Por Leonardo Pereira e Luana Schweikart
Em 2015, a Disney/Pixar lançou uma animação que, ao mesmo tempo em que é colorida e divertida, aprofundava, também, um tema pouco debatido entre os jovens: a saúde mental. Em ‘Divertida Mente’, a jovem Riley, de 11 anos, precisa enfrentar mudanças importantes em sua vida e, com isso, somos apresentados às emoções dentro do cérebro dela, como a Alegria, o Medo, a Raiva, o Nojinho e a Tristeza. Pois bem, nesse contexto, se criou o termo no mundo digital – os ‘divertidamentes’ – para falar dos sentimentos e da confusão diária que vivemos.
Principalmente na adolescência, lidar com tais sentimentos é ainda mais complicado. De acordo com o professor do curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Eduardo Steindorf Saraiva, os adolescentes são mais propensos a alterações de ansiedade por serem mais suscetíveis a vulnerabilidades e à pressão do que adultos.
Quem está no Ensino Médio, indeciso sobre o que fazer depois de terminar os estudos, preocupado com vestibular e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e buscando entrar no mercado de trabalho sabe bem isso. A classe social, o gênero e as condições financeiras também podem deixar essa situação ainda mais complicada – e lidar com os próprios sentimentos ainda mais difícil.
O professor Eduardo afirma que a ansiedade é um mal contemporâneo e, por isso, é preciso pensar nos modos de vida, porque as pessoas estão mais aceleradas e a relação com o tempo é de urgência. “Estamos sempre pautados pela urgência e exigência de perfeição”, frisa. A isso, se soma o fato de as pessoas estarem mais distantes. Há muita interação virtual, mas poucos amigos reais e momentos em grupo.
As redes sociais tornam isso ainda mais complexo. O professor observa que nas redes todos apresentam o corpo perfeito e a felicidade plena, criando uma espécie de obrigação para que seja seguido esse padrão. “As redes fazem um apelo pelo corpo, amigos, lugares e amores ideais. Enquanto os jovens consomem essas imagens acreditando ser a realidade e o que nos falta, enquanto sociedade, é ter um pensamento mais crítico sobre esses assuntos que são muito idealizados”, analisa o professor.
Qual o sentido?
De acordo com o professor, algo que é percebido nos últimos anos e que tem afetado os adolescentes é a falta de um sentido da vida. Muitos apresentam sinais e sintomas que estão relacionados a uma crise, que pode ser chamada de existencial ou de pertencimento. “Muitos pensam ‘O que estou fazendo nesse mundo?’, ‘Por que estou aqui?’, ‘Vou trabalhar/estudar para quê?’ e alguns não conseguem respostas e entram em uma espiral de melancolia e depressão”, destaca.
Convívio social e terapia
Entre as formas de lidar com a ansiedade, a pressão social e o desinteresse pela vida estão alimentação saudável, sono adequado e exercícios físicos (leia mais na página ao lado). Além disso, o professor Eduardo Saraiva destaca outras duas práticas importantes:
• Convívio social: além da interação com outras pessoas, estar em um grupo junto a um espaço real, fortalece vínculos, reduz a pressão e a ansiedade.
• Terapia: em quadros mais graves e que podem acarretar em fobias ou depressão, é importante ter cuidado quanto a evolução dos sintomas, para que seja necessário esse acompanhamento por profissionais da saúde. “Os adolescentes, mesmo acreditando já serem adultos e autossuficientes, precisam de um adulto para ajudar, por isso a terapia é importante para um autoentendimento e prevenção de possíveis avanços.”
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Onde buscar ajuda nas escolas
Os estudantes dos terceiros anos do Ensino Médio que estão em período de estudo para vestibulares e, principalmente para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), por vezes, precisam de um apoio externo neste momento. Profissionais psicólogos e orientadores educacionais podem auxiliar.
As maiores escolas de Venâncio Aires – Cônego Albino Juchem e Monte das Tabocas – contam com estagiários de Psicologia, que contribuem com conselhos e conversas com os estudantes. Nas demais, esse trabalho é realizado, especialmente, pelo orientador educacional.
A coordenadora adjunta da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Lucijane Ferreira, destaca que, desde fevereiro, a 6ª CRE mantém o Núcleo de Cuidado e Bem-Estar Escolar. O grupo reúne os mais de 80 orientadores educacionais de todas as escolas de abrangência para capacitar estes profissionais, em encontros mensais. “São momentos de conversas para melhorar a construção de cada escola, que é o primeiro lugar a prestar ajuda a esses jovens ansiosos e angustiados”, afirma Lucijane que também é assessora das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipave). Essas formações seguirão até o mês de dezembro sempre com encontros na Unisc, em Santa Cruz do Sul, uma das parceiras neste projeto.
Filmes sobre saúde mental:
– As Vantagens de Ser Invisível (2012) – classificação indicativa 14 anos: protagonizado por Emma Watson, Logan Lerman e Ezra Miller, este drama colegial mostra como é lidar com a depressão e as dificuldades de se recuperar dela. Com a ajuda de novas amizades e apoio psicológico, o protagonista tenta encontrar o seu caminho diante de questões envolvendo o seu passado.
– Soul (2020) – classificação indicativa – livre: mais uma animação da parceria Disney e Pixar. Soul conta a história de Joe, um professor de música que, após sofrer um acidente, começa a viver uma experiência cósmica e uma jornada de autoconhecimento. Neste cenário, ele passa a compreender melhor a si mesmo e busca motivação para retornar ao seu corpo.
– Dilema das Redes (2020) – classificação indicativa 12 anos: o documentário apresenta os problemas que as redes sociais, sites e aplicativos podem causar à saúde mental das pessoas. Ex-funcionários de diversas áreas da tecnologia explicam como funcionam os algoritmos e como isso influencia nas suas redes.