A primeira picape derivada de um carro médio no Brasil, a Pampa marcou época e foi sucesso em vendas da categoria entre os anos 1980 e 1990. Com capacidade para 600 quilos, a caçamba era um dos pontos fortes, o que contribuiu para fazer inúmeros fãs.
Usada para carregar de um tudo, como equipamentos de indústria e serviços, além de itens domésticos em viagens de família, fato é que a Pampa também carregou histórias, que seguem nas lembranças de muita gente. Memórias como as mantidas pelo vendedor Fernando Diego Marth, 34 anos, em relação a uma Ford Pampa L Motor AP 1990, de cor cinza. Pela idade e modelo, o veículo já causaria, por si só, um saudosismo, mas as lembranças que provoca em Fernando são ainda mais especiais, já que a Pampa pertenceu ao pai dele, falecido há 22 anos. “É um sentimento que não se apaga e a Pampa tem valor sentimental. Uma história curta, mas que é nossa, de um tempo feliz e que é muito bom recordar”, destaca o vendedor.
Fernando tinha somente 12 anos quando o pai, Neuri Marth, faleceu, no fim de maio de 2001. Neuri era construtor e sofreu um AVC. Foram 17 dias internado em UTI, mas ele não resistiu e faleceu com apenas 39 anos. Além de Fernando, Neuri deixou a esposa, Iria Noemia Schmidt Marth, hoje com 63 anos, e a filha caçula, Francieli, que na época tinha apenas 9 anos.
A família encerrou as atividades da construtora de Neuri em 2005 e durante este período a Pampa seguiu a serviço da empresa, levando funcionários e carregando equipamentos. Com o término da firma, Fernando fez um pedido à mãe: queria ficar com a picape. “O pai comprou ela usada, para o trabalho, entre 1995 e 1996, e se apegou muito. Era uma caminhonete forte, não dava mecânica. O pai sempre dizia que ela era a ‘guerreirinha’ dele e que nunca ia se desfazer dela. Eu cresci ouvindo isso”, revela Fernando.
Paixão por carros e as corridas de Senna
Fernando conta que os carros sempre fizeram parte da vida de Neuri, que começou a trabalhar na construção civil ainda adolescente. Ele abriu a própria construtora em 1992 e, em algumas situações, aceitava carros como pagamento pelos serviços. “O pai gostava muito de carros, eles entravam e saiam da rotina da firma, eram importantes. Mas não só para o trabalho, carro era um lazer pro pai. Era muito fã de automobilismo, não perdia uma corrida do Ayrton Senna.”
O filho lembra que a picape carregou muitas máquinas pesadas, entre elas os equipamentos de polir piso. “O pai participava de muitas feiras de construção civil e foi um dos primeiros na região a ter máquina de polir. Lembro que na época ele foi o responsável por muitas obras grandes em postos de gasolina, fumageiras e metalúrgicas.”
Os fins de ano em Santo Amaro
Embora tivesse sido adquirida para o trabalho na construtora, a Pampa também virou, por vezes, o carro da família, colocando de lado Gol ‘bolinha’, geralmente o ‘titular’ dos passeios. Neuri gostava de pescar e acampar e um dos destinos favoritos era a beira do rio Jacuí, em Santo Amaro do Sul, no município de General Câmara. Foram seis viradas de ano por lá. Como a Pampa é para três lugares e os Marth eram entre quatro pessoas, um precisava ir de carona. Isso geralmente se resolvia com a parceria da Brasília amarela da família Bourscheidt, vizinha de bairro União. “O pai adorava esses momentos. E são essas lembranças, desse tempo feliz da minha infância, que a Pampa me faz reviver”, relata Fernando.
Como é um veículo de 33 anos, o vendedor conta que as idas ao mecânico já são mais frequentes, mas, aos poucos, tem conseguido deixar ela o mais próximo possível do que foi. “Quero voltar a Santo Amaro, dirigindo ela.” Fernando diz ainda que a caminhonete também já reavivou memórias de outras pessoas que conheceram Neuri. “O pai sempre foi de ajudar de forma geral e era atuante na comunidade evangélica luterana. Na festa de 2001, inclusive, ajudou naquele domingo, dois dias antes do AVC. Patrocinava time de bocha, de futebol, era um cara envolvido. Muita gente fala dele, do trabalho na construção civil e que foi um cara legal e muito honesto. Isso me enche de orgulho.”
De pai para filho e de tio para sobrinho
Além do amor pela Pampa, Fernando herdou outras paixões de Neuri, como a torcida pelo Internacional, os acampamentos e as pescarias. Mas aqui os gostos não seguiram apenas pela ‘genética’ entre pai para filho e já seguem de tio para sobrinho.
Isso porque Nicolas, de 7 anos, filho da Francieli, já tem mostrado apreço por algumas coisas. Naturalmente o menino não conviveu com o avô, mas o conhece pelos vídeos antigos de pescarias e através dos relatos da família, especialmente do dindo, Fernando. “O Nicolas é um parceiro. Adora dar voltas de Pampa pelo interior e também já acampamos.”
“Acho que uma pessoa não morre de verdade enquanto tiver alguém que a mantenha viva dentro de si. Assim é com meu pai. Mesmo que por poucos anos, agradeço pelo tempo que convivi com ele e que me traz lindas lembranças.”
FERNANDO MARTH – Vendedor e filho do Neuri