Puro, com canela ou na batida com frutas. Frio ou quentinho. Na mistura do bolo ou do pão. Não importa a forma, o leite (rico em cálcio, mineral importante para a saúde óssea) é um dos principais alimentos da nutrição humana e, independente da idade, é apreciado por muita gente. Para as crianças, é difícil dissociar da rotina e o leite acaba virando quase uma unanimidade ao paladar nos primeiros anos. Assim é para Arthur Gabriel Lemes da Silva, 5 anos, aluno do pré A da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Pingo de Gente, do bairro Battisti, de Venâncio Aires. O sorriso e o ‘bigode branco’ após uns goles não deixam dúvida: “Eu gosto muito. Em casa tomo também”, revela o menino, durante um dos lanches da escola.
Com exceção dos bebês do berçário que tomam fórmula até os nove meses e as crianças com intolerância à lactose, as quais recebem um leite específico, Arthur e os demais pequenos que estudam na rede municipal de ensino da área urbana de Venâncio Aires consomem um leite que tem verdadeiramente o gostinho de interior. Isso porque ele é fornecido pelas agroindústrias locais, numa parceria com a Prefeitura.
De acordo com o setor de Alimentação Escolar da Secretaria de Educação, atualmente, a média mensal de leite pasteurizado consumido gira em torno de 2,5 mil litros. O pasteurizado tem uma validade menor (entre 5 e 7 dias) e precisa de transporte refrigerado. Mas a opção pelo tipo, conforme a Educação, é por ser um produto minimamente processado e sem aditivos químicos.
Ainda conforme a Secretaria de Educação, do total necessário neste ano, 12,3 mil litros foram adquiridos via Cooperativa de Produtores de Venâncio Aires (Cooprova), fornecidos pela agroindústria da família Kessler (marca Vita Sã), de Linha Harmonia da Costa, por meio de chamada pública. O restante está sendo via vencedor de licitação, Kirch e Silva (empresa do ramo alimentício), que fornece através da marca Agroleite, da família Angnes, de Linha 17 de Junho. Nas próximas semanas, excepcionalmente, serão utilizados 2,7 mil litros de leite de doação, recebidos da Defesa Civil do Estado, devido à enchente que atingiu a região, inclusive os distritos de Vila Mariante e Estância Nova, no início de setembro.
Proximidade
Na Emei Pingo de Gente, onde Arthur estuda, há 116 alunos entre berçário e pré B. Segundo a diretora Cristiane Pfaffenseller, praticamente todas as crianças consomem leite, nas mais variadas formas. Na escola, por exemplo, ele é oferecido puro, com canela, com cacau ou na batida de frutas, mas nada é preparado com açúcar. Isso é devido a uma resolução do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), de 2020, que proibiu o uso de açúcar no preparo dos alimentos para crianças de até 3 anos nas unidades de ensino. Em Venâncio, a medida se estendeu para todas as turmas das Emeis o que, naturalmente, abrange crianças até 5 anos, pelo menos.
Na Pingo de Gente, o leite também é usado para fazer requeijão caseiro e ‘mumu’ de amendoim, para comer com pão. O mumu, aliás, é receita própria da Emei. Para completar, o alimento é utilizado no preparo de bolos, purês e panquecas. Nesse caso, usa-se o zero lactose, para que os pequenos com intolerância também possam consumir.
Para a diretora Cristiane, a proximidade com as agroindústrias locais melhorou muito a qualidade dos produtos recebidos. “Essa relação próxima com o produtor e com a cooperativa local, garante, além de um leite de melhor qualidade, a disponibilidade de datas de entrega e agilidade quanto à resolução de algum imprevisto. Entendo que a relação com o produtor local é melhor e, sendo assim, o compromisso com a própria comunidade é muito maior também.” Atualmente, o pedido semanal médio na escola é de 50 litros.
A responsabilidade de quem produz
Entre os fornecedores de leite pasteurizado para as escolas municipais de Venâncio, está uma agroindústria de Linha 17 de Junho, da marca Agroleite. Com 20 anos, o empreendimento também fornece leite para mercados, padarias, o Hospital São Sebastião Mártir, o Lar Novo Horizonte e indústrias de tabaco.
Sirlene Angnes toca a agroindústria com o marido Eligio e os filhos Alexandre e Rodrigo, que é o responsável pelas entregas diretamente nas escolas, feitas duas vezes por semana. Sirlene explica que o leite é pasteurizado a 75 graus, processo que faz ‘segurar’ os nutrientes do alimento. Ela também destaca o tamanho da responsabilidade sanitária: são quatro análises microbiológicas por ano e três análises físico/químicas por ano, além da fiscalização do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) a cada 14 dias.
Atualmente, a agroindústria tem 10 vacas em lactação em parceria com seis produtores de localidades próximas e que também têm seus próprios plantéis. Ainda em 2023, a família Angnes espera tirar do papel um projeto para construir uma estrutura nova e que lhe dará condições de triplicar a produção de leite atual.
“Estamos sempre pensando num produto final com muita responsabilidade, que seja bom, que alimente e que tenha seus nutrientes. É muito bom saber que o produto que a gente faz aqui alimenta as crianças das creches, e saber que a Prefeitura valoriza o leite daqui.”
SIRLENE ANGNES – Proprietária da Agroleite
Incentivo à agricultura familiar
O leite é um dos itens da alimentação escolar da rede municipal de Venâncio Aires adquiridos da agricultura familiar do município, junto com uma série de outros produtos. Segundo o secretário de Educação, Émerson Henrique, dentro do Programa Nacional da Alimentação Escolar (Pnae), a exigência é de que 30% dos recursos sejam destinados para a agricultura familiar.
Mas, nos últimos anos, a Prefeitura tem atingido percentuais bem maiores. “Mesmo em ano de pandemia, em 2021, batemos mais de 60% de aquisição da agricultura familiar. Em 2022, chegamos a 82%. E, em 2023, já superamos os 50%. É uma forma de incentivo aos produtores locais, no sentido de adquirir um alimento produzido em Venâncio, com recurso ficando aqui e fomentando o setor. Além da qualidade de alimentação para a rede municipal de ensino”, destaca Henrique.
Produção no município
• De acordo com dados da Emater, Venâncio Aires tem duas agroindústrias de leite. São atuais 91 produtores no município e a produção anual gira em torno de 7,5 milhões de litros que vão para agroindústrias ou indústrias de laticínios.
• Em retorno financeiro, a produção leiteira em Venâncio vem registrando aumento dentro do Valor Bruto da Produção Agrícola (VBPA) do município: R$ 10,3 milhões em 2019; R$ 12,6 milhões em 2020; R$ 14,5 milhões em 2021 e R$ 17 milhões em 2022.