Considerado um marco na gestão dos resíduos sólidos de Venâncio Aires, o projeto Lixão Zero viabilizou uma série de mudanças, ao longo dos últimos anos. O Município foi um dos 21 contemplados pelo programa do Governo Federal, em 2019, entre mais de mil inscritos. As principais ações para a comunidade foram realizadas a partir de 2021. Com os R$ 4,1 milhões conquistados pelo Município, foram adquiridos contêineres e caminhões para coleta do lixo, automóveis, triturador de galhos, composteiras domésticas para serem distribuídas à população e biodigestores para as escolas.
Além de um avanço importante para a gestão dos resíduos na Capital do Chimarrão, a atuação no programa fez Venâncio Aires se tornar referência no país. A implantação de biodigestores inspirou o projeto Escolas + Verdes, do Ministério do Meio Ambiente. Em dezembro de 2021, inclusive, o então ministro, Joaquim Leite, esteve no município para realizar a entrega oficial dos equipamentos do programa Lixão Zero.

Tudo começou por iniciativa da servidora pública Carin Taiara Gomes, 33 anos. A fiscal de meio ambiente, que atua há quase 12 anos na Semma, soube do edital aberto pelo Governo Federal e se empenhou na formulação do projeto. “A Secretaria nunca havia participado de um projeto assim, que exigiu uma dedicação intensa, muita pesquisa e orçamentos detalhados. Embora a minha função seja de fiscalização, sabemos da importância de trabalhar com educação ambiental e sempre tivemos interesse de fazer isso de forma prática”, comenta.
Com apoio do colega Maurício Knack de Almeida, engenheiro ambiental que atuava como analista ambiental na secretaria – atualmente, está em licença interesse e trabalha no Reino Unido -, Carin liderou a formulação do projeto, incluindo todas pontas possíveis do sistema de gerenciamento de resíduos: desde a coleta do lixo até alternativas para reduzir o volume, com aproveitamento dos resíduos orgânicos em composteiras e biodigestores.
Na época recém-formada em Engenharia Química, Carin havia concluído o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre biodigestão. “Quando soube dos biodigestores para área urbana, surgiu a ideia de incluirmos eles no projeto, disponibilizando para as escolas. Tudo foi se encaixando”, comenta.

Para Carin, o principal ganho com o projeto foi promover educação ambiental de forma prática, algo que sempre foi muito incentivado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente. “Por meio do biodigestor e das composteiras, se consegue falar de meio ambiente, de economia, adubação, cultivo de plantas, alimentação saudável. Passaram a ser assuntos comentados pela população. São questões que perpassam os portões da escola, como tem que ser na educação ambiental”, observa Carin, que também é técnica em Meio Ambiente e cursa pós-graduação em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.
“Com esse projeto, conseguimos trabalhar educação ambiental de forma prática. Compostagem virou assunto de roda de chimarrão. As pessoas começaram a saber que existem outras formas para destinar o resíduo que não seja colocar na sacolinha e mandar para o aterro. Nas escolas, o biodigestor se tornou uma ferramenta de estudo e estimulou vários projetos.”
CARIN TAIARA GOMES – Fiscal de meio ambiente
Na escola
A Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Yolita da Cruz Portella, do bairro Brígida, é uma das 22 contempladas com biodigestores. O equipamento foi instalado no fim de março e, desde então, as crianças têm aprendido, na prática, que ele transforma restos de comida em gás de cozinha e biofertilizante para as plantas.
Os 20 alunos do pré A já têm na ponta da língua a explicação. As professoras da turma aproveitaram a curiosidade das crianças que viam, pela janela, a agente escolar Nádia de Andrade, 45 anos, abastecer o biodigestor, todos os dias, com as sobras das refeições e cascas de frutas e legumes.

O assunto foi sendo naturalmente inserido no dia a dia e palavras até mesmo desconhecidas para muitos adultos passaram a fazer parte do vocabulário das crianças de 4 e 5 anos. “É um biodigestor. São colocadas cascas de frutas nele e sai o biofertilizante”, explica um dos alunos. Questionados sobre o que é o biofertilizante, eles definem de forma simples: “É para as plantas ficarem fortes”, informa um estudante. “Mas não pode colocar puro. Tem que misturar com água”, orienta outro integrante da turma.
Enquanto o biofertilizante é colocado em garrafinhas plásticas e disponibilizado às famílias e demais pessoas da comunidade, o gás resultante do processo de biodigestão é usado na cozinha da escola. Um fogão de duas bocas abastecido com o biogás foi instalado no local e é utilizado, especialmente, para aquecer água. “Ela é uma chama mais fraca, mas que não provoca explosão. Já auxilia para economizar um pouco o gás”, comenta Nádia.
A agente escolar avalia que o maior impacto do biodigestor tem sido a redução de lixo orgânico. Ela estima que dois terços do total de resíduos da escola hoje são colocados no biodigestor, que tem capacidade de até 10 quilos por dia. “Isso dá uma economia boa, com a redução da quantidade de lixo, afinal pagamos para que ele seja recolhido”, observa.
Em quatro meses, 160 toneladas de lixo a menos encaminhadas ao aterro
Um dos principais propósitos da Semma ao incentivar o uso de composteiras domésticas foi reduzir o volume de lixo enviado para o aterro sanitário de Minas do Leão, a 130 quilômetros de Venâncio Aires.
A partir do relatório de pesagem dos resíduos destinados ao aterro, o secretário de Meio Ambiente, Nilson Lehmen, aponta a diminuição de 160 toneladas nos primeiros quatro meses deste ano, comparando com o mesmo período de 2021, antes da distribuição das composteiras para a comunidade.

“Mesmo com um crescimento vegetativo da quantidade de lixo, constatamos uma redução de aproximadamente 5% dos resíduos que chegaram ao aterro, comparando o primeiro quadrimestre deste ano com o de 2021. Com base nesses dados, a perspectiva é de 480 toneladas a menos em todo este ano e uma economia de R$ 66 mil para os cofres públicos”, detalha, ao comemorar o resultado. “Isso mostra que o que as pessoas fazem em casa faz a diferença.”
O uso das composteiras e dos biodigestores tem um impacto significativo na redução dos resíduos sólidos, especialmente por conta do peso do lixo orgânico. Restos de frutas e legumes, cascas, erva-mate, folhas, grama e serragem podem ser utilizadas para a compostagem. A utilização de composteiras pode garantir desconto no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), por meio do programa IPTU Verde.