A partir do número de casos de câncer registrados em Venâncio Aires anualmente, a Administração Municipal busca garantir a implantação de um Centro de Oncologia. Conforme levantamento realizado pela Secretaria de Saúde, nos primeiros 97 dias de 2014, foram confirmados 82 novos casos de câncer no município.
Para facilitar o recurso terapêutico, a Prefeitura estuda desde o ano passado implantar um local para o tratamento da doença. Atualmente, a referência para os procedimentos em saúde são Santa Cruz do Sul e, em casos específicos, Porto Alegre. A previsão é de que Venâncio tenha pelo menos 300 novos registros de câncer no ano.
Com estes números, a Prefeitura quer ampliar os atendimentos aos pacientes do município. Após aprovada a venda do terreno e prédio onde estão instaladas a Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Social e o Almoxarifado, o governo irá doar uma área ao Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), possibilitando ampliações. Na área está sendo projetado um centro de diagnóstico por imagem, que pode ser construído pela iniciativa privada.
O projeto fica localizada na Rua Visconde do Rio Branco. Conforme o estudo de ampliação, o terreno seria interligado à Casa de Saúde através de uma passarela. O novo prédio contaria, inclusive, com espaço para um heliporto.
A iniciativa depende de acordos com o Governo do Estado e Ministério da Saúde. Para o prefeito Airton Artus, pelo número de casos registrados, Venâncio já poderia ter um espaço para tratamento. “Estamos trabalhando, queremos repassar esta nova área ao hospital, e trabalhar com o Estado para garantir este novo setor na nossa cidade. Está em fase inicial, mas precisamos melhorar os atendimentos nesta área”, avalia.
Segundo ele, a cidade já conta com recursos humanos para atender este tipo de doença. “Já temos condições de efetuar este atendimento. Contamos com médicos especializados e estrutura primária necessária. Agora precisamos trabalhar para aumentar as nossas bases de exames e tratamentos específicos”, completa.
Para garantir suporte do governo estadual, a Administração Municipal irá trabalhar os atendimentos de forma microrregional. Atualmente o HSSM é referência para outros três municípios: Vale Verde, Passo do Sobrado e Mato Leitão.
Tratamento Tutorial
Iniciou nesta semana um novo serviço em Venâncio Aires para o tratamento oncológico em nível ambulatorial. Os trabalhos começaram após a contratação de uma nova funcionária. Conforme o prefeito Airton Artus, este é passo inicial para ampliar os atendimentos. “Depois queremos qualificar ainda mais este serviço, ampliando também a hierarquia dos tratamentos”, projeta.
Casos de mama e pele no topo do ranking
A maioria dos disgnósticos na saúde pública municipal é de câncer de pele e mama. Em seguida aparecem a próstata e pulmão. “A cada ano vem aumentando o número de pacientes. Em todo o ano passado, incluímos no sistema cerca de 300 pessoas. Neste ano, estamos apenas em abril e já temos 82 novos pacientes”, afirma a coordenadora de Saúde da SMS, Denise Uhlmann.
Segundo ela, o próprio Hospital Ana Nery, referência regional em oncologia, vem se surpreendendo com o número e não tem conseguindo contemplar a demanda de atendimentos. “Lá eles já atendem das 8h até a meia-noite”, diz Denise.
Os pacientes, quase na sua totalidade, são encaminhados para o hospital na cidade vizinha. Somente casos de tumor ósseo são direcionados para Porto Alegre, enquanto que casos de ematologia (câncer no sangue), vão para Lajeado.
O tratamento, bem como a medicação, é toda financiada pelo Estado. O Município, além de fazer o encaminhamento, fornece trasporte diário pela manhã e à tarde, em uma van.Uma lei federal, que vigora desde 2013, exige que o início do tratamento do câncer não demore mais do que 60 dias. Denise assegura, no entanto, que os pacientes de Venâncio Aires têm sido atendidos em até 30 dias. “A partir da primeira consulta, o médico é quem define a próxima”, esclarece.
Denise acredita que o aumento do número de casos seja resultado da ampliação das consultas e exames preventivos. “Antes, muitas pessoas conviviam com uma doença, morriam sem saber o que tinham. Hoje, nos postos e unidade de saúde, os médicos já encaminham os pacientes para biópsias, identificam o problema e o paciente tem mais perto a chance da cura, que é sim, possível”, afirma.
Homens estão cada vez mais conscientes
Foi-se o tempo em que os homens abriam mão – por vergonha ou desinformação – de passar pelo exame que pode detectar o câncer de próstata, um dos que mais afeta o sexo masculino. De acordo com o urologista Ivan Seibel, coordenador do Programa de Prevenção ao Câncer de Próstata da Secretaria Municipal da Saúde, o aumento da procura pela pré-investigação da doença demonstra que eles estão mais conscientes em relação aos perigos da próstata. “Há 30 anos, era praticamente impossível sensibilizar um homem para o exame de toque. Atualmente, investigamos uma média de 10 casos por mês, com dois a três sendo encaminhados para procedimento cirúrgico”, esclarece o profissional.
Em Venâncio Aires, são os clínicos gerais que solicitam exames quando há suspeita de câncer. Em princípio, são verificadas eventuais existências de nódulos ou alterações dos tecidos da próstata. A confirmação só ocorre após análise da biópsia e, em casos positivos, os pacientes são direcionados para o serviço de oncologia do Hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul. “Lá é completada a investigação e definido o tratamento”, explica Seibel, ressaltando que a cirurgia é mais indicada para pacientes de até 70 anos, a radioterapia é normalmente aplicada em homens entre 70 e 80 homens e a hormônioterapia – um procedimento mais complexo – se aplica para pacientes acima dos 80 anos.
De acordo com o médico, a primeira investigação, por questões genéticas, deve ocorrer aos 40 anos, no caso dos afrodescentes, e aos 45, entre os nórdicos. A maior incidência do câncer de próstata é verificada a partir dos 50 anos e, aos 90, todos os homens têm a doença. “é um câncer que tem a evolução muito lenta e, por isso, uma descoberta precoce permite uma sobrevida de 20 a 25 anos, com dignidade”, argumenta o urologista.
Psicóloga perdeu o pai, teve câncer e não desistiu da Liga
Em 2001, após receber um convite da amiga Melissa Morsch – que na época era a psicóloga da Liga Feminina de Combate ao Câncer (LFCC) de Venâncio Aires -, a também psicóloga Daniela Graef não titubeou e, logo depois, estava acompanhando as profissionais da Liga em visitas a pacientes. O que ela não poderia imaginar era que, dois anos depois, em 2003, trocaria de lado, deixando de ser uma voluntária para ir em busca de tratamento para um recém-descoberto câncer de pele. O que parecia ser um inofensivo sinal de nascença chamou a atenção, primeiramente, do marido e da filha de Daniela (ele médico), que aconselharam que a psicóloga investigasse a “pinta”, como ela mesma diz. Não demorou para a confirmação que, embora negativa, teve extrema importância em razão da precocidade.
O melanoma de grau 3, considerado grave, mudou a rotina não apenas de Daniela, mas também de seus familiares. As viagens para Porto Alegre, mais precisamente até o Hospital Santa Rita, onde ela conduzia seu tratamento, passaram a ocorrer com certa frequência e o drama foi amenizado somente quando ela soube que não precisaria se submeter a procedimentos de quimioterapia e radioterapia. “Quando saiu o resultado da metástase (formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra), deu negativo. Como o câncer é uma doença que tem como característica enraizar-se nos tecidos e pode se alastrar para outros órgãos do corpo, havia a preocupação, que foi, felizmente, afastada”, recorda a psicóloga.
O câncer não era novidade na vida de Daniela. Quando tinha oito anos, acompanhou, sem saber muito bem o que estava acontecendo, as viagens do pai, Henrique Graef, a Porto Alegre. Diagnosticado com câncer, ele aproveitava as caronas de um familiar que trabalhava na Capital para as consultas na Santa Casa, único hospital que, naquela época, recebia pacientes acometidos pela doença. Chegou a comemorar quando recebeu a notícia de que Henrique não faria mais o trajeto até Porto Alegre, pois achava que o pai estava livre do câncer. Mas, a verdade, era que nada mais podia ser feito. Perdeu o pai, mais tarde venceu a mesma doença e o normal seria se afastar de tudo o que lembrasse o câncer. No entanto, preferiu ir na contramão do óbvio e não se arrepende disso. “Logo que descobri o melanoma, me perguntaram se eu continuaria o trabalho voluntário. Disse que teria que dar um tempo, esperar a evolução do tratamento. Mas, depois, tive certeza do que deveria fazer”, afirma.
As semelhanças entre Daniela e Clarice
Passada a tempestade, coube a Daniela Graef e outras profissionais a tarefa de formar o Grupo de Apoio Espaço Amigo, vinculado à Liga Feminina de Combate ao Câncer e que atualmente conta com 12 integrantes assíduos que entendem como indispensável as sessões para trocas de experiências a cada duas semanas. Entre as componentes está a aposentada Clarice Terezinha Konzen, de 60 anos, que em 2014 poderá festejar uma década de vitória contra o câncer. O caso foi muito semelhante ao de Daniela, com a diferença de que o sinal que evoluiu para uma “mancha preta”, lembra Clarice, apareceu no seu braço esquerdo, no qual carrega até hoje a cicatriz resultante da cirurgia para a retirada do melanoma.No dia 23 de dezembro de 2004, depois de já ter lido sobre os riscos do câncer de pele e notar que sua preocupação com a “mancha preta” havia aumentado, procurou um dermatologista. Em seguida, recebeu a confirmação de que estava com câncer. “Lembro como se fosse hoje. Na primeira consulta o médico já me disse que não era uma coisa simples.
Na hora foi um choque, achei que ia morrer. Tenho dois filhos que, na época, estava com 18 e 26 anos, além do meu marido e, se não fossem eles, não estaria mais aqui”, desabafa. Durante o período do tratamento, Clarice costumava trancar a casa e chorar muito. Tratava de se recompor na frente da família e em dias de viagem a Lajeado, onde era atendida. A autoestima somente se elevou, um pouco, quando ela saiu da sala de cirurgia do Hospital de Estrela, já sem a “mancha preta” no braço.
Dali em diante, passou a realizar consultas bimestrais, paralelamente à colocação de enxerto no local de onde os médicos extraíram o melanoma. Depois, os atendimentos foram trimestrais, semestrais e, atualmente, ela passa por exames uma vez por ano. Embora seja considerada uma paciente curada do câncer (a recomendação é de cuidados rigorosos até cinco anos depois do diagnóstico de cura), não pretende descuidar da prevenção. “Tivemos um caso de uma garota de 18 anos que frequentava o grupo e que, supostamente, estava livre do câncer. De um dia para o outro ela teve uma complicação e veio a falecer. Quero seguir a minha rotina de exames e participação nos encontros, pois trabalhar a questão psicológica é sempre importante”, comenta a aposentada, que tem outra coisa em comum com Daniela Graef: perdeu um familiar para o câncer, o irmão Flávio Kist, aos 56 anos.
Liga atende atualmente 180 pacientes
Reconhecida pela atuação na comunidade venâncio-airense, a Liga Feminina de Combate ao Câncer (LFCC) assegura atendimento, hoje, a 180 pacientes. Do total, 42 são mulheres vítimas de câncer de mama. Pessoas cuja doença atinge o esôfago e a pele estão na sequência das estatísticas, com 15 casos de cada especificidade. útero (14), próstata (12), linfoma (10) e pulmão (10) completam a lista dos casos mais comuns. Os pacientes atendidos pela entidade – 113 mulheres, 65 homens e duas crianças – são carentes e estão sob os cuidados de uma equipe que conta com uma nutricionista, duas fisioterapeutas e duas psicólogas, além, é claro, das voluntárias engajadas à causa.
Até o próximo dia 13, a LFCC, em parceria com a Prefeitura Municipal e demais apoiadores, estará à frente da 1ª Semana Municipal de Combate ao Câncer, uma proposta da vereadora Helena da Rosa (PMDB) que foi aprovada por unanimidade pelo Legislativo Municipal e assegura a promoção todos os anos, sempre na época do Dia Mundial de Combate ao Câncer. Para a presidente da Liga, Magda Inês Palaoro Buttini, a semana municipal é mais uma oportunidade para a divulgação da importância da conscientização acerca da necessidade constante de prevenção. “Temos um período forte, que é o Outubro Rosa, e esta nova data proporciona um reforço de trabalho, especialmente porque conseguimos parceiros que estão nos dando um suporte importante relativo à divulgação”, aponta.
Ontem, depois de participar da atividade denominada de “Arrastão” – que consiste no corpo a corpo nas ruas centrais da cidade, bem como nos estabelecimentos comerciais das imediações -, Magda fez uma breve avaliação do tempo em que está no comando da entidade. “Fui convidada para trabalhar na área social, depois me envolvi mais e acabei assumindo a presidência. Estou muito satisfeita porque conseguimos evoluir na prevenção e também porque nos tornamos agilizadoras de trâmites que o Governo do Estado, custeador de tratamentos, não consegue dar celeridade”, disse ela.