A rua Osvaldo Aranha é conhecida por ser a principal de Venâncio Aires. Endereço de muitos pontos comerciais, a Rua Grande, como também é chamada, tem poucas residências, atualmente. Entre elas, está a casa da professora aposentada Marione Inês Kunkel, 70 anos, que mora há quatro décadas no mesmo endereço, em uma localização privilegiada, ao lado do prédio Work Center, que fica na esquina da rua Conde D’Eu.
Ela recorda que o terreno pertencia à Pedrina Feix, e a casa ao lado, onde hoje é a SIR Tecnologia, era de Aurora Ribeiro da Rosa – as duas eram irmãs, e quase toda quadra era da família delas. Mais tarde, o terreno foi adquirido pela família de Marione, onde ela cresceu com os pais, e mais tarde, um advogado chegou a comprar o imóvel. Mas, devido ao valor afetivo, depois de alguns anos eles decidiram comprar de volta e reformar a casa. “Gosto muito de morar aqui, já estou habituada com o movimento e o barulho. E sempre encontro pessoas conhecidas, como ex-alunos e pais de ex-alunos passando, é a parte mais gostosa”, afirma.
De acordo com a professora aposentada, o trânsito é mais intenso nas sextas-feiras e no horário do meio-dia, muito devido à localização próxima de escolas, posto de combustível e caminho de retorno de colaboradores de grandes empresas no Acesso Imperatriz Dona Leopoldina. “Tem dias que não consigo mais sair de carro, porque devido à faixa de pedestres na esquina, forma uma fila de carros na frente de casa”, comenta. Marione reforça que, com o passar dos anos, é perceptível o aumento do número de veículos circulando.
Nos dias de edição da Folha do Mate, como leitora assídua do jornal desde 1985, Marione explica que a rotina é sempre a mesma, principalmente nos sábados pela manhã. Levantar e buscar o jornal, fazer um chimarrão e sentar na frente de casa para ler. “Aos poucos vão passando conhecidos, param para conversar e tomar um chimarrão e quando vi passei a manhã toda ali”, destaca.
Uma sugestão de Marione, para melhorar a rua, seria que tivesse mais limpeza por parte da equipe da Prefeitura. “A rua é a principal da cidade, o cartão-postal, então penso que o investimento e cuidado poderiam ser maiores, principalmente com o Centro”, observa. A professora aposentada ressalta que, enquanto for possível, ela e o marido Elenor José de Moura, 63 anos, vão seguir morando no endereço.
Camarote para os desfiles da Rua Grande
O endereço de Marione é privilegiado nos dias de desfiles na Osvaldo Aranha, como no Carnaval, 7 de Setembro e Desfile Farroupilha. A quadra onde ela mora geralmente é onde ocorre a concentração das escolas. Por isso, em época de Carnaval, é comum ela reunir amigos e familiares no local para aproveitarem a data juntos, de ‘camarote’. “O fluxo de pessoas é grande e sempre fecham a rua. Até nem gosto de sair de casa nesta época, por isso chamo todo mundo para cá e aproveitamos até a madrugada.”
Uma das curiosidades é que Marione inclusive já emprestou linhas e agulhas de costura para os integrantes da escola quando acontecem acidentes de rasgar ou precisar ajustar as fantasias na última hora.
Em alguns anos, comenta Marione, houve uma grande preocupação com a movimentação de pessoas e o barulho no posto de combustível na frente da sua casa. “Ficávamos apreensivos, eles subiam nas bombas de combustível com cigarros na mão, era um perigo”, alega. No entanto, ela comenta que nos últimos anos isso foi resolvido com o isolamento do posto nos dias de desfile de Carnaval.
Nos desfiles de 7 de setembro, como era professora, sempre participava. Atualmente aposentada, assiste à caminhada dos estudantes pátio de casa. “Me surpreendo com a organização das escolas, tudo muito lindo”, elogia, ao ressaltar também o quanto gosta de acompanhar o Desfile Farroupilha.
Com a passagem do tempo, as mudanças na rua
Ao longo dos 40 anos em que mora na rua Osvaldo Aranha, Marione Kunkel acompanhou o crescimento e as mudanças da cidade pela janela de casa. Quando chegou no endereço, ela lembra que a pavimentação da rua era com uma pedra no estilo basalto, que era muito bonita e tradicional. Agora com o asfaltamento, a preocupação é com o escoamento da água, que não é mais absorvida facilmente no solo como antigamente, e também com as inundações.
Entre as lembranças da infância, Marione cita o posto de combustíveis, que era bem menor, o qual ela sempre frequentava na companhia do pai. “Acompanhei todas as etapas de evolução do posto”, destaca. Outro aspecto que avançou e mudou muito, segundo ela, foi o comércio da rua. “Tinha muitas lojas de família por aqui, e tudo saiu.” Entre os empreendimentos lembrados por ela estão loja do Benno Wendt, Casa Kirst, Mahle, Guterres, Móveis Suzana e Casa Seibert. “O Centro, antigamente era mais aqui para cima. Hoje em dia o que se vê são muitas lojas de grandes redes”, afirma.
Das mudanças na rua, Marione lembra que na esquina com a rua Duque de Caxias, onde hoje está a farmácia Panvel, morava Amandio da Silva, um barbeiro popular e que era responsável por receber e entregar de bicicleta todos os jornais de Venâncio na época. Ao lado, o irmão dele, Luís da Silva, o Luisão, tinha um bar. Depois os irmãos venderam o local para que fosse construído o restaurante e pizzaria Schuh.
A moradora também recorda que, em frente, na outra esquina, morava Espiridião Santiago, que era o dono do posto de combustível, o Posto Ipiranga, na época. Onde hoje está a Loja América, Marione conta que havia um depósito da antiga transportadora Venâncio aires. E entre os vizinhos, na quadra abaixo, moravam Salvador Stein Goulart, que foi prefeito de Venâncio Aires de 1964 e 1968, e a esposa Helena de Brito Goulart, primeira vereadora eleita em Venâncio Aires, cargo que ocupou de 1973 a 1982.