No início da década de 1980, um jovem cantor paulista se consagrou nacionalmente com uma música que caiu no gosto popular. Almir Rogério ficou famoso por causa de uma canção que contava uma história relacionada a um carro, de um modelo que foi xodó dos brasileiros por décadas. “Fuscão preto, você é feito de aço…” diz o refrão, conhecido mesmo entre as gerações mais novas. É quase impossível não lembrar dessa música ao ver um Fusca preto rodando por aí, ainda que seja algo raríssimo hoje em dia.
Esse é só um exemplo para mostrar como a relação com os carros faz parte da memória afetiva de muitas pessoas. Assim também o é para Rudimar Spader, 55 anos, morador de Venâncio Aires. No caso dele, que é um colecionador de carros e motos, a coleção não foi pensada, mas aconteceu aos poucos, se apegando, primeiro, a uma Kombi 1975. Há mais de 20 anos, Spader, que administra uma lancheria e um restaurante em Venâncio, usava o veículo para trabalhar. Depois, também virou carro de passeio e era nele que levava a filha caçula, Marla, hoje com 22 anos, para as corridas de motocross em Mato Leitão e no Parque do Chimarrão.
O primeiro carro que comprou para, digamos, colecionar, foi um Ford Galaxie 500, ano 1975. E é quando fala desse veículo que as lágrimas rolam pelo rosto de Spader. Era o carro favorito da filha mais velha, Nione, que faleceu aos 17 anos, em 2014. “Ela adorava. E sempre dizia para eu nunca vender”, comentou, afirmando que não pensa em se desfazer dos 20 modelos de carros e 15 motos que guarda numa grande garagem em casa, construída especialmente para isso. “Todo dia aparece alguém interessado, querendo comprar. Já veio gente de Santa Catarina e até São Paulo.”
Além da Kombi e do Galaxie, há modelos de Opala, Fusca, Caravan, TL, caminhonetes C15, D10 e C10, um Alfa Romeo e uma pick up Willys. O gosto, em comum com outros colecionadores, o faz participar de grupos, como Amigos da Estrada, Confraria das Carangas e Galeiros dos Vales.
A Brasília e o Fusca
Perguntado se tem algum modelo que ainda gostaria de ter, Rudimar Spader revela que o sonho é recuperar um carro que já foi seu. Trata-se de uma Brasília ‘azul calcinha’ que o pai dele comprou zero quilômetro em 1979, quando Spader tinha 11 anos. Foi nesse veículo que ele aprendeu a dirigir, quando ainda morava no interior de Encantado, de onde é natural.
A Brasília saiu da família em 1988, quando Spader decidiu empreender. “Vendi o carro para comprar a lancheria”, conta, se referindo ao espaço que mantém até hoje, no Centro de Venâncio. Em 2007, quando decidiu abrir um restaurante em Linha Travessa, outro carro foi importante para o empreendimento. Fez uma troca ‘de mano’: o Fusca preto 1970 que tinha pelo buffet térmico do restaurante, em uso até hoje.
Motos
• Apreciador de motocicletas, Rudimar Spader gosta muito da marca Yamaha. Tem os modelos ‘cinquentinha’, ‘oitentinha’, 75, RX 125, TT 125, RD 135, RDZ 135, RX 180 e DT 180.
• Para completar a coleção de Yamaha, conta que tem o desejo de adquirir uma RD 350, também conhecida por ‘Viúva Negra’. Segundo o site moto.com.br, foi lançada em 1973 e exigia bastante habilidade dos pilotos. Devido a alguns acidentes fatais, ganhou o tal apelido.
Memória afetiva
Rudimar Spader revela que seu lazer é dar umas voltas com os veículos ou ir para a garagem e ficar mexendo. Entende um pouco de motores e peças, por isso afirma: se fosse mais jovem e tivesse no tempo de escolher uma profissão, seria mecânico.
Spader é casado desde 1994 com Vanusa da Silveira, hoje com 49 anos. “Nosso primeiro passeio foi num Opala preto 1988”, recorda ela, fazendo menção a outro clássico dos colecionadores. “Esses carros dão nostalgia. Lembram muitos momentos e é incrível que, todos que passam aqui, sempre têm alguma história relacionada a algum carro. Mexe com a memória”, considera Vanusa.
O amor pelos veículos antigos passou ‘no sangue’. Marla, a filha de 22 anos, também adora a coleção, em especial a Kombi azul com branco, 1975. “Pretendo sim manter a coleção, por conta do amor que o pai me fez sentir por aqueles carros. Sei que todos foram ‘suados’ para conseguir e em honra a isso, com certeza, vou manter.”