Grupo Cacique: lembranças dos tempos do bolão no Clube de Leituras

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Imagine centenas de pessoas se reunindo em 1975, junto à rua Júlio de Castilhos, para a inauguração da ampliação do Clube de Leituras. Mais do que aumentar o espaço de uma das principais sociedades de Venâncio Aires, a ‘parte nova’, construída ao lado do prédio principal do Leituras, abrigou a nova pista de bolão do local.

Eram tempos de Avelino Klein na presidência (foram cinco mandatos, aliás) e a obra foi uma marco para o Clube. Na década de 1970, a entidade venâncio-airense já era uma referência para essa modalidade esportiva (uma espécie de boliche, de origem germânica) e que vinha conquistando inúmeros adeptos desde os anos 1920. Por aqui, mostraram suas jogadas diversos times que integravam, inclusive, a então Federação de Bolão do Rio Grande do Sul.

Ilvo Nicolay, o Paraguai, foi campeão estadual de bolão em 1971 (Foto: Arquivo pessoal)

Os talentos vinham de tudo que é cidade, mas muitos deles eram ‘prata da casa’ e participavam dos grupos de bolão do próprio Leituras, como o Cacique, fundado em 1940. Entre os atletas, estava Ilvo Nicolay (1930-2010). Em 1954, com a esposa Manila, hoje com 88 anos, ele trocou Arroio do Meio por Venâncio Aires e foram morar na rua Sete de Setembro, a meia quadra do Leituras. Essa proximidade fez o casal começar a frequentá-lo e a jogar bolão. Em Venâncio, Nicolay recebeu um apelido, ainda hoje conhecido por muitos na cidade: Paraguai. Não se sabe exatamente a origem, mas “foi a turma do futebol que começou a chamar ele assim”, lembra Manila.

A aposentada, que trabalhou como costureira por mais de 60 anos, tem na memória e nas fotografias as lembranças dos tempos áureos do bolão no Leituras, esporte que ela também praticou após incentivo do marido e das amigas. “O Clube tinha vários grupos de bolão. Tinha só de homens, de casais e só de mulheres, como o ‘Unidas Venceremos’ [fundado em 1955], que eu participei.” Manila conta que o bolão, para ela, era mais uma diversão e nunca se aprimorou no esporte. Mas havia quem realmente jogava bem e até conquistou títulos, caso do próprio Paraguai, campeão estadual individual de bolão em 1971. A placa recebida na premiação está guardada com o filho, Dilvo, 65 anos. Além dele, o casal teve uma filha, Arlete, hoje com 67 anos.

Manila Nicolay guarda fotografias da época do Cacique, grupo que também se reunia para tocar instrumentos musicais (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Época feliz

Paralelo ao bolão, o Cacique também fazia as vezes de conjunto musical, mas apenas para animar os próprios encontros. O marido de Manila tocava bandoneon. Também participava do Cacique, Reni Nicolay, irmão mais novo de Paraguai e que, por isso, ficou conhecido como Paraguaizinho. A aposentada lembra que o cunhado teve um bar, que levava na fachada a respectiva alcunha, na rua General Osório, entre as ruas Osvaldo Aranha e Júlio de Castilhos. De acordo com Manila, no grupo de bolão ainda estavam nomes conhecidos na cidade, como o professor e maestro Ivo Seidel, Lothário Schmidt (proprietário da Motorsul, primeira concessionária da Volkswagen de Venâncio Aires), Guido Fischer (trabalhou no Banco do Brasil), Alvísio Lenz, Rodolpho Knies (empresário do ramo tabacaleiro) e Elo Eichner.

Conforme a aposentada, os jogos de bolão os levaram para diversos municípios do Rio Grande do Sul, o que oportunizou conhecer muitas pessoas. “Foi uma época feliz, aproveitamos muito, conhecendo pessoas e fazendo amizades. São ótimas lembranças”, resume Manila. Além do esporte, ela também fala com carinho do Clube de Leituras por ter sido, em muitos momentos, palco de festas da família, principalmente os aniversários de Paraguai, que adorava reunir os amigos e familiares para festejar. Hoje, se estivesse vivo, ele teria 93 anos. “Com certeza, ele estaria muito feliz de ver o Clube ainda forte e renovado.”

Grupo de Bolão Cacique foi fundado em 1940. O registro é da década de 1980 (Foto: Arquivo pessoal)

Saiba mais sobre o bolão no Leituras

Além do Cacique, outros grupos de bolão marcaram história dentro do Clube de Leituras. Conforme pesquisa feita pela atual diretoria da entidade, por décadas, os sócios se organizaram em grupos de idades variadas, denominados de força livre. As atividades eram de março a novembro.

O torneio era composto por grupos masculinos, feminino e casais, que treinavam semanalmente, organizados assim: grupo de casais Somos Iguais (domingo), grupo feminino Unidas Venceremos (segunda-feira), grupo masculino Riachuelo (terça-feira), grupo masculino Ipiranga (quarta-feira), grupo masculino Aguenta Firme (quinta-feira) e grupo masculino Cacique (sexta-feira).

Grupo feminino de bolão, Unidas Venceremos, do qual Manila fazia parte (Foto: Reprodução/Facebook Grupo Venancioairenses)

Em 14 de julho de 1927, iniciou o Riachuelo, o mais antigo, que realizava anualmente o famoso baile do Riacho. Na Semana da Pátria, ocorriam campeonatos municipais, regionais e estaduais, com diversos campeões venâncio-airenses. Gerdi Knudsen, por exemplo, jogou por 10 anos na seleção gaúcha, sendo seis vezes campeã. No individual, em 1992, ela foi campeã brasileira.

Os grupos realizavam uma janta mensal. O organizador do grupo cobrava um salário mínimo de cada equipe, que era revertido em janta, baile, premiações e taxas. Em 21 de abril de 1967, o Clube foi local da assembleia de fundação da Liga Venâncio-airense de Bolão (LVB), com objetivo de reunir diversos clubes. A sede administrativa era no Leituras.

Centenas de troféus foram conquistados por atletas de Venâncio Aires, itens que seguem no acervo do Clube. O encerramento do jogo de bolão no Leituras ocorreu porque a Federação Gaúcha exigiu quatro pistas para realização dos torneios, enquanto o clube tinha duas pistas, sem condições de ampliação. Não há informação exata sobre o ano em que isso aconteceu.

274 – É o número de troféus de bolão que estão no acervo do Clube de Leituras.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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