Na última quinta-feira, 29, divulgamos mais uma edição do caderno Ruas. Mensalmente, o suplemento destaca histórias de moradores e o potencial dos estabelecimentos comerciais das principais vias da cidade. Realizados já em diversas ocasiões pela Folha do Mate, os cadernos sobre ruas, bairros e localidades de Venâncio Aires unem as tantas histórias desses locais.
Por meio do relato de antigos moradores, o jornal registra fatos antigos e a evolução, com o passar dos anos. Mas, mais do que isso, mostra quem são as pessoas que estão fazendo história nesses locais neste momento – seja como moradores, empreendedores ou trabalhadores dessas empresas e instituições. No projeto ‘Ruas cuidadas, cidade melhor’, a Folha do Mate busca evidenciar também as melhorias feitas pelo Poder Público e a contribuição que as pessoas têm dado para deixar a cidade mais bonita e bem cuidada. Quantas delas, quem sabe, se tornarão também nome de rua?
Vô Agnes e as ruas
A última publicação do caderno sobre as ruas, divulgada quinta-feira, 29, focou a Jacob Becker e Barão do Triunfo. Enquanto elaborávamos o conteúdo, ao pesquisar sobre quem foi Jacob Becker – professor nascido na Alemanha, que fixou residência em Venâncio Aires em 1892, foi intendente (prefeito) e o primeiro diretor da escola paroquial que deu origem ao Colégio Bom Jesus Nossa Senhora Aparecida – lembrei que meu falecido avô, Aloysius José Agnes, foi aluno dele.
Em diversas ocasiões, o vô Agnes comentou sobre as aulas realizadas nos fundos da Igreja São Sebastião Mártir. Foram dois anos de estudos em alemão mas, por conta da proibição de falar o idioma, nos outros dois anos, a turma repetiu o conteúdo dos primeiros anos com aulas em português, ministradas pela filha de Jacob Becker.
Nas conversas com o vô Agnes, tive a oportunidade de aprender um pouco sobre várias pessoas que dão nomes a ruas de Venâncio. A seguir, compartilho trecho de uma matéria que fiz com o vô, na época da faculdade:
“A memória de Aloysius é rica de detalhes e informações de Venâncio Aires para fazer inveja a uma série de livros. Enquanto a maioria dos registros históricos fala das personalidades que deram nomes a ruas, prédios e entidades do município, de forma burocrática; seu Agnes, embora jamais tenha pisado em um curso de jornalismo, percebeu detalhes que fazem qualquer reportagem tomar forma. É com informações minuciosas, que por vezes até confundem o ouvinte, que ele relata a história das ruas da Capital do Chimarrão, a partir das pessoas que deram nome a elas.
“Sobre a rua Coronel Agra, o senhor sabe alguma história?”, pergunto.
“O Coronel Agra não conheci, mas a filha dele, sim. Ela trabalhava no Correio e era muito feia”, resume, sincero.
O Emílio Michel, cidadão que deu nome a uma rua do bairro São Francisco Xavier, onde seu Aloysius mora, ele também conheceu. “O Emílio Michels era recebedor de fumo de uma empresa. Ele tinha a idade do meu pai. Sempre ia passear lá em casa. O filho dele ia na aula comigo”, conta.
Outro que visitou a família Agnes quando Aloysius ainda era um guri foi o padre Albino Juchem. O religioso costumava aparecer por lá para jogos de carta. Hoje, tem estátua no gramado da Igreja Matriz, dá nome a uma rua e à maior escola de Venâncio Aires. O Edmundo Feix, que hoje virou nome de estádio do Esporte Clube Guarani, também conviveu com seu Agnes.
“Ele consertou algum chinelo pra mim”, lembra, sorrindo.
“Então ele era sapateiro? Achei que fosse jogador de futebol”, comento.
“Ele era jogador do Guarani. Era magrinho e alto. Jogava na defesa. As gurias da torcida gritavam para ele ‘vai Edmundo, vai Edmundo’”, diverte-se.
“E ele era bonito, para elas ficarem gritando?”, pergunta o Ismael, meu marido.
“Era assim, mais ou menos que nem tu”, define.
Obrigada, seu Volnei
Faleceu nesta semana, aos 82 anos, Volnei Alves Corrêa. Administrador, economista, consultor e professor aposentado da UFRGS, seu Volnei se destacou em Venâncio Aires, nos últimos anos, pelo trabalho como ambientalista, especialmente na defesa da recuperação das nascentes do arroio Castelhano. Foi com ele que ouvi falar, pela primeira vez, sobre Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Por uma triste coincidência, a ordem de início do projeto que vai contemplar 25 propriedades rurais de Venâncio com nascentes do arroio Castelhano, foi assinada na terça-feira, 27 de junho, um dia depois que seu Volnei nos deixou.
Desde 2017, por conta da atuação voltada à preservação da água, entrevistei-o em diversas ocasiões e sempre fiquei admirada com a sua motivação e o comprometimento com as causas ambientais e sociais em plena aposentadoria, quando poderia simplesmente descansar e curtir a vida. Além de um defensor das nascentes, atuou fortemente nas ações do Banco de Alimentos, do Rotary Club Venâncio Aires Chimarrão e, há alguns meses, havia assumido a presidência do Núcleo de Cultura de Venâncio Aires (Nucva). Um legado especial que deixa aos venâncio-airenses.