Ele não enxerga, mas fortaleceu outros sentidos e, por meio da vontade e iniciativa em ser uma pessoa independente, criou habilidades desconhecidas mesmo para quem tem a visão perfeita. Nelson Buche, o Nude, de 67 anos, é natural de Linha Arroio do Tigre, interior de Santa Cruz do Sul. O mais velho de três irmãos, quando era ainda muito pequeno a mãe, Olinda Buche (já falecida) percebeu que ele não tinha visão. “Ela contava que via que eu caia, tropeçava nas coisas, mas demorou para perceber que eu não enxergava”, diz.
As outras duas irmãs, hoje já falecidas, também tinham problemas de visão. Uma era cega e a outra tinha perda significativa. “Nunca se soube o porquê desse problema, moravam no interior, não se tinha muitos recursos”, afirma Glaci Beckenkamp, sobrinha de Nude, com quem ele mora há 13 anos no bairro Bela Vista.
Mesmo sem enxergar, Nude sempre procurou ser uma pessoa proativa. Ainda na infância e adolescência, no interior de Santa Cruz do Sul, saía de casa, ia até os vizinhos e tomava banho de açude. Pela saúde mais debilitada da mãe, os dois aceitaram o convite da sobrinha para se mudar para Venâncio Aires em 2010. Construíram uma casa para os dois nos fundos da residência e é no mesmo local que ele mora até hoje. “Eu pedi para eles me levarem uma vez em cada um dos cômodos e depois me acostumei sozinho”, conta. Da mesma forma com o pátio, que ele circula tranquilamente da frente aos fundos.
É Nude quem coloca a ração para os cachorros, lasca os gravetos para o fogão a lenha, prepara o fogo e cozinha a própria comida. Lavar louça e preparar o chimarrão também é tarefa de Nude, que só pede ajuda para varrer e lavar a casa. “Eu gosto de usar o fogão a lenha, não tem tanto perigo. Sou muito cuidadoso, se tenho alguma dúvida peço ajuda”, comenta.
Um grande fã de rádio, liga logo cedo pela manhã para se atualizar das notícias de Venâncio e também da terra natal. “Minha alegria é escutar rádio”.
Música
Comunicativo, Nude gosta de uma boa conversa e de música. Aos 19 anos, aprendeu a tocar gaita com um tio. “Meu tio mostrou onde era para apertar e fui tentando. Demorei a aprender a tocar uma valsinha, depois segui tocando”.
Embora hoje diz ter dificuldade por conta da idade e da falta de prática, adora uma valsa e relembrar as canções antigas como Morena Querida, de Teixeirinha. Ele chegou a participar tocando gaita em visitas de Terno de Reis.