mesma, no sentido de buscarem conhecimento a respeito do tema e, também, de exercitarem nas suas práticas profissionais o desenvolvimento dessas mesmas competências.

De que forma a empresa pode desenvolver um ambiente de trabalho saudável e produtivo?

Primeiramente, por meio do exemplo. Os proprietários, assim como os gestores de todos os níveis hierárquicos, são os embaixadores da boa cultura. Não adianta escrever manuais, fazer discursos e não praticar aquilo que é pregado. Além disso, a escuta ativa das demandas dos empregados e a consideração desses posicionamentos no encaminhamento de melhorias ajuda muito. O investimento em capacitação, para todos, e em processos de comunicação e fomento à colaboração também são importantes para que se possa ter um ambiente saudável.

“As pessoas precisam aprender a colaborar entre si, com isso a ‘liga’ vai se formando e os conflitos se dissipando. O investimento em uma cultura organizacional que favoreça a todos os envolvidos, desde os acionistas até os funcionários e clientes é um caminho importante, a gestão precisa fazer o seu ‘tema de casa’ nesse sentido.”

Quais os principais problemas gerados pela falta de uma gestão de recursos humanos adequada numa empresa?

Pessoas são as responsáveis pela criação e execução de tudo o que acontece em uma empresa. São elas que cuidam do que há de mais caro em uma empresa, o cliente. Então, os problemas vão desde a perda de clientes, perda de qualidade nos produtos e desperdícios de recursos até a rotatividade de pessoal, acidentes de trabalho, processos judiciais e muito mais. Os sinais que, na minha visão de gestor, consultor e docente da área, indicam que algo deve ser feito com urgência, são a evasão de talentos e a dificuldade de colaboração entre pessoas e equipes. Quando os talentos, as pessoas que mais se destacam, não ficam, é um forte indicativo de que há algo errado. Além disso, se não houver cooperação, os problemas não são resolvidos, novos produtos não são criados e os interesses individuais e os egos se sobressaem, em detrimento dos interesses coletivos, entre eles os do cliente.

“Todo gestor organizacional deve avaliar as relações internas deixando a vaidade de lado e verificando, por exemplo, se as pessoas estão à vontade para discordar.”

Se um gestor chegar à conclusão de que ninguém o contraria ou contraria seus gerentes, supervisores ou encarregados, deve agir imediatamente para mudar esse contexto, pois a colaboração envolve, também, a discordância, num tom profissional e polido. Então, se ninguém puder contestar o que está estabelecido, ninguém avisará quando algo não estiver correto e a empresa perderá oportunidades de melhorar ou de criar novos caminhos.

Diferenciais na hora de concorrer a uma vaga de emprego

O professor Julian Israel Lima, consultor da área de Gestão de Pessoas, observa que, para além das competências técnicas, as socioemocionais têm sido o principal foco de recrutadores e gestores em processos seletivos.Por meio das atividades avaliativas, buscam identificar se os valores dos candidatos à vaga vão ao encontro do que a empresa preconiza. “Pesquisar o histórico, os norteadores estratégicos e a cultura da empresa é muito importante ao participar de um processo seletivo, pois isso permite que os candidatos reflitam se faz sentido participar da seleção e, também, que possam se preparar para o processo”, comenta Lima.

Para ter um bom desempenho na seleção, ele observa que, de modo geral, os candidatos precisam evidenciar, por meio dos seus atos e posturas, que são flexíveis, éticos, que buscam o aprendizado constante, que estão abertos ao diferente, que pensam criticamente, que se colocam no lugar do outro, que são resilientes, colaborativos e criativos. “Não é tarefa fácil, mas eu costumo recomendar que as pessoas exercitem, participem de processos seletivos, se autoavaliem, peçam feedbacks aos recrutadores e aprimorem suas condutas”, destaca.

Ele ressalta, no entanto, que isso precisa permanecer no decorrer das atividades depois de contratado. “Caso contrário, a situação não se sustenta, pois ninguém consegue representar por muito tempo. Estar sempre disposto a se aprimorar nesse âmbito é importante para todos os tipos de profissionais, de todos os graus de responsabilidade.”



Juliana Bencke

Juliana Bencke

Editora de Cadernos, responsável pela coordenação de cadernos especiais, revistas e demais conteúdos publicitários da Folha do Mate

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